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A USP é uma universidade pública e como tal tem três pilares que a sustentam: o ensino, a pesquisa e o atendimento à comunidade. Um dos projetos que abrangem essas três atividades é a Farmácia Universitária da USP, a FarmUSP. Localizada dentro do campus da Cidade Universitária, em São Paulo, ela funciona como uma farmácia-escola para os estudantes e desde outubro de 2014 possui uma parceria com o Hospital Universitário (HU) da USP e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Os pacientes em tratamento no HU são encaminhados para a FarmUSP e acompanhados mensalmente com uma consulta, na qual o farmacêutico é inserido na equipe de saúde, interagindo com o paciente, e conduz o uso dos medicamentos. Atualmente, 30 pacientes com câncer de próstata recebem acompanhamento farmacoterapêutico da Farmácia Universitária. São informações de como usar o medicamento corretamente, a reação adversa, a interação de diferentes remédios, o uso racional, o que pode causar no corpo com a interrupção aleatória do tratamento, entre outros.
A parceria surgiu de um interesse da administração da FarmUSP em realizar novas atividades em função de mudanças estruturais que ocorreram desde a sua fundação, em 1970, e de construir um modelo de farmácia vanguardista dentro da Universidade. Para isso, era necessário romper com o modelo tradicional, com manipulação de medicamentos e comercialização deles, para trazer a USP para uma nova realidade, baseada em modelos internacionais.
“O Conselho Federal de Farmácia (CFF) deu início à regulamentação das farmácias universitárias em 2008”, conta Maria Aparecida Nicoletti, farmacêutica responsável pela Farmácia Universitária juntamente com a professora Silvia Storpirtis, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. A resolução 610/2015 mostrou que o CFF considera importante a participação da farmácia universitária na formação dos farmacêuticos.
Na prática, isso se dá por meio da ampliação da participação dos alunos nas atividades da farmácia, para integrar a teoria da sala de aula ao ensino prático de um laboratório didático-especializado. Assim, por meio de experiências reais, os estudantes conhecem o trabalho do farmacêutico na farmácia, o que não se restringe ao acompanhamento do tratamento farmacológico prescrito pelo médico.
O cuidado farmacêutico, segundo Maria Aparecida, é o principal diferencial desse modelo novo de farmácia. “O que acontece é uma transferência de foco. Nesse novo modelo, o paciente é a peça central e o farmacêutico interage com o paciente, o médico e outros profissionais de saúde envolvidos no tratamento”, explica.
Desse modo, as consultas farmacêuticas realizadas periodicamente são muito mais do que um acompanhamento do lado farmacológico da situação do paciente. “Uma série de outras questões são levadas em conta, como acompanhar a forma como o paciente faz a ingestão do medicamento, se ele se alimenta quando toma o remédio, se possui outras doenças além do câncer de próstata, se tem algum desconforto ou reação indesejada com o uso do medicamento”, resume.
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O farmacêutico e a família
Esse acompanhamento diferenciado é um fator importante, pois o paciente e sua família sentem-se envolvidos no processo e se engajam para melhorar a situação clínica. Nesse momento, é possível conversar sobre recomendações para que o enfermo não somente trate o seu quadro clínico de câncer, mas também outros problemas de saúde, como reduzir o sal no caso de hipertensos.
“Nosso acompanhamento do paciente é feito numa relação de muita proximidade. Às vezes, acompanhamos alguns pacientes para tomar medicamento durante o tratamento, ou vamos de carro com eles até o HU (Hospital Universitário) porque a família não tem um veículo para levá-los lá. Já chegamos a ligar para pacientes mais esquecidos para conferir se eles estavam se medicando”, explica Maria Aparecida.
Todos os meses os pacientes têm consultas agendadas com os farmacêuticos responsáveis, os quais são assistidos por estagiários que estudam da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP. Nesses encontros, são entregues os medicamentos aos pacientes e é feito todo o processo de acompanhamento.
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“Temos o entendimento de que não se consegue tratar um indivíduo sem levar em consideração que ele também tem uma vida. Quando fazemos essa conversa franca com o paciente, ele se sente realmente cuidado. E a resposta a essa relação é impressionante, temos vários casos de pessoas cuja qualidade de vida melhorou com o tratamento”, afirma Maria Aparecida.
A parceria estabelecida entre a Farmácia Universitária, o Hospital Universitário, no Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS), e a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo está prevista para durar cinco anos, porém, as professoras acreditam que deverá será postergada.
Os resultados atuais do projeto têm mostrado sucesso dessa iniciativa pioneira. De acordo com Maria Aparecida, muitos estudantes relatam a diferença que a experiência fez em suas formações como profissionais. Vários pós-graduandos também estão envolvidos no projeto para avaliar os resultados do impacto desse modelo de farmácia implementado na FarmUSP.
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