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A USP é pública e gratuita. Isso deveria fazer com que seu ambiente proporcionasse oportunidades iguais e também liberdade de opinião, expressão e criação. Para os estudantes da Universidade, na prática, isso não ocorre. Eles acreditam que o espaço uspiano reflete as opressões e violências existentes na sociedade brasileira. Sete em cada dez estudantes consideram a USP um lugar machista e dois terços apontam que ela é racista. Além disso, pouco mais da metade declara o âmbito da Universidade como LGBTfóbico.
Esses dados foram divulgados na última segunda-feira, 25 de junho, no lançamento dos primeiros resultados da Pesquisa Interações na USP, realizada pelo Escritório USP Mulheres e coordenada pelo professor Gustavo Venturi, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A iniciativa ocorre no contexto da participação da USP no programa Impacto 10x10x10 do movimento #HeForShe da ONU Mulheres.
Os tópicos da pesquisa começaram a ser pensados um ano e meio atrás. Entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2018, um questionário on-line com 120 perguntas foi encaminhado por e-mail para 78 mil alunas e alunos com vínculo ativo com a Universidade.
A participação voluntária resultou em 18 mil acessos, dos quais 13.377 ofereceram respostas. Entre o universo da amostra da pesquisa estão estudantes de graduação e pós-graduação de todos os cursos da USP, seja nos campi da capital ou do interior. A professora Eva Blay, coordenadora do USP Mulheres, pontua que “os resultados dessa pesquisa são riquíssimos e rende inúmeras análises. Temos agora material de estudo por, no mínimo, cinco anos.”
De acordo com o Escritório USP Mulheres, com os resultados, espera-se que a comunidade universitária – estudantes, professores e funcionários – “possa elaborar coletivamente o reforço às formas de convivência saudáveis e positivas, além do enfrentamento mais efetivo às discriminações e violências presentes nas interações que ocorrem na USP. Espera-se ainda proporcionar os insumos para a elaboração de políticas institucionais mais adequadas ao enfrentamento das diferentes formas negativas de convivência, agora mensuradas”.
Outras informações apresentadas pelo estudo são que nove em cada dez estudantes indicam a USP como uma instituição elitista, e mais da metade se sente inferiorizado em relação aos colegas.
Segundo a estudante Marília Marcondes Tenório, do coletivo feminista da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, os dados na pesquisa são chocantes, mas já eram esperados. Marília questionou quais ações e políticas institucionais seriam realizadas a partir desta pesquisa. “Os resultados são muito completos e isso é muito importante mas, na prática, temos bastante dificuldade em lidar com assédio e outras questões envolvendo a burocracia da USP.”
O pesquisador Gustavo Venturi pontua que apesar de pública, para os alunos, as restrições de dinheiro impactam na convivência universitária: mais da metade afirma já ter deixado de fazer algo que deveria, ou gostaria de ter feito na USP, por falta de condições financeiras.
As universidades são conhecidas por serem espaços de discussão, livre pensamento e liberdade de expressão, ou seja, o ambiente acadêmico deveria ser um local sem constrangimentos moralistas. Entretanto, quase metade da amostra afirmou já ter deixado de fazer algo por temer julgamento moral ou político. Segundo a mesma pesquisa, 51% dos estudantes afirmam já ter sido constrangidos ao manifestar opiniões.
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Um dos tópicos analisados no questionário trata da questão da segurança na USP. Como resultado, 21% dos estudantes sentem-se fisicamente inseguros mesmo em espaços acadêmicos como salas de aula, laboratórios e bibliotecas. Além disso, um em cada quatro sofreu ao menos uma forma de violência moral e 7% sofreram uma ou mais modalidades de violência sexual. Combinando-se todas as taxas analisadas no questionário, quase metade dos estudantes já vivenciou ao menos uma violência ao longo de sua trajetória estudantil na Universidade.
A professora Ana Flávia D’Oliveira, da Rede Não Cala da USP, afirma que ainda há muito para refletir sobre o que se espera de uma universidade pública na vida dos alunos. “Além de olhar para os dados em si, devemos olhar para aqueles que responderam o questionário. Quem são essas pessoas? Qual o perfil delas?”
Ainda que privilegiado, para os estudantes da Universidade, o espaço uspiano não difere do contexto brasileiro. Segundo o material de divulgação do USP Mulheres, via de regra, a violência tem no extremo, com menores taxas, os alunos brancos heterossexuais com maior renda familiar. E, no extremo oposto, com maiores incidências, as alunas pretas lésbicas com menor renda.
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Ao fim do evento, a professora Eva Blay esclarece que cada instituto receberá as respostas referentes ao seus estudantes. Assim, junto com o USP Mulheres, poderão “se debruçar sobre os dados e pensar em ações para lidar com os problemas diagnosticados”.
O professor Gustavo Venturi concedeu uma entrevista ao programa da Rádio USP Jornal da USP no Ar sobre a pesquisa. Confira abaixo:
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