Pesquisadores analisam quadros históricos da USP no Largo São Francisco

Especialistas do Instituto de Física da USP utilizam técnicas para identificar pigmentos e modificações em obras do acervo da Faculdade de Direito; estudo vai orientar sobre conservação e restauro

 17/03/2023 - Publicado há 1 ano
Quadros históricos da Faculdade de Direito da USP passam por análise – Foto: Divulgação/FD USP

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Duas das obras que fazem parte do acervo da Faculdade de Direito da USP (ou SanFran, como é mais conhecida) estão passando por processo de análise. O objetivo é estudar em detalhes as pinturas, os artistas que as produziram e, ao mesmo tempo, tentar identificar os materiais presentes e os pigmentos que foram utilizados. Da mesma forma, identificar pontos de restauro e intervenções que tenham acontecido.

A iniciativa, que envolve projeto de pesquisa, está sendo realizada em conjunto pelo Museu da FD, presidido pela professora Ivette Senise Ferreira, com a coordenação de trabalhos da docente Heloisa Barbuy, e pelo Instituto de Física da USP (IF), através de uma equipe de análises físico-químicas coordenada pela professora Márcia Rizzutto, com Juliana Bittencour Bovolenta e Julia Schenatto.

Já a questão histórica está sendo analisada pela mestranda Tatiane Gomes da Silva, que centra sua tese nas obras da São Francisco e em paralelo está preparando um livro acerca do acervo, e por Igor Tostes Fiorezzi, graduado em História e Direito pela USP.

Para o diretor da FD, Celso Fernandes Campilongo, e a vice-diretora, Ana Elisa Liberatore Bechara, trata-se de um momento importante para a instituição e para os pesquisadores. “A maioria das faculdades ou universidades brasileiras não tem acervo de obras tão significativo como a que temos na SanFran”, dizem, destacando a longa pesquisa realizada pelo museu sobre os retratos mais antigos da faculdade.

Processo permite saber estado de conservação da obra – Foto: Divulgação/FD USP

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Pinturas do século 19

As duas pinturas analisadas são Gabriel Rodrigues dos Santos, do franco-brasileiro Claude Joseph Barandier, que chegou ao Brasil em 1838; e José Bonifácio, o moço, do ítalo-brasileiro Ângelo Agostini, que desembarcou em São Paulo em 1859.

“Pretendemos identificar os pigmentos, as paletas cromáticas dos artistas por meio de caracterizações dos elementos químicos presentes nos pigmentos, e os próprios pigmentos, os compostos ali utilizados”, informa Márcia Rizzutto.

Na execução do processo são feitos registros fotográficos com diferentes faixas espectrais, com análises diferentes (luzes infravermelho, ultravioleta, invisível e demais), para que a somatória dessas informações permita identificar o estado de conservação da obra e o processo criativo do artista. “Até mesmo se ele se arrependeu, se fez uma gola diferente; se fez uma determinada luz e depois mudou, bem como a posição de algum dedo ou mesmo se modificou a posição de uma mão”, conta a coordenadora.

De acordo com os envolvidos no projeto, são técnicas que permitem conhecer o olhar do artista, uma oportunidade única de estudar essas obras raras, pinturas de tamanha importância do período histórico, que abarca o final do século 19 e começo do 20. “É muito importante essa documentação, esse conhecimento sobre essas obras.”

Outros pontos relevantes estão no fato de, quanto mais conhecidas as obras e os artistas, mais se aprende sobre eles e é salvaguardado o patrimônio. Isso torna, portanto, um somatório de informações que permite fazer correlação no processo de conservação de restauro, ou mesmo no futuro, sobre possíveis questionamentos de autenticidade de alguma outra obra. “É esse nosso objetivo estudando essa coleção da Faculdade de Direito”, acrescentam.
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Texto: Kaco Bovi, da Assessoria de Imprensa da FD


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