Revista USP – Número 140 – janeiro/fevereiro/março 2024
Editora: SCS/USP
Idioma: Português
Confira abaixo os artigos deste número e dos anteriores.
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Quem nunca se deixou seduzir pela inventividade da ficção científica? Ou se emaranhou nos ardis e reviravoltas de um enredo policial? Ou sentiu o estômago gelar numa cena de terror, de mistério? De Júlio Verne a Ray Bradbury, de Georges Simenon a Dashiell Hammett, de Edgar Allan Poe a Stephen King, a lista é imensa e inclui bem mais do que simplesmente aquilo que a estreiteza do adjetivo “comercial” pode abrigar. Pois este dossiê da Revista USP é uma homenagem a esses gêneros (e autores) todos, a um tipo de literatura que desde sempre tem proporcionado prazer e alegria a milhares de leitores mundo afora.
E é um número especial por diversos aspectos, a começar pela capa. Ela foi elaborada a partir de ilustrações do brasileiro Henrique Alvim Correa para a edição belga, de 1906, de A guerra dos mundos. Segundo consta, o próprio H. G. Wells se encantou com o trabalho do artista carioca. São de fato desenhos belíssimos.
Outro motivo de satisfação para nós é o dossiê ter sido coordenado por Jean Pierre Chauvin, amigo desta casa, e que há muito se dedica ao tema, lecionando na ECA-USP os cursos Romance Distópico e Romance Policial de Agatha Christie, ou seja, criando na universidade um espaço de discussão sobre uma produção literária que sempre se manteve fora dos radares acadêmicos. Ele soube montar um time original de especialistas no assunto, pois muitos deles (como ele próprio) também são autores do gênero a que se dedicam como pesquisadores. E isso, como o leitor verá, confere um charme todo particular ao dossiê.
Aqui a literatura de entretenimento é levada a sério. Como tem de ser. Afinal, como bem lembrou Isaac Bashevis Singer ao receber o Nobel de Literatura, nenhum escritor pode perder de vista sua função essencial de ser um entertainer do espírito. Em suas palavras, que tomo a liberdade de transcrever aqui, “não há um paraíso para leitores aborrecidos e nenhuma desculpa para uma literatura tediosa que não intrigue o leitor, lhe dê a alegria e a fuga que a verdadeira arte sempre oferece”. Portanto, boa diversão!
Jurandir Renovato
A exemplo do que sucedeu em outras oportunidades, este dossiê resultou do produtivo diálogo com o editor da Revista USP, Jurandir Renovato. Desde o início, a ideia fora reunir ensaios de caráter introdutório sobre as modalidades e temas encontrados na prosa dita “comercial”, que circula entre nós.
Os artigos oferecem ótimas sínteses. Foram produzidos por escritores e estudiosos competentes que tencionam soar didáticos – ou seja, claros e objetivos – sem perder de vista a densidade que as matérias merecem. Trata-se de contribuições efetivas estendidas a novos leitores e a pesquisadores que já investigam esses gêneros e temas literários.
Sou muito grato a Caio Alexandre Bezarias, Cleber Vinícius do Amaral Felipe, Oscar Nestarez, Ricardo Iannace, Romy Schinzare, Sandra Reimão e Sandra Trabucco Valenzuela pela seriedade e rigor com que prepararam os artigos. Agradeço em particular a Jurandir Renovato pela oportunidade de somarmos vozes na discussão em torno do que se convencionou chamar de “literatura(s) de massa”.
Jean Pierre Chauvin
Este texto está dividido em duas partes: na parte I abordamos as origens e as características do gênero policial e na parte II, a literatura policial escrita por brasileiros. Em cada uma dessas partes há três subdivisões, assim organizadas: Edgar Allan Poe e o nascimento do gênero policial; Sherlock Holmes, de Conan Doyle, e Hercule Poirot, de Agatha Christie; Sobre o policial noir (parte I); Em torno do detetive brasileiro; Brasil: sobre crimes e culpas; A expansão da literatura policial brasileira no século XXI (parte II).
Palavras-chave: gênero policial; policial noir; literatura policial brasileira.
This paper is divided into two parts: in part I we address the origins and characteristics of the detective fiction literature and in part II we address detective fiction literature written by Brazilians. In each of these parts, there are three subdivisions organized as follows: Edgar Allan Poe and the birth of the detective genre; Conan Doyle’s Sherlock Holmes and Agatha Christie’s Hercule Poirot; On the detective fiction noir (part I); Around the Brazilian detective; Brazil: on crime and guilt; The expansion of Brazilian detective fiction literature in the XXIst century (part II).
Keywords: detective genre; detective fiction noir; Brazilian detective fiction literature.
Neste artigo, discutem-se algumas dentre as principais características da distopia literária. O objetivo inicial é mostrar que as narrativas desse gênero não estão necessariamente subordinadas à ficção científica. Para ilustrar as especificidades da distopia, recorre-se a obras estrangeiras publicadas a partir da década de 1920 e àquelas publicadas a partir dos anos de 1960, no Brasil.
Palavras-chave: distopia; literatura estrangeira; literatura brasileira; crítica literária.
We intend to discuss some characteristics concerning the dystopian literature in this article. The initial purpose is to show that dystopic narratives are not necessarily subordinated to the science fiction. In way to illustrate specificities of this literary gender, we quote foreigners works published in the 1920’s, and Brazilian narratives, edited since the 1960’s.
Keywords: dystopia; foreigner literature; Brazilian literature; literary criticism.
Este texto está dividido em duas partes: na Parte I, abordamos as origens da ficção científica e seu contexto histórico internacional e nacional, e na Parte II, as obras consideradas relevantes para o gênero nos cenários internacional e nacional, seus temas e subgêneros. Em cada uma dessas partes, existem subdivisões organizadas da seguinte forma: Ficção científica: um novo gênero literário; Contexto histórico do surgimento da ficção científica; Ficção científica no Brasil (Parte I); Cenário internacional; Cenário nacional; Temas e subgêneros da ficção científica (Parte II).
Palavras-chave: ficção científica; ficção científica no Brasil.
This text is divided into two parts: in Part I we address the origins of science fiction and its international and national historical context, and in Part II we address the works considered relevant to the genre in the international and national scenarios, its themes and subgenres. In each of these parts, there are subdivisions organized as follows: Science fiction: a new literary genre; Historical context of the emergence of science fiction; Science fiction in Brazil (Part I); Works considered relevant on the international scene; Works considered relevant on the national scene; Science fiction themes and subgenres (Part II).
Keywords: science fiction; science fiction in Brazil.
O presente texto pretende esquadrinhar a expressão literária do gótico a partir de suas origens, no século XVIII, tendo em vista duas perspectivas: o fenômeno histórico, cultural e artístico que, a partir daquele momento e ao longo do século seguinte, transbordou das letras para outras áreas de conhecimento; e o gótico como poética, a qual, após o esgotamento de fórmulas e temas estabelecidos ao longo do período mencionado, passou a fornecer a moldura narrativa ideal para histórias ancoradas no medo e no pessimismo – emoções que inevitavelmente resultam da experiência humana neste mundo.
Palavras-chave: gótico; literatura gótica; medo; pessimismo.
This text intends to examine the literary expression of Gothic from its origins in the 18th century, taking into account two perspectives: the historical, cultural and artistic phenomenon that, from that moment on and throughout the following century, overflowed from fiction to other areas; and Gothic as a specific poetics, which, after the exhaustion of formulas and themes established throughout the aforementioned period, began to provide the ideal framework for narratives anchored in fear and pessimism – emotions that inevitably result from the human experience in this world.
Keywords: Gothic; gothic literature; fear; pessimism.
O artigo intenta esmiuçar a origem, características, principais divisões ou subgêneros e a pertinência do horror nas artes, principalmente na literatura. Ainda busca distinguir horror das noções de medo e terror, uma vez que frequentemente os três conceitos são confundidos entre si, portanto, essa é uma demarcação difícil e até mesmo polêmica. Para tanto, conceitos de psicanálise, teoria literária, mitologia, história e até biologia são mobilizados, para assim desvendar a imensa penetração e o intenso fascínio que este gênero fantástico exerce no imaginário desde épocas muito recuadas, e também buscar compreender sua posição na cultura da modernidade desde a sua afirmação nesta, no segundo quartel do século XVIII.
Palavras-chave: horror; medo; terror; literatura; mitologia.
The article intends to scrutinize the origin, distinctive characteristics, main divisions or subgenres and the relevance of horror in the arts, mainly in literature. It intends, too, to distinguish horror from the concepts of fear and terror, since the three ideas are frequently and almost universally confused with each other, so this is a difficult and even controversial delimitation. To this end, concepts from psychoanalysis, literary theory, mythology, history and even biology are mobilized and related, in order to reveal the immense penetration and intense fascination that this fantastic genre exercises in the imagination of so many cultures since ancient times, and also seeks to understand its position in the culture of modernity since its affirmation, in the second quarter of the 18th century.
Keywords: horror; fear; terror; literature; mythology.
O artigo analisa a obra A lenda da meia-noite (1874) e a maneira como o letrado português Manuel Pinheiro Chagas recorreu à técnica da moldura com o propósito de parodiar tópicas e dispositivos do gênero gótico.
Palavras-chave: Pinheiro Chagas; moldura; gênero gótico.
This article analyzes the work A lenda da meia-noite (1874) and the way in which the Portuguese scholar Manuel Pinheiro Chagas used the frame technique with the purpose of parodying topics and devices of the Gothic genre.
Keywords: Pinheiro Chagas; frame; Gothic genre.
Este breviário incursiona por narrativas de matriz insólita nas quais residem dominantes do fantástico. Para tanto, a visita a contos da tradição do surpreendente, a exemplo de “O homem da areia” e “Casa tomada”, vem possibilitar a identificação de elementos e aspectos estruturais dessa linhagem de intrigas, visando – por meio de recortes específicos – à aliança com ensaios que, há décadas, têm asseverado sobre essa ficção atada ao fenômeno do duplo, à recepção hesitante, ao homem imerso em caleidoscópio de incertezas.
Palavras-chave: fantástico; insólito; realismo maravilhoso; duplo; absurdo.
This breviary explores unusual narratives in which they have dominant characteristics of the fantastic. To this end, tales from the surprising tradition are revisited, such as “The sandman” and “House taken over”. The objective is to recognize elements and structural aspects of this lineage of intrigues, aiming at the articulation – through specific excerpts – with essays that, for decades, have investigated this fiction linked to the phenomenon of the double, to the hesitant reception, to the man immersed in a kaleidoscope of uncertainties.
Keywords: fantastic; unusual events; wonderful realism; double; absurd.
O presente artigo estuda o conto de fadas, partindo da análise sobre o conto maravilhoso com base em Todorov, para, em seguida, abordar a dimensão feérica na visão de Benjamin, Lüthi, Chiampi, Jolles, Coelho, Volobuef e Valenzuela. A investigação prossegue com a origem dos contos de fadas, identificando nas narrativas primordiais e nos mitos celtas fontes para a gestação de histórias que relatam a intervenção de seres femininos, intermediando relações entre dois mundos: o natural e o sobrenatural. Por fim, o artigo encerra-se com a reflexão a respeito do papel dos contos de fadas na contemporaneidade, com Tatar, Machado, Estés e Carter.
Palavras-chave: conto de fadas; conto maravilhoso; literatura infantil; tradição oral; fadas.
This article examines the fairy tale genre, beginning with an analysis of the marvelous tale based on Todorov’s framework, and subsequently addressing the enchanting dimension through the perspectives of Benjamin, Lüthi, Chiampi, Jolles, Coelho, Volobuef, and Valenzuela. The investigation continues by exploring the origins of fairy tales, identifying in primordial narratives and Celtic myths sources for the development of stories that depict the intervention of female beings, mediating relationships between two worlds: the natural and the supernatural. Finally, the article concludes with a reflection on the role of fairy tales in contemporary times, drawing insights from Tatar, Machado, Estés, and Carter.
Keywords: fairy tale; marvelous tale; children’s literature; oral tradition; fairies.
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