Telescópio Círculo Meridiano, presente no Observatório Abrahão de Moraes para observações astronômicas do céu - Foto: Reprodução/Youtube

Observatório astronômico da USP faz 50 anos com opções de lazer científico

Localizado entre Valinhos e Vinhedo, interior de São Paulo, o Observatório Abrahão de Moraes reúne turismo cultural, visitas guiadas e observação com telescópios, além de um boletim mensal gratuito sobre as principais novidades da astronomia

 05/05/2022 - Publicado há 2 anos

Tabita Said

Instalado no Morro dos Macacos, em Valinhos, desde 1972 o Observatório Abrahão de Moraes é um raro local que consegue aliar as atividades de um laboratório científico às de um local de visitação e difusão de conhecimento. Imagine poder manipular um telescópio utilizado por astrônomos para observar a posição e o brilho dos astros, mesmo em céu noturno? É possível no observatório, ligado ao Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, que retoma atividades presenciais neste mês.

Após dois anos de portas fechadas, o retorno da visitação pública é um presente de aniversário para o observatório, que completou 50 anos no último mês de abril. O Observatório nasceu de um grande esforço iniciado nos anos 1960 com a colaboração de pesquisadores da França e da Rússia e a liderança do físico Abrahão de Moraes, com sua “incansável atuação pelo desenvolvimento da Astronomia e das Ciências Espaciais no Brasil”, como destaca a Sociedade Brasileira de Física.

O observatório voltará a receber o público em seu maior e mais popular evento. Há 14 anos, o Noite com as Estrelas atrai milhares de visitantes, que se deliciam com as observações do céu e com verdadeiras aulas de astronomia ao ar livre. “Já tivemos aqui pedidos de casamento e pessoas que deram uma visita guiada como presente de aniversário”, conta o professor Ramachrisna Teixeira, diretor do Observatório Abrahão de Moraes junto a um comitê gestor. Para ele, o ambiente de aprendizagem é descontraído e encantador.

Ambiente que ele zela há 40 anos, desde que o IAG propôs mudar seu local de trabalho de São Paulo “para uma região de clima mais propício, afastada dos grandes centros urbanos”, como idealizou e escreveu o próprio Abrahão de Moraes, no livro As Ciências no Brasil, organizado pelo educador Fernando de Azevedo em 1956.

Ramachrisna Teixeira, professor do IAG - Foto: Divulgação/IAG

Há 40 anos, o professor Ramachrisna Teixeira deixou as antigas instalações do IAG, ainda no endereço da Água Funda, para se dedicar à direção do observatório - Foto: Divulgação/IAG

NOITE COM AS ESTRELAS

A disputada atividade divide os visitantes em três grupos por noite, em horários que variam de 18h30 até 21h30. A visita tem duração de uma hora. Durante esse tempo, alunos do curso de astronomia atuam como monitores e levam cada grupo para um auditório, onde apresentam informações sobre o observatório e recomendações gerais. Depois, o público se dirige ao prédio dos telescópios para observar astros como a lua, planetas, nebulosas. O próximo Noite com Estrelas acontece nos dias 6, 7 e 8 de maio e já está com a lotação máxima prevista – cerca de 300 inscritos.

VISITAÇÃO DIURNA

As atividades diurnas também devem voltar a ocorrer. O observatório atende o público mediante agendamento prévio e organiza grupos de até 30 pessoas para visitação durante a semana, entre 8h e 17h, ou aos sábados pela manhã. É comum encontrar grupos escolares para visita aos instrumentos, palestras, exibição de imagens feitas com telescópios e observação do Sol. Além de terem noções de astronomia, visitantes e alunos do ensino básico aprendem sobre o que se faz em um observatório e sobre como funciona um telescópio solar, por exemplo.

Para participar das atividades presenciais, é necessário agendar a visita por telefone: (19) 3856-5400.

TELESCÓPIOS NA ESCOLA

Outra atividade realizada no observatório é o projeto Telescópios na Escola (TnE). São observações remotas com um telescópio automático, realizadas por escolas de todo o Brasil cadastradas no projeto. O telescópio Argus fica à disposição da escola que o comanda via internet, apontando-o para os objetos celestiais desejados e coletando as imagens em tempo real, como se os alunos estivessem no local. “Infelizmente, o Argus é um dos poucos, talvez único, que está em funcionamento regular neste momento”, lamenta o diretor do observatório.

Telescópios Obelix, Prometeu e Asterix e Argus, utilizados em atividades de monitoramento e observação do céu no Observatório Abrahão de Moraes - Fotos: IAG/USP

FÉRIAS COM MAIS ESTRELAS

O Férias com mais Estrelas organiza cinco dias de atividades diurnas e noturnas. São palestras, oficinas, jogos interativos, atividades culturais, observações do Sol e do céu noturno no período de férias escolares. Até o momento, o observatório já realizou quatro edições do evento. “Nossa experiência com o Noite com as Estrelas nos levou à organização de uma programação mais audaciosa e extensa”, conta Ramachrisna. Ainda não há previsão de data para a próxima edição do evento que, assim como o Noite com as Estrelas, define as datas em função da possibilidade de observação da Lua na primeira metade da noite.

OBSERVAÇÃO DE LIXO ESPACIAL

Em colaboração com o Observatório de Xangai, na China, o Observatório Nacional, no Rio de Janeiro e a Universidade Federal Fluminense, também no Rio, o Observatório Abrahão de Moraes implementou um programa piloto de mapeamento de satélites artificiais inoperantes e fragmentos. O objetivo é identificar os objetos nas vizinhanças das órbitas de satélites de interesse brasileiro e chinês, bem como desenvolver estratégias de observação e tratamento de dados que, no futuro, possam ser transferidos para um monitoramento efetivo com telescópios maiores.

TURISMO CULTURAL

As instalações do observatório Abrahão de Moraes ficam a 730 metros de altitude. O local foi definido por fatores geológicos, topográficos e de proteção vegetal, e foi doado à USP pela Prefeitura Municipal de Valinhos em 1971. Sua área de 450 mil metros quadrados de mata nativa é, hoje, um dos poucos remanescentes florestais de Mata Atlântica preservados da região. O observatório abriga macacos, veados, lobos, inúmeras espécies de pássaros e pelo menos 150 tipos de borboletas. A diversidade e exuberância fazem do local um importante polo de turismo cultural na região.

Evolução tecnológica

No início de sua operação, o observatório contava com três instrumentos de observação dos astros. Já na década de 1980, o escopo de atuação foi ampliado, abrigando uma estação sismográfica como parte da Rede Sismográfica do Brasil. Em meados de 1995, em parceria com o Observatório de Bordeaux, as observações do Telescópio Círculo Meridiano foram automatizadas e o instrumento seguiu produzindo dados científicos até 2013. Com a automação do instrumento, o olho do observador foi substituído por um sistema de detecção eletrônico, que possibilitou observar o brilho dos astros e sua posição com três vezes mais precisão. “Outro ganho notável foi a observação de mil vezes mais objetos do que antes”, lembra o coordenador do observatório.

A partir dos anos 2000, o Observatório foi dotado de telescópios que permitiram criar mais atividades voltadas ao público. Atualmente, o Observatório serve como laboratório científico, tanto do Departamento de Geofísica do IAG, quanto do Departamento de Astronomia.

No âmbito da pesquisa, o observatório conta com uma estação meteorológica automática para medidas de variáveis hidrometeorológicas e uma estação gravimétrica – com um ponto de gravidade zero – que faz parte da Rede Nacional de Estações Gravimétricas Absolutas (RENEGA). Também abriga uma estação geodésica que integra o Sistema Geodésico Brasileiro (SGB).

Assim como ocorre com o projeto Telescópios nas Escolas, a organização do observatório se empenha em realizar atividades voltadas para estudantes de nível fundamental e médio na estação sismográfica, com o projeto Geofísica na Escola, e na estação meteorológica, com o Ciências Atmosféricas na Escola.

Durante a pandemia, mantiveram-se ativos nas redes sociais e criaram o Dia e Noite com as Estrelas, boletim que traz notícias científicas sobre a astronomia para quem quer conhecer e saber mais sobre o que está acontecendo no Universo. Confira todas as edições do boletim mensal e gratuito aqui.

Nas visitações ao Observatório Abrahão de Moraes, é possível observar o sol e outros astros utilizando diferentes telescópios no local - Foto: Reprodução / Facebook

Observatório Abrahão de Moraes

Rua do Observatório – Fazenda Santana, Valinhos – SP. O acesso ao observatório deve ser feito por Vinhedo – pela Anhanguera, procurar a estátua do Cristo da cidade, que dá acesso à Rua do Observatório.
Telefone: (19) 3856-5400

Saiba mais:
http://www.observatorio.iag.usp.br
https://twitter.com/abrahaodemoraes
https://www.facebook.com/observatorioabrahaodemoraes