Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI)

Supercomputador do CeMEAI melhorou o processamento e a precisão de cálculos ajudando, por exemplo, no planejamento de políticas de irrigação para expansão da agricultura -

Arte sobre fotos - Divulgação /CeMEAI

Centro faz a ponte entre a matemática do mundo das ideias e sua aplicação concreta

Com sede em São Carlos, o Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) atua como um centro de pesquisa que difunde o uso das ciências matemáticas como um recurso industrial

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15/10/2019

Texto: Denis Pacheco

Você sabe o que o gerenciamento de tráfego rodoviário, o desenvolvimento de novos tipos de vidro, o funcionamento das bolsas de valores, a modelagem de reservatórios de petróleo do pré-sal e a tecnologia da tomografia computadorizada têm em comum? Todos podem ser compreendidos e aprimorados pela matemática. Mais especificamente, pela vertente conhecida como matemática aplicada.

Em São Carlos, no Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, o Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI) volta sua atenção para as mais diferentes áreas que podem ser auxiliadas pelo conhecimento matemático.

Desde 2011, o CeMEAI atua como um centro de pesquisa que difunde o uso das ciências matemáticas como um recurso industrial. Partindo de um ambiente interdisciplinar, o grupo promove tanto a transferência de tecnologia, quanto a educação e difusão do conhecimento para as aplicações industriais e governamentais.

Mas educar sobre o lado aplicado de uma ciência como a matemática nem sempre é um trabalho fácil. Para o coordenador do centro, o professor José Alberto Cuminato, é preciso reforçar que a área não deve existir apenas na academia. “Se você olha para a física, por exemplo, ela tem sua parte acadêmica, mas tem a parte que se relaciona com o mundo. A matemática sofre porque a maioria dos brasileiros acredita que ela seja muito árida, algo que existe apenas do ponto de vista intelectual, e isso não é verdade”, pontua.

De acordo com o professor, a matemática é baseada em três premissas: a pesquisa, a educação e as aplicações. “Em física e química essas três pernas são evidentes para leigos. Na matemática, isso não é tão evidente”. Para Cuminato, isso explica por que no Brasil a área seja menos difundida. “Temos problemas de educação com professores nos níveis básicos, mas (além disso) a relação com o setor produtivo é mais fraca no nosso meio.”

Uma das áreas de estudo em andamento no CeMEAI, coordenada pelo pesquisador Tiago Pereira, trata das possíveis
formas de controle de epidemias causadas por doenças contagiosas

Arte sobre foto de Denise Cassati/ICMC e imagens do CeMEAI

Teoria abstrata e resultados práticos

A matemática aplicada é uma área que, como o próprio nome pressupõe, trata da aplicação do conhecimento matemático a outros domínios. Embora ela tenha sido originalmente associada às ciências naturais e à engenharia, desde a Segunda Guerra Mundial ela tem aparecido em campos tão diversos quanto a sociologia e a neurociência.

Quando foi concebido, o CeMEAI tinha como missão fornecer recursos e mecanismos para conectar cientistas, engenheiros, matemáticos e especialistas em computação, a fim de enfrentar os atuais desafios científicos e tecnológicos. A ideia era também formar profissionais de alto nível e desenvolver novas técnicas que poderiam ser exploradas em benefício da sociedade.

Criado formalmente como um Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP), o CeMEAI evoluiu de um grupo que começou reunindo professores da USP, em São Carlos, para um centro interdisciplinar que aglomera pesquisadores de diversas outras universidades, como a Unicamp, a Unesp e a UFSCar.

Em 2013, o grupo se tornou parte da rede de Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), apoiados pela Fapesp. Para o professor, a parceria foi essencial para o crescimento do CeMEAI. Foi a partir desse aporte que os pesquisadores puderam de fato começar a trabalhar conjuntamente com grandes instituições como a Petrobras, a FGV, a Companhia Paranaense de Energia, entre diversas outras.

“Temos vários docentes atuando em projetos que promovem a interação com a indústria”, explica ele ao exemplificar que, no futuro, essa interação será cada vez mais necessária em áreas como a Inteligência Artificial.

Mas o que as ciências matemáticas têm a ver com a Inteligência Artificial?

“Tomamos sempre o cuidado de chamar o centro de: ciências matemáticas, porque as ciências matemáticas incluem a estatística e a computação, então essa é uma área intrinsecamente interdisciplinar”, revela o professor, lembrando que “hoje, a Inteligência Artificial é muito requisitada pela indústria e precisamos ter pessoas especializadas atuando nisso”, pontua. Reunindo o conhecimento de matemática, estatística e computação, o professor explica que o CeMEAI é o lugar ideal para se estudar assuntos como a Inteligência Artificial, que nada mais é do que um consórcio dessas três áreas.

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José Alberto Cuminato, coordenador do Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI)

Foto: Divulgação / CeMEAI

Pesquisa, aplicação e extensão

“Hoje, nós temos muito mais gente trabalhando em atividades de colaboração fora da Universidade. Além de realizar uma série de pesquisas, nos relacionamos com empresas e fazemos workshops, por exemplo”, enumera o coordenador. Além disso, o centro também atua fazendo difusão do conhecimento, educando sobre o campo da matemática aplicada.

“No campo da educação, em São Carlos, nós participamos em uma iniciativa, conjunta com os demais Cepids, de ajudar as escolas públicas da cidade a melhorar o ensino de ciências em geral”, conta Cuminato ao listar as diversas atividades, que incluem seminários para o grande público, eventos que levam a robótica aos estudantes e até mesmo olimpíadas matemáticas.

Com cerca de 30 pesquisadores principais, o CeMEAI oferece também um programa de mestrado profissional que tem como critério de seleção aceitar alunos que tenham trabalhado na indústria nos últimos dois anos.

“A ideia é atrair o pessoal da indústria e colocá-los em contato com novas ideias sobre, por exemplo, machine learning. Se a gente tiver uma indústria com mais mestres e doutores, a relação com as universidades vai melhorar”, afirma ele.

Se você olha para a física, por exemplo, ela tem sua parte acadêmica, mas tem a parte que se relaciona com o mundo. A matemática sofre porque a maioria dos brasileiros acredita que ela seja muito árida, algo que existe apenas do ponto de vista intelectual, e isso não é verdade

José Alberto Cuminato, coordenador do CeMEAI

Contratos privados e apoio público

Quando foram lançados, os Cepids tinham como objetivo prover um financiamento de 11 anos para os respectivos centros de pesquisa. A ideia era que, após o período, cada centro conquistasse autonomia financeira suficiente para existir de forma independente.

Para o professor, embora o CeMEAI tenha firmado grandes parcerias que envolvem contrapartidas financeiras consideráveis, o trabalho com organizações como a Fapesp irá permanecer crucial.

“Temos dois projetos da Petrobras já em vigência que nos trazem quase 10 milhões de reais em contingência”, lembra ele ao esclarecer que, ainda assim, acredita que apoio seja necessário. “Temos a premissa de cumprir a promessa, mas acredito que esse apoio sempre vai ser necessário”, afirma Cuminato, e cita instituições similares em países europeus, como a Alemanha, que apesar de serem independentes em sua gestão, também recebem apoio público.

Apesar disso, para o professor, o objetivo principal é “ganhar a confiança do outro lado”, o da indústria, para que grandes projetos continuem fazendo parte da rotina do CeMEAI. Nos próximos anos, o professor anuncia que novos contratos serão assinados, tanto com empresas já parceiras, como a Petrobras, quanto com novas organizações, em áreas que envolvem ciência de dados e Inteligência Artificial.

“Existe uma distância enorme a ser percorrida pelas ciências matemáticas e suas aplicações na formação de um corpo de conhecimento que tenha uma relação produtiva com a sociedade. Essa distância oferece uma oportunidade única para o desenvolvimento das ciências matemáticas no Brasil, que poderia ser liderada pela USP, com boa chance de dar certo”. O Cepid-CeMEAI é uma tentativa, defende o professor.

Mais informações: site http://www.cemeai.icmc.usp.br

Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria (CeMEAI)

Coordenação: José Alberto Cuminato
Localização: Avenida Trabalhador São Carlense, 400 
Centro – São Carlos/SP – 13566-590
Contato: contatocemeai@icmc.usp.br
Site: www.cemeai.icmc.usp.br

Reportagem: Denis Pacheco
Arte: Thais H. Santos

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