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Projeto de qualificação profissional reduz tempo de permanência na emergência do SUS

Com participação de ex-alunas da USP, iniciativa aplicada em 56 hospitais do Sistema Único de Saúde em quatro Estados também reduziu tempo de internação e de espera para atendimento médico especializado

01/03/2021

Redação

A superlotação nos serviços de urgência e emergência sempre foi apontada como um dos principais problemas do Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil. Embora seja único, o serviço é ofertado gratuitamente ou mediante pagamento. E com a chegada da pandemia, a barreira aparentemente intransponível entre o atendimento público e o conveniado, feito pela rede particular, se dissolveu. 

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, pouco mais de 28% dos brasileiros eram clientes de algum tipo de plano de saúde em 2019. Em alguns Estados, no entanto, mesmo para essa pequena parcela da população, não há garantias de acesso a leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Em São Paulo, por exemplo, 86% dos hospitais privados identificaram aumento rápido e crescente de internações por covid-19 nos dez primeiros dias do ano. Um levantamento do Sindicato dos Hospitais, Clínicas, Laboratórios e Demais Estabelecimentos de Saúde do Estado de São Paulo apurou que 72% dos hospitais tinham taxa de ocupação dos leitos de UTI superior a 71%.

“A superlotação constitui um fenômeno contemporâneo e global, em que suas causas e consequências ocasionam forte impacto sobre a gestão clínica e a qualidade do atendimento. Portanto, não pode ser considerado um fenômeno isolado”, afirma Gizelda Monteiro da Silva, gerente do Laboratório de Implementação do Conhecimento em Saúde do HCor. 

É deste laboratório o projeto Desenvolvimento Gerencial, que qualificou quase 5 mil profissionais da saúde atuantes em hospitais conveniados por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS). “O laboratório tem como objetivo produzir, sistematizar e difundir o conhecimento em saúde, por meio de capacitações e modelos de consultoria, contribuindo dessa forma para o desenvolvimento do Sistema Único de Saúde e consequentemente melhorando a saúde da população brasileira”, diz.

Gizelda concluiu o doutorado na Faculdade de Educação da USP, com a tese Instrumentos e práticas avaliativas dos estágios de enfermagem em instituições hospitalares: perspectivas de coordenadores e docentes. Para ela, que também é enfermeira, sua formação interdisciplinar possibilitou aliar princípios de educação permanente em saúde, planejamento estratégico e melhoria do cuidado em saúde.

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Gizelda Monteiro da Silva, gerente do HCor e do projeto Desenvolvimento Gerencial no Proadi- SUS - Foto: Reprodução/Linkedin

Projeto Desenvolvimento Gerencial de profissionais da saúde em hospitais do programa Proadi-SUS

Atualmente o projeto é desenvolvido em

56

hospitais do SUS,

em quatro Estados brasileiros (PB, MT, GO e RN)

Redução de

66,6%

no tempo de permanência no serviço de emergência

Tempo de espera para internação caiu

39,5%

Tempo de espera para classificação de risco teve redução de

21,8%

Tempo de espera para atendimento médico diminuiu em

34,5%

Tempo de espera para parecer do especialista teve redução de

62,5%

no tempo de permanência no serviço de emergência

Tempo de resposta para resultados de exames radiológicos diminuiu em

32,8%

e o de exames laboratoriais teve redução de

23,5%

O Proadi-SUS é uma contrapartida pela imunidade fiscal dos hospitais participantes. Os projetos levam à população a expertise dos hospitais em iniciativas que atendem às necessidades do SUS. No triênio 2018-2020, o HCor destacou o Hospital Regional de Cajazeiras – Dr. José de Souza Maciel, localizado na Paraíba, que diminuiu em 60% o tempo de permanência dentro do serviço de emergência, também teve redução de 16,6% na espera por internação e diminuição de 8,86% no tempo de resposta de especialistas.

Outro destaque foi o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER), localizado em Goiânia, monitorado de forma diferente, por ser um hospital de reabilitação. Os indicadores de maior destaque foram o tempo de espera para internação, que diminuiu em 48,6%, e o tempo para alta do paciente após cirurgia de fêmur e quadril, com redução de 29,3%.

“Minha formação na área de gerontologia permite a formação de um profissional humanista, crítico e reflexivo, capacitado a atuar na gestão da velhice saudável. Já minha formação na Universidade de São Paulo, tanto no mestrado como no doutorado (na FAU), contribuiu na construção e execução de projetos em que atuo”, conta Mayla Youko Kato.

Estudante no MBA em Gestão de Projetos da USP-Esalq, Mayla explica que a pandemia trouxe um novo desafio ao projeto: a qualificação de profissionais de saúde do Estado de Minas Gerais para o manejo ventilatório de pacientes infectados. A demanda surgiu por meio do Conselho de Secretários Municipais de Saúde e já qualificou 4.324 profissionais em 49 municípios visitados.

O projeto Desenvolvimento Gerencial já ocorreu em São Paulo nos anos de 2014 e 2015, com a participação de 12 hospitais. Iniciativas como essa endossam os arranjos adotados por gestores públicos para o aumento do número de leitos de UTI durante a pandemia.

A Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) informou em comunicado que o SUS tem média de 1,4 leitos para cada 10 mil habitantes, contra 4,9 da rede privada. Para a Amib, é fundamental mapear a capacidade de atendimento das UTIs nas diversas regiões do País, definindo planos de ação para atender a população. 

Mayla Youko Kato, do projeto de Desenvolvimento Gerencial do Proadi-SUS - Foto: Reprodução/Linkedin

Mayla Youko Kato, do projeto de Desenvolvimento Gerencial do Proadi-SUS - Foto: Reprodução/Linkedin

A Faculdade de Saúde Pública da USP se manifestou por meio de um plano de contingência, ressaltando a importância de uma distribuição mais igualitária dos recursos e leitos de Unidades de Terapia Intensiva entre as instituições, evitando o colapso. “A previsão de que possa haver pressão sobre a capacidade instalada dos serviços de saúde revela a injusta alocação de recursos de saúde no Brasil: há 1,08 leitos de UTI / 10.000 habitantes em unidades públicas, para atender a ¾ da população brasileira, contrastando com 4,84 leitos de UTI / 10.000 em unidades privadas para o restante de ¼ dos brasileiros.”