Revista USP – Número 126 – julho/agosto/setembro 2020

Editora: SCS/USP
Idioma: Português
Confira abaixo os artigos deste número e dos anteriores.

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semiótica e cultura

Diálogos convergentes entre o Brasil e a Rússia

É praticamente impossível pensar na trajetória da Revista USP sem citar os nomes de Boris Schnaiderman (1917-2016) e Jerusa Pires Ferreira (1938-2019). Boris fez parte de seu primeiro Conselho Editorial, na década de 80, e cuja atuação, como já disse Francisco Costa, de “incansável captador de artigos”, ao lado de Decio de Almeida Prado, muito ajudou a construir o “éthos” da revista; Jerusa, por sua vez, foi uma de nossas colaboradoras mais entusiásticas, não só como autora de artigos, mas principalmente como fonte inesgotável de ideias e sugestões de pautas. Foi assim, aliás, que chegou até a redação, por volta de 2010, um pacote contendo um possível – e sempre adiado – dossiê sobre o pensador russo V. V. Ivánov (1929-2017), e que agora compõe a base deste “Semiótica e Cultura”.

Coube ao pesquisador Adriano Carvalho Araujo e Sousa e ao jornalista Gutemberg Medeiros a tarefa de dar continuidade ao projeto de Jerusa, de alguma maneira remodelando-o, sem contudo descaracterizá-lo. Não foi, evidentemente, um trabalho fácil. As atribulações do dia a dia, somadas agora às complicações derivadas desta pandemia que assola o Brasil e o mundo, criaram obstáculos que só mesmo o empenho desmedido seria capaz de superar. A eles, portanto, os nossos mais sinceros agradecimentos. O resultado desse empenho, mais do que apresentar um conjunto de textos com uma mesma temática, serve para celebrar a amizade. Uma amizade que traça uma linha imaginária, se assim podemos dizer, entre Moscou, Salvador e São Paulo.

Nestes tempos difíceis em que vivemos – cujo viés desumanizador, aliás, é muito bem analisado em artigo na seção Textos, de Jaime Ginzburg; ou que de algum modo tenta emular um passado sombrio e autoritário, como aquele abordado no excelente ensaio de Belinda Mandelbaum e Stephen Frosh, sobre os primórdios da psicanálise no Brasil, na mesma seção; ou ainda se reflete nas artes plásticas, na impossibilidade de uma Bienal nos moldes convencionais, conforme texto de Lisbeth Rebollo Gonçalves, na seção Arte –, diante disso tudo, quero crer, com o leitor, que não pode haver nada mais oportuno do que o elogio da amizade.

Jurandir Renovato

Apresentação

Mesmo um periódico de divulgação científica como é o caso da Revista USP está condicionado aos caprichos de Cronos.

O tempo até a execução pode proporcionar o inesperado e mudanças de rota. De início, seu editor, Jurandir Renovato, recebeu contribuições para homenagear V. V. Ivánov, expoente da chamada semiótica da cultura de Tártu-Moscou, a qual reúne pesquisadores dos mais variados interesses que conceberam um pensamento inovador e avesso ao establishment soviético.

Ao longo do projeto, ocorreu o passamento de Ivánov, mas também os de Boris Schnaiderman e Jerusa Pires Ferreira, ambos participantes do dossiê original que se destacaram ao promover a vertente epistêmica no Brasil. Renovato teve a sensibilidade de estender a homenagem aos professores da USP e da PUC, que tanto colaboraram desde o início da revista. Assim, ficamos honrados por editar tão rico material, pois acompanhamos de perto as produções de Jerusa e Boris nos últimos anos.

Leia mais

Adriano Carvalho Araujo e Sousa
Gutemberg Medeiros

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A partir dos encontros pessoais com V. V. Ivánov, especialmente na entrevista gravada em 2015 na UCLA, a autora desdobra neste ensaio aspectos da contribuição transdisciplinar do pensador russo ao ligar o arcaico ao futuro.

Palavras-chave: memória; linguagem; neurociência; entrevista.

From personal encounters with V. V. Ivánov, especially in the interview recorded in 2015 at UCLA, in this essay, the author unfolds aspects of the transdisciplinary contribution of the Russian thinker in linking the archaic to the future.

Keywords: memory; language; neuroscience; interview.

 

Boris Schnaiderman percorre o seu intenso relacionamento intelectual com V. V. Ivánov ao longo de 48 anos, detalhando a amplitude de sua trajetória nos mais variados campos artísticos e científicos.

Palavras-chave: memória; cultura; vanguardas; semiótica.

Boris Schnaiderman goes through his intense intellectual relationship with V. V. Ivánov over 48 years, detailing the breadth of his career in the most varied artistic and scientific fields.

Keywords: memory; culture; vanguards; semiotics.

Em tom memorialístico, o artigo descreve a visita de V. V. Ivánov ao Brasil, relatando também a diversidade de estudos do semioticista russo e as entrevistas de que participa naquele momento de trocas institucionais.

Palavras-chave: V. V. Ivánov; biografia; semiótica da cultura; semiótica russa no Brasil; teoria literária.

In a memorialist tone, the article describes V. V. Ivánov’s visit to Brazil, also reporting the diversity of studies by the Russian semiotician and the interviews in which he participates at that moment of institutional exchanges.

Keywords: V. V. Ivánov; biography; culture semiotics; Russian semiotics in Brazil; literary theory.

O artigo descreve a gura de intelectual com diversificado interesse que era Ivánov e relata aspectos da tese deste sobre a dupla cognição humana, seus dois hemisférios cerebrais assimétricos, numa analogia com manifestações mais arcaicas da cultura humana, igualmente duais e assimétricas, apontando também para questões complexas, como traduções e processamentos informacionais.

Palavras-chave: V. V. Ivánov; biografia; semiótica da cultura; cognição; neurociência.

The article describes the figure of intellectual with diversi ed interest that was Ivánov and reports aspects of his thesis on the double human cognition, his two asymmetric cerebral hemispheres, in an analogy with more archaic manifestations of human culture, equally dual and asymmetrical, also pointing to complex issues, such as translations and information processing.

Keywords: V. V. Ivánov; biography; culture semiotics; cognition; neuroscience.

Neste ensaio, André Vallias relembra momentos de sua relação pessoal/ intelectual com Jerusa Pires Ferreira no campo artístico, revelando facetas menos conhecidas da pesquisadora, inclusive reproduzindo poema da autora.

Palavras-chave: arte/pensamento; Haroldo de Campos; Gilberto Gil; Heinrich Heine.

In this essay, André Vallias recalls moments of his personal/intellectual relationship with Jerusa Pires Ferreira in the artistic field, revealing lesser-known facets of the researcher, even reproducing the author’s poem.

Keywords: art/thought; Haroldo de Campos; Gilberto Gil; Heinrich Heine.

Gutemberg Medeiros percorre momentos-chave da vida e da obra de Boris Schnaiderman ao introduzir no Brasil as arquiteturas teóricas de Mikhail Bakhtin, Roman Jakobosn e da semiótica da cultura de Tártu-Moscou, especialmente de V. V. Ivánov.

Palavras-chave: semiótica russa de Tártu-Moscou; Mikhail Bakhtin; Roman Jakobson; Jerusa Pires Ferreira.

Gutemberg Medeiros covers key moments in the life and work of Boris Schnaiderman when introducing in Brazil the theoretical architectures of Mikhail Bakhtin, Roman Jakobson, and the semiotics of Tártu-Moscow culture, especially V. V. Ivánov.

Keywords: Russian semiotics of Tártu- -Moscow; Mikhail Bakhtin; Roman Jakobson; Jerusa Pires Ferreira.

A partir do conto A história maravilhosa de Peter Schlemihl, de Adelbert von Chamisso, o autor analisa a animação L’Homme sans ombre, de Georges Schwizgebel, e seu processo de tradução de uma linguagem a outra. A perda da sombra gura como imagem arquetípica do pacto fáustico, que leva o animador a problematizar as cores em diálogo com a pintura.

Palavras-chave: Jerusa Pires Ferreira; tradução cultural; Fausto; Schlemihl; animação; arquétipo literário.

From the short story The wonderful story of Peter Schlemihl, by Adelbert von Chamisso, the author analyzes the animation L’Homme sans ombre, by Georges Schwizgebel, and its translation process from one language to another. The loss of shadow appears as an archetypal image of the Faustian pact, which leads the animator to problematize colors in dialogue with the painting.

Keywords: Jerusa Pires Ferreira; cultural translation; Faust; Schlemihl; animation; literary archetype.

Conteúdos especiais:

Revista USP é uma publicação trimestral da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP. Criada em 1989, é um veículo cultural de caráter ensaístico, o que confere maior dinamismo aos textos. Além disso, é multidisciplinar, aberta a todas as tendências. Outro fator a torna especial: a qualidade indiscutível dos colaboradores, que lhe possibilita ser um verdadeiro padrão de excelência dentro do universo cultural brasileiro.

Você terá a satisfação de ler a cada volume textos assinados pelos mais renomados autores em seu setor. Multidisciplinar e sem preconceitos, a Revista USP não privilegia esse ou aquele enfoque, esse ou aquele grupo, é aberta a todas as tendências.  

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