Caros leitores, a Copa da Rússia está aí e, para quem ama futebol, uma grande desconfiança se instala aqui. É fato que todo brasileiro está com um pé – ou os dois – atrás por conta de três carmas já vividos por nós: a final da Copa de 50, levada pelos uruguaios em pleno Maracanã, que ganhou a alcunha de “Maracanaço”; a incrível seleção que caiu em Sarriá, em 1982, na Espanha; e a recente, muito recente, de 2014, a dos 7 a 1 dos alemães aqui em casa, no Mineirão, que poderia muito bem se chamar de “Mineiraço”. Este último, sem dúvida alguma, doeu mais – ainda está doendo e, diga-se, não se apagará da história do futebol mundial, para nosso vexame maior.

Pois bem, a Copa de 2018 aí está, e quais os prognósticos da seleção canarinho para este mundial na morada do frio, como se diz desde o século XIX, com a campanha de Napoleão Bonaparte, e corroborado, no século XX, pelos nazistas alemães na Segunda Guerra Mundial?

Se a seleção de 2014 estava totalmente centrada na arte de Neymar Jr., o que dizer sobre a atual, em que apenas dois ou três jogadores atuam no futebol brasileiro? Valerá a pena acompanhar todos os jogos na TV (ou internet), como costumava acontecer nas Copas anteriores? Bem, alguns o farão por obrigação – os jornalistas, as casas de apostas inglesas, torcedores ocasionais, etc.

Na verdade, o que todos nós, brasileiros, esperamos é que a seleção saia da competição de cabeça erguida e que os 7 a 1 já comecem a ser coisa do passado. E que passado! O Brasil é o único pentacampeão, é o país que participou de todas as edições da Copa e o que mais vezes disputou uma final. Pois bem, está na hora de Neymar, com a fortuna que amealhou, desencantar de vez e ser a grande estrela de um torneio que terá ainda Cristiano Ronaldo na ponta dos cascos e Messi, verdadeiramente uma estrela maior, mas que ainda não conseguiu trazer o ambicionado troféu para os hermanos.

Este dossiê sobre o futebol e as Copas do Mundo, diga-se, é um projeto do historiador e diretor do Ludens/USP, Flavio de Campos, a quem muito agradecemos pelo excelente resultado aqui obtido. Ao leitor, otimista ou cético, recomendamos que confira todo o projeto desta edição nos itens a seguir.

Francisco Costa

Apresentação

Este dossiê oferece seis artigos sobre futebol. Três deles, os de Gunter Gebauer, Silvana Goellner e Cláudia Kessler e Rafael Bayce, foram apresentados no 2o Simpósio Internacional de Estudos sobre Futebol, entre 13 e 16 de maio de 2014. Os três demais foram solicitados especialmente para o número desta revista.

A intenção foi articular o futebol a temas candentes de nosso tempo: a frequente e questionável oposição entre futebol-arte e futebol-força, que embala debates acalorados e análises intermináveis; as projeções e distorções acerca do futebol em tempos de Guerra Fria e as impressões que se lançavam sobre a antiga URSS; os passos e impasses do futebol feminino no Brasil e a questão das relações de gênero em um país com altíssimos índices de feminicídios e violência contra as mulheres; a forte presença de seleções periféricas provenientes da África e/ou de Estados de maioria muçulmana na Copa da Rússia de 2018, em um contexto no qual a islamofobia avança cotidianamente; as recorrentes discussões acerca das rivalidades futebolísticas envolvendo Brasil, Argentina e Uruguai; as dimensões das crises da Fifa e da CBF e suas vinculações à política brasileira. Leia mais