Meteorito Quijingue, da exposição Os Segredos dos Meteoritos: um mundo microscópico revelado - IGc / USP - Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Mensageiros siderais: meteoritos em exposição na USP ajudam a contar história do sistema solar

Museu de Geociências da USP apresenta ao público meteoritos e fotografias microscópicas, antes exclusivos da academia; exposição apresenta beleza microscópica das pedras que caem do céu

 13/04/2022 - Publicado há 2 anos

Tabita Said

Um meteorito atravessa o espaço, cruza a atmosfera e chega ao solo terrestre, até que seja encontrado, catalogado e exposto em algum museu. Para saber sua origem e composição, há uma técnica precisa: colocados em placas de vidro, alguns minerais são polidos até uma espessura mínima de 30 micrômetros (milésimo de milímetro) que, desta forma, são transparentes à luz.

Com a ajuda de tecnologia microscópica, cientistas conseguiram determinar a natureza cósmica dos meteoritos. “Será que eles ajudam a responder como, então, se formaram os planetas e o sistema solar? Essa é a principal contribuição que os meteoritos trazem para a ciência”, afirma Gaston Eduardo Enrich Rojas, professor do Instituto de Geociências (IGc) da USP e curador da exposição Os Segredos dos Meteoritos: um mundo microscópico revelado. Inaugurada no início deste mês no saguão do IGc, a exposição quer divulgar a pesquisa sobre meteoritos, sua importância e a visão que os cientistas têm destes fragmentos minerais.

A mostra traz 20 painéis fotográficos, com imagens de lâminas de vários tipos de meteoritos, muitos deles brasileiros. As lâminas são essas “fatias” muito finas de rochas, que possibilitam aos pesquisadores estudar corpos extraterrestres no microscópio e descobrir mais sobre a formação do nosso planeta.

De acordo com Rojas, a exposição foi organizada para explicar a formação do sistema solar e de que maneira os meteoritos ajudam a entender sua história. “Também mostrar essa visão diferente, que antes era exclusiva dos cientistas, e que nós queremos que seja do público como um todo”, disse durante o lançamento.

A exposição apresenta uma variedade de minerais e técnicas diferentes para análise. Meteoritos metálicos, por exemplo, são opacos e a luz não consegue atravessá-los. Nestes casos, a análise é feita por reflexão e mostra os grãos minerais contornados pela liga metálica. O resultado final é um mosaico de imagens feitas em muitas horas de imageamento microscópico, traduzido em fotografias.

“A gente trabalhava em uma área muito menor no microscópio; nem meio milímetro. Então tiramos inúmeras fotos e colocamos uma ao lado da outra em sobreposição”, conta Augusto Nobre Gonçalves, pós-doutorando do IGc e um dos responsáveis pelas imagens em exposição. O geólogo explica que as análises microscópicas revelam os processos pelos quais a rocha passou no contexto espacial. “Apesar de termos a composição ‘pura’, ‘ideal’ de cada rocha, esses processos acabam incluindo outros elementos junto aos minerais”, diz.

Meteorito Ibitira já tratado (acima) e sendo cortado para análises (abaixo) - Foto: Marcos Santos / Miriam Della Posta

Exemplo de painéis presentes na exposição - Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Pedaço de meteorito em exposição - Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Alguns dos meteoritos que originaram as lâminas e os painéis fotográficos estão permanentemente no Museu de Geociências da USP e ficarão exibidos em uma vitrine da exposição localizada dentro do museu. Além de vitrines e outras peças do acervo, estão em cartaz no Museu de Geociências da USP as exposições Fósseis do Araripe e Areias.

Há ainda 17 audioguias e uma área em homenagem ao professor Celso de Barros Gomes, pioneiro no estudo de meteoritos do instituto. “Mas, principalmente, ele foi pioneiro no desenvolvimento dos laboratórios analíticos na pesquisa da meteorítica no Brasil”, explica Rojas.

A exposição é uma parceria entre os institutos de Geociências e de Química da USP e a Universidade Presbiteriana Mackenzie. O acervo de meteoritos utilizados na exposição compõe as coleções do Museu de Geociências da USP, do Centro Histórico e Cultural do Mackenzie e de coleções particulares.

A mostra fica no saguão do Instituto de Geociências da USP, de 7 de abril a 9 de dezembro de 2022.

Painéis fotográficos exibem imagens microscópicas de meteoritos e revelam ao público a visão que cientistas têm em laboratório - Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Extraterrestre

Os meteoritos são um fragmento resultante de material rochoso ou ferroso extraterrestre que alcança o chão após atravessar a atmosfera terrestre. Vindos de um espaço não tão vazio assim, estima-se que 5.200 toneladas de poeira espacial caiam em nosso planeta em forma de micrometeoritos, e cerca de 10 toneladas de meteoritos.

Até hoje, já foram reconhecidos e catalogados quase 70 mil meteoritos em todo o planeta. Porém, apenas 1.362 foram recuperados a partir de quedas observadas. No Brasil, é o Museu Nacional do Rio de Janeiro que tem a salvaguarda do maior meteorito do País – o meteorito de Bendegó. Descoberto em 1784, no sertão da Bahia, o meteorito pesa pouco mais de cinco toneladas.

No passado, meteoritos já foram considerados produtos da ira divina ou até fragmentos expelidos por vulcões (por causa da “casca preta” adquirida quando entram na atmosfera terrestre). Com a evolução dos laboratórios e dos equipamentos de pesquisa, foi possível identificar e discriminar a composição química desses minerais. O caso que marca o início da meteorítica é o do chamado meteorito de Lucé, na França, em 1768. Foi a primeira análise química feita em um meteorito e concluiu, justamente, que não se tratava de um meteorito, mas de uma rocha-trovão. As análises apontaram que sua composição química era similar a de rochas terrestres.

Os Segredos dos Meteoritos: um mundo microscópico revelado

Exposição em cartaz no Instituto de Geociências da USP
Rua do Lago, 562 – Butantã, São Paulo / SP
De segunda a sexta, das 9h às 12h e das 16h às 18h

Divulgação: IGc / USP

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