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A prática da música traz benefícios que vão além do hobby. Ela é capaz de trabalhar diversas áreas do cérebro e ativar conexões, aliviando o estresse e aumentando a concentração. Além disso, a música também pode melhorar o relacionamento entre as pessoas e, no caso de crianças, impactar no processo de ensino-aprendizagem.
Estes benefícios foram observados em uma escola estadual de Ribeirão Preto que recebe, desde o ano passado, aulas de música e reforço por meio de um projeto da USP. “Fez bem à escola, agora o relacionamento é diferente, as crianças se preocupam umas com a outras”, relata Maria Sueli de Souza Pachioni, diretora da Escola Aymar Baptista Prado.
A iniciativa é das faculdades de Odontologia (Forp) e de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) da USP em Ribeirão Preto. Realizado em duas escolas estaduais da cidade, o projeto começou em 2016 e já beneficiou quase 500 alunos. São aulas de flauta, musicalização e piano para pequenos grupos de crianças. Já o coral tem mais de 50 crianças participando, com idades entre 6 e 14 anos. Além da música, também é oferecido auxílio com jogos, como forma de reforço na alfabetização das crianças com dificuldade no aprendizado. É no canto coral que a diretora enxerga os maiores benefícios.
O ambiente ficou mais tranquilo, trouxe paz. As crianças aprenderam a respeitar o momento do outro, como acontece no coral, quando um tem que parar de cantar para o outro iniciar. Isso eles levam para o dia a dia.
Uma das responsáveis pelo projeto, a professora Raquel Gerlach, da Forp, conta que o trabalho começou tímido, mas foi ganhando forma ao longo do tempo. “A ideia surgiu quando desenvolvemos na Escola Aymar o projeto ‘Ciências: começando pela boca!’. Interagimos com as professoras e tentamos ajudar nos processos, com jogos e, a partir daí, surgiu a música, o meio mais efetivo de auxiliar indiretamente na melhoria das condições individuais das crianças para a aprendizagem.”
As aulas contam com apoio da Universidade, que oferece seis bolsas por meio do Projeto Unificado de Bolsas (PUB), além de voluntários. “O principal objetivo é aproximar os universitários da realidade das escolas públicas e valorizar o trabalho feito pelos professores. Muitas vezes os bolsistas e os voluntários relatam que a simples atuação deles são motivadores para as crianças e as deixam mais confiantes”, conta Raquel.
Outra responsável pela iniciativa, a professora Fátima Graça Monteiro Courvisier, do Departamento de Música da FFCLRP, descreve a satisfação de ter os alunos engajados nas atividades. “Minha satisfação em atuar neste projeto é enorme, mas ainda maior é o meu compromisso com meus orientandos. A formação dos meus alunos significa tudo para mim. Eles devem ensinar as crianças sem perder o prazer de fazer música.”
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Fazer a diferença
Veridiana de Oliveira Mantovani, aluna da Forp e bolsista do projeto, colabora com jogos no reforço sobre assuntos sugeridos pelos professores e conta que só vê gratidão na oportunidade de estar engajada nas atividades. “Já me senti várias vezes incapaz por não poder solucionar todos os problemas das crianças, mas o projeto me ensinou que, por menores que sejam as ações, a mudança está acontecendo e, em algum momento, fará a diferença na vida delas. Percebi que estava mais madura quando, apesar do cansaço e inúmeros afazeres da faculdade, não deixei de ir à escola, pois sabia que as crianças esperavam por aquele momento.”
Os bolsistas Nathália Baroni, estudante de Física Médica da FFCLRP, e Rodolfo Maestrello Zerbato, da Forp, dão reforço na alfabetização dos alunos. Segundo eles, o interesse em fazer parte das aulas veio por conta do contato direto com as crianças e a oportunidade de “poder ajudar a melhorar o ensino e a aprendizagem e fazer a diferença desde o ensino fundamental”.
Paula Elaine Sgobbi, estudante de música da FFCLRP e também bolsista, dá aulas de canto coral no projeto e se emociona ao falar do momento especial ao trabalhar com as crianças. “É apaixonante deixar uma semente boa na vida delas.”