Foto: NEU/USP

Será que você é empreendedor? Ações de alunos e da USP te ajudam a descobrir

Empreendedores individuais e startups: conheça experiência de alunos e saiba como é possível empreender desde a graduação

22/07/2021

Tabita Said

Vitor Oliveira Lima é o Mano do Cell, aluno da Escola Politécnica (Poli) da USP, em São Paulo, no curso de Engenharia Elétrica. Apesar de ter sido bolsista de iniciação científica, Vitor precisou encontrar uma solução adicional para auxiliar a família financeiramente no início da pandemia, quando seu pai, prestes a se aposentar, perdeu o emprego. 

O incentivo dos colegas de curso não apenas o inspirou a ingressar no mundo prático da manutenção técnica de aparelhos eletrônicos, como também o possibilitou a começar o trabalho, de fato. Após uma enquete, mais de 600 estudantes escolheram o nome do novo negócio do Vitor: a assistência técnica Mano do Cell. A princípio, Vitor trabalharia apenas com celulares. 

“Por mais que seja uma forma de empreender, a assistência técnica é um negócio concorrido. Então, procurei diversificar a base de materiais com que eu trabalho, recebendo também computadores, notebooks, videogames e tablets. Ainda não consegui um volume suficiente para sobreviver apenas disso, mas o trabalho abriu outra porta para um estágio no projeto Inspire!”, conta o aluno que agora integra o grupo de pesquisadores responsáveis pela produção do respirador pulmonar de baixo custo, criado e desenvolvido pela Poli.
Com o nome escolhido, ainda faltava grana para estruturar seu negócio.
O investimento inicial veio de uma vaquinha feita pelos estudantes do Centro de Engenharia Elétrica e de Computação (CEE).

Vitor Oliveira Lima, estudante da Poli - Foto: reprodução

Daniela Calfat, estudante da Poli - Foto: reprodução.

“O pessoal que participa do CA sempre foi muito unido e sabíamos da vulnerabilidade dele, inclusive da distância que enfrentava para sair de casa e chegar até a faculdade. Ele decidiu que usaria seus conhecimentos e nós o apoiamos”, conta Daniela Calfat Maldaun Duarte, presidente do CEE.

Assim como Vitor, Daniela é aluna de Engenharia Elétrica e encontrou na venda de bolos a possibilidade de se manter financeiramente nos últimos três anos. Depois de perder o pai, deixou o Vale do Paraíba e veio viver com os avós em São Paulo. Para ela, o processo de empreender se deu menos por incentivo e mais por necessidade.

“Como mulher, sou minoria na engenharia. A USP está mais diversa e isso é ótimo, mas ainda encontramos dificuldades de encontrar nosso espaço, de sermos ouvidas.”

 Atualmente no terceiro ano do curso, Daniela deve deixar a aptidão culinária de lado a partir do segundo semestre, quando começará a estagiar em sua área de formação. Ela conta com orgulho que a venda de bolos possibilitou a compra de seu notebook e o aluguel do apartamento onde mora com amigos.  

Ayo e as Formiguinhas traz uma narrativa educativa, divertida e resgata o senso de pertencimento identitário ao apresentar personagens parecidos com toda criança negra, o que não se costuma ver estampado nas páginas de um livro - Autoria de Tamis Ferreira e ilustração de Oberon Blenner​

Ayo e as Formiguinhas traz uma narrativa educativa, divertida e resgata o senso de pertencimento identitário ao apresentar personagens parecidos com toda criança negra, o que não se costuma ver estampado nas páginas de um livro - Autoria de Tamis Ferreira e ilustração de Oberon Blenner

Longe do ambiente politécnico, a aluna de Pedagogia da USP, em São Paulo, Tamis Ferreira decidiu se aventurar na criação de um projeto de educação afrocentrada. Ela detectou a ausência de um espaço de construção afirmativa de infâncias pretas e passou a pesquisar brincadeiras africanas. 

No repertório dos jogos e brincadeiras, a educadora lança mão do saber quilombola e da sabedoria africana para contar histórias nas redes sociais sob a perspectiva do “axé pedagógico”. Assim surgiu a página Xirê de Quintal. Uma iniciativa solo, mas um terreno fértil que gerou um desdobramento: o livro Ayo e as FormiguinhasPara custear a impressão, o livro está em uma campanha de financiamento coletivo

“O meu projeto surgiu a partir da carência gritante de uma educação preta inclusiva, permanente e que valorize tanto as narrativas pretas africanas e diaspóricas, quanto às já hegemônicas europeias na graduação”, explica a estudante.

Tamis Ferreira, aluna de Pedagogia - Foto: arquivo pessoal

Empreendedor independente

Embora tenham perfis diferentes, Vitor, Daniela e Tamis carregam consigo características de empreendedores independentes. Criatividade, inovação, engajamento, oportunidade e planejamento são algumas das competências empreendedoras descritas por diversos autores do campo econômico e comportamental. Capacidade que superam as bases teóricas de um indivíduo.

Para Fernando Lenzi, doutor em administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em São Paulo, ainda que a pessoa possua todo o conhecimento necessário para sua colocação no mercado, é imprescindível que ela seja capaz de unir o saber a atitudes que estejam alinhadas às suas habilidades. Sua tese aplicou um teste que associa o perfil empreendedor a um conjunto de tipos psicológicos. O teste foi desenvolvido pela co-orientadora do trabalho, a professora da FEA Tania Casado, também coordenadora do Escritório de Carreiras (ECar) da USP.

“Será que eu escolhi a graduação correta? Será que levo jeito para empreender? Para qualquer trajetória profissional, o ECar ajuda os alunos a fazerem o seu processo de autoconhecimento.” Além dos atendimentos individuais, a coordenadora conta que o escritório promove oficinas, eventos e lives sobre diversas linhas de empreendedorismo, o que ampliou consideravelmente o público.

“Startup, empreendedorismo, inovação, carreira, coaching… tudo isso integra um vocabulário muitas vezes utilizado levianamente. É preciso separar o joio do trigo, porque nosso aluno merece”, diz. Ela ressalta a importância e o pioneirismo do mestrado profissional em Empreendedorismo da FEA, mas lembra que a preocupação com o desenvolvimento da carreira profissional está em todas as unidades. “Não podemos mais formar uma pessoa só para trabalhar nas empresas; há alternativas”, conclui.   

Disponível nos sete campi da USP, o ECar é ligado à Pró-Reitoria de Graduação da USP e tem como visão ser centro de referência em carreiras na América Latina.

GraduAção

Empreender na USP é mais do que verbo no infinitivo. É também subjuntivo de um futuro que começa ainda na graduação. Assim que ingressa no ensino superior, o aluno já pode contar com disciplinas relacionadas ao empreendedorismo, inovação, propriedade intelectual e negócios. Para aproximar essas disciplinas de estudantes, a Agência USP de Inovação criou a plataforma Hub USPInovação.

Ao fazer uma busca, é possível selecionar a área e o campus de interesse, as unidades nas quais são oferecidas as disciplinas, os códigos e links para acesso às ementas nos sistemas institucionais Júpiter e Janus. Também é possível selecionar as disciplinas pelos níveis:

De estudante para estudante

Junto das ações de educação, a USP mantém iniciativas e programas que fazem a ponte entre o ambiente acadêmico, as organizações e a sociedade. São editais e programas presentes em todos os campi da USP; tanto na estrutura formal da Universidade, quanto ações organizadas por alunas e alunos, como o Núcleo de Empreendedorismo da USP (NEU).

Criado na Escola Politécnica da USP, o NEU conta com a participação de alunos, pesquisadores e professores que buscam envolver e capacitar as pessoas a empreenderem. Seus cursos, projetos e eventos servem como ponto de partida para aqueles que querem empreender. 

Na plataforma de Coursera, o núcleo mantém seis cursos, somando um total de 271 mil inscritos.

Inove na gestão de projetos (17.230 inscritos)

Consolidando Empresas (16.937 inscritos)

Criação de startups (36.428 inscritos)

Marketing Digital (139. 812 inscritos) 

Marketing e Vendas B2B (23.471 inscritos)

UX/UI (37.156 inscritos)

O incentivo ao empreendedorismo universitário se dá por meio de programas de pré-aceleração e aceleração de startups – empresas emergentes, de inovação tecnológica e com um modelo de negócio escalável. Atuando em todos os campi da USP e em todas as áreas do saber, o NEU alcançou 2.200 estudantes por meio de treinamentos, atividades e eventos no ano de 2020.

Conheça startups de alunos que iniciaram seus negócios durante a pandemia e que contaram com o auxílio do NEU:

ecomilhas

Milhas urbanas para a mobilidade neutra, incentivo à cidadania e aumento do engajamento na mobilidade urbana por meio de milhas sustentáveis. Criada por graduando da FZEA-USP.

Marketplace multi-estabelecimento de entrega rápida, conectando headshops e consumidores que buscam por variedade e praticidade. Criada por graduandos da EACH-USP.

kosmos-brasil

Revolucionar a interação virtual em eventos, através de plataformas digitais simples que vão além das limitações do mundo físico. Criada por graduandos da EESC-USP.

locar-me

Soluções para investimentos em mobilidade, revenda de veículos ou simples uso de veículo parado na garagem como segunda fonte de renda. Criada por graduandos da FEA-RP.

“Entender as barreiras de entrada no ecossistema de empreendedorismo sendo uma estudante da Universidade facilita trabalhar pelos estudantes da USP, afinal, eu vivo ‘dores’ semelhantes”, afirma Isabela de Oliveira, aluna do curso de Engenharia Mecânica da Poli e membro do NEU. Durante as aulas, seu foco está em se preparar para criar novos caminhos para a sociedade. “Mas, no contraturno, sou responsável por auxiliar a resolver os problemas daqueles colegas que já estão criando tais caminhos – estão empreendendo”, diz. 

Saiba mais sobre o Núcleo de Empreendedorismo da USP:

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