Revista USP – Número 121 – abril/maio/junho 2019
Editora: SCS/USP
Idioma: Português
Confira abaixo os artigos deste número e dos anteriores.
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Quando foi lançado, em 1989, A sátira e o engenho: Gregório de Matos e a Bahia do século XVII, de João Adolfo Hansen, o livro tornou-se imediatamente uma referência nos estudos das letras coloniais brasileiras. Nele, o autor estabelecia novos caminhos para a crítica literária feita no país, ao analisar as obras do período colonial a partir das práticas artísticas em que essas obras foram produzidas. Assim, ao rejeitar rótulos como “transgressão”, “originalidade” e mesmo o de “barroco”, tidos pelo autor como anacrônicos e provenientes de leituras posteriores, sejam românticas, antropofágicas e até tropicalistas (vide a versão de “Triste Bahia”, de Caetano Veloso), e reivindicar interpretações que levassem em conta os critérios intrínsecos de sua época e estilo, Hansen abria espaço para uma vasta área de estudos analíticos, tais como estes que a Revista USP ora apresenta em seu número 121.
São cinco textos que compõem o dossiê Artes & Letras. Ele foi idealizado e organizado pelos professores Jean Pierre Chauvin, da Escola de Comunicações e Artes da USP, Marcelo Lachat, da Universidade Federal de São Paulo, e Maria do Socorro Fernandes de Carvalho, também da Unifesp. A eles, portanto, nossos agradecimentos. Além das contribuições de seus organizadores, o dossiê traz ainda um artigo de Marcus De Martini, da Universidade Federal de Santa Maria, e um texto inédito do próprio João Adolfo Hansen, sobre arte sacra colonial.
Na seção Arte o destaque é Cézanne. O mesmo Cézanne que, em 2012, inaugurava a seção, agora retorna em ensaio de Marcos Fabris. A perspectiva, no entanto, é outra. Se naquele primeiro momento o mestre do pós-impressionismo e um dos pais da pintura moderna era abordado a partir de seu processo de criação, inclusive com belas imagens de seu ateliê em Aix-en-Provence, no sul da França, nesta edição a visada recai sobre a recepção de sua obra no Brasil, no modo como a exposição de seus quadros, de volta aos cavaletes de cristal concebidos por Lina Bo Bardi, no Masp, influenciaram (e continuam influenciando) a assimilação de seu fabuloso universo estético pelo público brasileiro.
Boa leitura!
Jurandir Renovato
Em 2019 completam-se 30 anos da publicação de A sátira e o engenho: Gregório de Matos e a Bahia do século XVII, de João Adolfo Hansen – livro resultante de sua tese de doutorado, concluída em 20 de dezembro de 1988, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
Obra seminal para os estudos sobre as chamadas “letras coloniais”, produzidas no universo luso-brasileiro, o trabalho de Hansen reorientou as pesquisas em torno do que se convencionou chamar literatura do/no Brasil, antes mesmo que o termo (“literatura”) circulasse deste modo e com a acepção que lhe conferimos hoje.
Neste número da Revista USP, publica-se um texto inédito de João Adolfo Hansen, acompanhado por reflexões de pesquisadores da Unifesp, da UFSM e da USP, que pretendem dar continuidade aos trabalhos pioneiros do professor, que mostraram e compreenderam “ruínas” letradas esquecidas, em tempos de modernidades literárias.
Somos muito gratos à equipe da Revista USP pela acolhida e franco incentivo, decisivos para que o presente dossiê ganhasse forma. A nosso ver, trata-se de justa homenagem ao mestre e uma maneira de estimular novos estudos em torno dos conteúdos, discursos e gêneros produzidos nas partes do Brasil, quando o território ainda não tinha a configuração que se lhe atribuiu a partir do século XIX.
Jean Pierre Chauvin
Marcelo Lachat
Maria do Socorro Fernandes de Carvalho
Nesta exposição, abordam-se preceitos da produção de artes sacras na América portuguesa entre os séculos XVI e XVIII. O texto especifica determinações teológico-políticas e retóricas com que a Igreja Católica orientou a produção das artes sacras, adequando-as a seu combate contra Maquiavel, Lutero, Calvino, o Islã, a Torá e ao controle de colonos, negros e índios.
Palavras-chave: arte sacra; teologia política; retórica; período colonial.
Este texto propõe uma reflexão sobre alguns aspectos das edições contemporâneas de textos seiscentistas. A partir da publicação dos livros elaborados pelos professores João Adolfo Hansen e Marcello Moreira, aborda-se a demanda por acuidade filológica e o exercício da historicidade no trato de textos escritos no século XVII, especialmente aqueles que circularam na manuscritura. Este texto, portanto, incide sobre questões concernentes à edição de poesia, referindo aspectos do domínio da história do livro e da cultura escrita, da historiografia da literatura nacional, de retórica e poética, enfrentando o recortado sincrônico que os processos de continuidade e descontinuidade imprimem aos modelos e imitações poéticas.
Palavras-chave: Gregório de Matos; literatura; retórica.
Este trabalho consiste em uma discussão acerca das noções de “letras” e de “literatura”, construídas historicamente sobre continuidades letradas e descontinuidades literárias. Pretende-se, assim, compreender melhor as especificidades das práticas letradas dos séculos XVI, XVII e XVIII em Portugal e na América portuguesa, a fim de que esses textos não sejam lidos fora do tempo ou apenas a partir de uma única concepção temporal: a da modernidade literária com seus anseios de ruptura.
Palavras-chave: letras; literatura; continuidades; descontinuidades.
Durante o final do século XIX, circularam diversos manuais de cunho pragmático no Brasil. Concebidos como obras a orientar práticas profissionais, elas também poderiam ser lidas à luz de determinados preceitos retóricos, que se supunham extintos com o advento do Romantismo. Neste trabalho, examina-se o Novo manual epistolar ou Arte de escrever, de Machado Coelho, publicado em 1882.
Palavras-chave: Oitocentos; Arte de escrever; retórica.
Neste artigo, discute-se a posição lateral das letras coloniais, no âmbito das escolas e universidades, atrelada ao questionamento do papel da literatura e dos métodos de ensino. A discussão concentra-se na análise da História do Predestinado Peregrino e de seu irmão Precito, composta segundo as preceptivas retórico-poéticas, em chave teológico-política pelo jesuíta Alexandre de Gusmão, em 1682.
Palavras-chave: letras coloniais; Alexandre de Gusmão; História do Predestinado Peregrino.
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