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Débora Duarte Macéa passava a maior parte de seus dias na comunidade Vila Dalva, em São Paulo, dez anos atrás. Ela cursava Fisioterapia na USP e atuava em um projeto no qual os jovens da região recebiam capacitação de universitários para difundir em suas comunidades informações sobre prevenção e cuidados com a saúde. A ação, chamada de Jovem Doutor, era coordenada pela Liga de Telemedicina da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
Em uma dessas idas à comunidade, Débora recebeu um telefonema que iria mudar sua vida acadêmica: havia ganhado o Prêmio Jovem Cientista 2008, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq). “Eu estava no ônibus quando recebi a ligação, comecei a chorar, não acreditava que ia conseguir.”
O projeto vencedor funcionava no âmbito da teleducação interativa. Os alunos iam à comunidade, identificavam os problemas e tentavam resolvê-los, e os moradores da região participavam das decisões de forma ativa.
“Esses módulos funcionavam como disciplinas para ensinarmos às crianças, utilizando recursos da telemedicina. Elas eram as responsáveis por difundir o conhecimento. No final, a mudança acontecia de baixo para cima.”
Foi o orientador da fisioterapeuta, o professor Chao Lung Wen, da FMUSP, que a estimulou inscrever o projeto no Prêmio Jovem Cientista. Depois disso, a própria telemedicina recebeu mais visibilidade dentro da faculdade, foram feitos mais módulos para as crianças e em um formato mais tecnológico.
Com o dinheiro recebido do prêmio Jovem Cientista, Débora desenvolveu pesquisa em Neurofisiologia, nos Estados Unidos. Depois voltou ao Brasil e, hoje, trabalha como fisioterapeuta. “Na época, estava desestimulada, o meio acadêmico tem muita competitividade. Foi muito bom receber o prêmio para que eu pudesse ver que estava no caminho certo e me animar novamente.”
Jovem Cientista
O Prêmio Jovem Cientista foi criado em 1981, como iniciativa do CNPq. Ele visa a revelar talentos, impulsionar a pesquisa no País e também investir em estudantes e jovens pesquisadores que procuram inovar na solução de desafios da sociedade.
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Os vencedores recebem bolsas de estudo do CNPq, no valor total correspondente a R$ 775 mil, divididas entre as categorias participantes. Podem se inscrever estudantes do ensino médio, do ensino superior, mestres e doutores. Na edição 2018, o tema é Inovações para Conservação da Natureza e Transformação Social.
Débora incentiva todos os jovens a participar, “o prêmio valoriza muito mais a pessoa que fez a pesquisa do que o orientador. Mesmo achando que não vamos conseguir, temos que participar sim. Vale muito a pena”. O mesmo acredita Bárbara Rita Cardoso, que, em 2015, também recebeu o prêmio. Ela avaliou em sua pesquisa como o consumo de castanha-do-brasil, conhecida como castanha-do-pará, influencia na cognição e nos níveis de selenoproteínas em pacientes que já tinham problema cognitivo.
“Em meu mestrado, vi que pacientes com doença de Alzheimer, que é um dos tipos de demência, eram muito deficientes em selênio. Então, em meu doutorado, resolvi intervir nestes pacientes antes que eles desenvolvessem a demência propriamente dita”, explica Bárbara, formada em Nutrição pela Universidade Federal de Santa Catarina e mestre e doutora pela USP.
O seu projeto começou em 2011 e terminou em 2013. Ela tinha colaboração com o Departamento de Geriatria da FMUSP e os pacientes eram de um laboratório no Hospital das Clínicas.
Quando recebeu a notícia sobre o Prêmio Jovem Cientista, estava fazendo um pós-doutorado na Austrália e recebia uma bolsa do programa Ciências sem Fronteiras. Com o valor em dinheiro e a bolsa que recebeu após ganhar o prêmio, a nutricionista voltou ao Brasil e fez seu segundo pós-doutorado. Depois disso, retornou à Austrália, onde está até hoje pesquisando selênio e doenças neurodegenerativas.
“Este prêmio me abriu muitas portas, é muito importante para o currículo, mostra que eu faço um trabalho de qualidade. Eu não acreditava que pudesse ganhar, mas a pesquisa era melhor do que eu pensava. Foi o prêmio que me deu coragem de seguir na carreira acadêmica”, conta Bárbara.
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Após ser uma das ganhadoras do Jovem Cientista, o trabalho de Bárbara teve muita visibilidade midiática. Ela acredita que divulgar os resultados de pesquisas é uma forma de dar retorno à população, já que fez todo seu mestrado e doutorado com bolsas do governo.
O Prêmio Jovem Cientista está com inscrições abertas. Para participar, basta ler o regulamento neste link e enviar seu trabalho até o dia 31 de julho.