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A gengivite e a periodontite são inflamações bucais que, se não tratadas adequadamente, podem destruir os tecidos periodontais que protegem os dentes, como a gengiva e os ossos que os sustentam. Para auxiliar no tratamento convencional dessas doenças, um grupo de pesquisadores da USP desenvolveu uma nova tecnologia, uma pastilha probiótica que promove uma mudança nos microrganismos presentes na região bucal e aumenta a resistência das mucosas orais.
O produto já está com pedido de patente em andamento pela Agência USP de Inovação (Auspin) e promete ser um adjuvante no tratamento convencional dessas inflamações (a raspagem dos dentes), proporcionando melhores resultados para a saúde bucal. Flávia Furlaneto, professora da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP e uma das pesquisadoras do grupo, adianta que a pastilha não substitui o tratamento padrão. “Criamos um produto para oferecer melhoras mais significativas ao tratamento.”
Também participaram do desenvolvimento do produto os professores Michel Reis Messora, da Forp, e Sergio Luiz Salvador, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, e também a farmacêutica Rita Paula Ignácio, graduada na mesma instituição.
Como funciona a pastilha probiótica
A pastilha foi desenvolvida a partir de probióticos, microrganismos vivos, geralmente bactérias, que quando consumidos em uma quantidade adequada trazem benefícios à saúde. A quantidade desses microrganismos vivos existentes na pastilha precisa ser “suficiente para levar um benefício à saúde do hospedeiro”, esclarece Flávia.
Ainda segundo a pesquisadora, foi utilizada uma cepa probiótica específica, a Bifidobacterium animalis subsp. lactis HN019, para o desenvolvimento da pastilha. Os estudos com os probióticos no grupo de pesquisa da Forp tiveram início em 2010 sob coordenação do professor Michel, e a partir de 2015, após os resultados favoráveis nos testes em animais, o probiótico escolhido foi colocado dentro de uma pastilha e tiveram início os estudos clínicos controlados em pacientes com periodontite e gengivite generalizadas. “A pastilha é como um drops, uma pastilha mesmo, o paciente coloca na região sublingual e ela vai lentamente sendo dissolvida e deglutida”, diz Flávia.
A pesquisadora informa que o produto apresenta uma ação local na cavidade bucal e também uma ação sistêmica ao chegar ao sistema gastrointestinal.
De acordo com Michel, o produto foi inicialmente testado no tratamento de pacientes com periodontite. Os resultados obtidos demonstraram que a pastilha foi capaz de reduzir a necessidade de cirurgias periodontais para completar o tratamento desses pacientes. “Essa forma de encarar o tratamento das doenças periodontais se alinha aos conceitos atuais referentes à etiopatogenia da doença. Para um bom controle da doença há necessidade de medidas locais e sistêmicas, algo que poderia ser chamado de higiene bucal e intestinal. E probióticos podem atuar dessa forma”, esclarece o professor.
Mais defesas imunológicas
A partir da análise com tecnologias de última geração, inclusive com sequenciamento de DNA, os resultados mostraram que os pacientes que usaram a pastilha probiótica, junto com o tratamento convencional de gengivite e periodontite, apresentaram benefícios adicionais. “No caso da gengivite, ao final do estudo, os participantes apresentaram menos inflamação, mudanças em alguns mediadores inflamatórios e na composição do biofilme, nome dado à comunidade de bactérias que colonizam o elemento dental”, ressalta Flávia.
Nos casos de periodontite, Michel conta que foi possível observar o aumento em alguns marcadores ligados à imunidade inata e adaptativa do paciente. “É como se a gengiva ficasse mais imunocompetente, mais resistente a futuras infecções e inflamações”, esclarece.
Também nos casos de periodontite, afirma o professor, foi verificada uma ação imunomoduladora. Segundo Flávia, os microrganismos probióticos presentes na pastilha atuaram na resposta imunoinflamatória do paciente, diminuindo a quantidade de mediadores que favorecem a inflamação.
Flávia enfatiza que, até o presente momento, ainda não existe no mercado brasileiro nenhuma pastilha probiótica para o tratamento de doenças periodontais, diferente de alguns países da Europa e Estados Unidos, onde já existem produtos comerciais com cepas probióticas. “A cepa utilizada pelos pesquisadores da USP nunca foi incluída em um produto para a saúde oral e no exterior foram utilizadas outras cepas probióticas, diferentes da que utilizamos”, completa Flávia.
Ouça entrevista dos pesquisadores à Rádio USP no player abaixo.
Agência USP de Inovação
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