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Foto: Divulgação/UT Health
Você sabe o que faz um físico médico e sua importância para a área da saúde?
USP, que já oferece um curso em Ribeirão Preto, terá opção em São Paulo; são 25 vagas no período noturno
15/06/2021
Hérika Dias
Quem for prestar o vestibular da USP neste ano ou concorrer a uma das vagas que a Universidade oferece no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do Ministério da Educação terá mais uma opção de graduação: o curso de Física Médica, em São Paulo. Mas você conhece essa profissão? Para entender melhor quais são as possibilidades de carreira e como funcionará a nova graduação, conversamos com professores da USP que integram o grupo de trabalho de criação do curso.
Um dos principais locais onde encontramos físicos médicos são os hospitais e centros de saúde. Ele é um profissional fundamental no desenvolvimento de novas tecnologias para diagnóstico e terapia adequados a cada pessoa. O físico médico ainda garante a segurança e a eficácia de equipamentos de imagens, como um tomógrafo, ressonância magnética, ou a dosagem de radiação ionizante que uma pessoa em tratamento de câncer pode receber.
“O mercado para físicos médicos não acadêmicos está relacionado principalmente às áreas de radioterapia, radiodiagnóstico e proteção radiológica em geral. Tudo muito ligado à área da saúde, que sempre tem demanda de profissionais”, explica a professora Elisabeth Mateus Yoshimura, do Instituto de Física (IF) da USP, em São Paulo.
A radioterapia é um dos tratamentos para o câncer. Ela utiliza radiações ionizantes – raios X, por exemplo – para destruir um tumor ou impedir que suas células aumentem. Essas radiações não distinguem entre a célula cancerígena e a do tecido normal do paciente, por isso várias pesquisas na área de física médica buscam aprimorar a radioterapia para evitar danos às células saudáveis.
Elisabeth Mateus Yoshimura, professora do Instituto de Física da USP - Foto: Divulgação/IF
“Tem havido expansão e qualificação de clínicas de radioterapia em todo o Brasil, e os físicos especialistas nessa área, que, em geral, são egressos de cursos de física médica que fazem residência ou aprimoramento em radioterapia, são essenciais para o funcionamento de uma radioterapia”, lembra a professora do IF.
A professora Elisabeth Yoshimura fez um resumo das principais áreas do mercado para o físico médico:
Na radioterapia, o profissional faz parte de uma equipe multidisciplinar (médico oncologista, imunologista e radioterapeuta, biomédicos, tecnólogos em radiologia, enfermeiros, nutricionistas etc.) que atende o paciente, principalmente portador de um câncer, e seu papel é fundamental em garantir que a prescrição da quantidade de radiação entregue no local correto seja atendida
Na radiologia diagnóstica, há um papel dos físicos médicos na gerência dos equipamentos e seus protocolos de funcionamento, de forma a garantir que as imagens dos pacientes sejam obtidas com qualidade diagnóstica e com o mínimo necessário de radiação. Trabalham principalmente com a equipe de técnicos e tecnólogos em radiologia, engenheiros clínicos, médicos radiologistas e enfermeiros
Já na medicina nuclear, além da qualidade das imagens, a proteção radiológica do paciente, da equipe da clínica e do ambiente é tarefa do físico médico, que trabalha em conjunto com médicos nucleares, biomédicos, enfermeiros e radioquímicos
Fotos: Freepik
Empresas que desenvolvem ou comercializam equipamentos médicos hospitalares também contratam o físico médico. E para essa parte prática que o mercado de trabalho oferece, é preciso de um outro profissional: o pesquisador. Aquele que continua nas universidades e centros de pesquisa para estudar e desenvolver soluções inovadoras. A capacitação inclui fazer pós-graduação, como mestrado e doutorado.
“Existe sim uma falta de físicos médicos no mercado, e vamos formar esses profissionais. Mas temos a ideia de formarmos lideranças para pesquisas na área. Nossa preocupação é desenvolver um profissional que busque aprender continuamente. Para isso, devemos suscitar a dúvida, o desejo de pesquisar. E isso a USP faz como ninguém”, destaca Roger Chammas, vice-diretor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em São Paulo.
Ele acredita que o grande diferencial do novo curso da USP será a possibilidade de os estudantes atuarem no maior complexo hospitalar da América Latina: o Hospital das Clínicas da FMUSP. Fazem parte do complexo: Instituto Central, Instituto do Coração, Instituto da Criança, Instituto da Medicina Física e de Reabilitação, Instituto de Ortopedia e Traumatologia, Instituto de Psiquiatria, Instituto de Radiologia e o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo.
Roger Chammas, vice-diretor da Faculdade de Medicina da USP - Foto: Divulgação / IEA USP
“É um profissional que vai crescer no contexto de um complexo hospitalar que, pelo tamanho, traz muitas oportunidades. E ele também trará olhares diferentes sobre o processo de cuidado, de manutenção da saúde, diagnóstico e tratamento para podermos inovar”, disse o vice-diretor da FMUSP.
Como será a graduação em Física Médica
O curso de Bacharelado em Física Médica é oferecido em uma parceria do
Instituto de Física
e da Faculdade de Medicina
Isso significa que ele é interdisciplinar com aulas nas duas unidades e a emissão do diploma também será conjunta.
Com duração de cinco anos, ele é dividido em três módulos:
- um de formação básica em física, matemática, computação e ciências biomédicas;
- um módulo de aplicações médicas;
- e outro de estágio prático hospitalar, que poderá ser realizado, além do complexo do HC, no Hospital Universitário (HU) da USP.
A graduação foi aprovada no dia 9 de março. Na época, o diretor do IF, Manfredo Harri Tabacniks, reforçou que o curso é uma nova opção para a formação de pessoas interessadas em física que também desejam ver sua aplicação prática.
“Com o crescente uso de tecnologias avançadas na instrumentação médica, o físico médico terá importante papel no uso correto e no desenvolvimento dessas novas instrumentações médicas”
“O físico médico é físico. O comentário que costumamos fazer para os estudantes que querem seguir a carreira é: para ser um bom físico médico, primeiro precisa ser um bom físico. Uma boa parte da grade curricular que esses estudantes vão fazer a partir do ano que vem é igual à grade curricular do bacharel em física”,
explica o professor Paulo Costa, do IF.
Dos 192 créditos exigidos para finalizar o curso de Física Médica,
- 43% deles são em disciplinas no Instituto de Física,
- 34% na Faculdade de Medicina,
- 16% no Instituto de Matemática e Estatística (IME),
- e 7 % em disciplinas optativas.
O estágio é obrigatório e será supervisionado pelos professores da Medicina.
No IF, os estudantes terão aulas como
Física, Física Experimental, Física do Corpo Humano, Física Matemática, Física Quântica, Mecânica, Física das Radiações, Eletromagnetismo, entre outras.
Na FMUSP, serão disciplinas como
Introdução à Física Médica, Elementos da Anatomia e Fisiologia Humana, Estatística Médica, Informática Médica, Física do Diagnóstico por Imagem etc.
No IME, serão oferecidas:
Cálculo Diferencial e Integral, Vetores e Geometria Analítica, Introdução à Computação para Ciências Exatas e Tecnologia.
No total, são
25 vagas
no período noturno - menos o estágio - com ingresso via vestibular da USP, organizado pela Fuvest, ou Sisu.
Além dos professores Elisabeth Yoshimura, Roger Chammas e Paulo Costa, outros integrantes do grupo de trabalho que ajudaram na formulação da graduação em Física Médica são os professores Adriano Mesquita Alencar, do IF, Carlos R. R. Carvalho e Marcelo Tatiti Sapienza, da FMUSP.
Além desse novo curso que começa em 2022, em São Paulo, a USP também tem a opção da graduação em Ribeirão Preto. No interior, o Bacharelado em Física Médica é sediado na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP). Parte das disciplinas utiliza equipamentos de laboratórios de pesquisa e do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Mais informações no site da FFCLRP.