Parte da estrutura do Centro de Educação e Capacitação em Saúde da FOB-USP. Foto: CECS FOB-USP

Medicina na USP em Bauru: uma nova maneira de se formar médicos

Curso inicia seu quarto ano com sólida formação e forte engajamento na saúde pública; rede de saúde estadual e municipal de Bauru tem estrutura para garantir a formação dos estudantes e curso seguirá com qualidade e padrão USP

04/03/2021

Tiago Rodella

Assessoria de Imprensa da USP em Bauru

O Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP) inicia seu quarto ano com sólida aprendizagem e forte engajamento na saúde pública – permanecendo entre as três carreiras mais concorridas do vestibular da USP, juntamente com a Medicina de São Paulo e a de Ribeirão Preto – e concretizando as palavras do reitor Vahan Agopyan, na abertura do curso em 2018, como uma “nova maneira de se formar médicos”, com atuação dos estudantes na rede de saúde de Bauru desde o primeiro ano. A aula inaugural da Medicina da FOB-USP acabou de completar três anos, no último dia 26 de fevereiro.

“Com o objetivo de oferecer as melhores condições para essa formação diferenciada, a FOB-USP – com o apoio da Reitoria e da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade – tem colocado todos os seus esforços para a estruturação e melhoria contínua do curso, como a contratação de professores, aperfeiçoamento de estruturas, além de aquisição de materiais e equipamentos”, pontua o professor Carlos Ferreira dos Santos, diretor da FOB-USP e superintendente do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho-USP). “Trabalhamos para que o Curso de Medicina se desenvolva com o alto padrão de excelência da USP, com reconhecimento internacional, assim como os nossos cursos de Odontologia e Fonoaudiologia”, ressalta.

Foto: Denise Guimarães, FOB-USP

Carlos F. Santos, diretor da FOB e superintendente do HRAC. Foto: Denise Guimarães, FOB-USP

O professor Luiz Fernando Ferraz da Silva, coordenador do Curso de Medicina da FOB-USP e docente da Faculdade de Medicina da capital (FM-USP), também avalia que “a USP – e a FOB em especial – têm trabalhado para garantir os aspectos estruturais, materiais e humanos para o desenvolvimento do curso”.

“Foi criado o CECS (Centro de Educação e Capacitação em Saúde), um moderno centro de simulação e treinamento de habilidades práticas, agora já na fase final de ampliação, para contemplar as atividades do quinto e sexto anos. Foram feitos investimentos para ampliação do Laboratório de Anatomia, em andamento, além da aquisição de livros e materiais necessários para o curso”, relata.

“Com relação aos recursos humanos, temos ampliado o quadro de docentes e, mesmo durante a pandemia, com as restrições, temos buscado incluir novos professores. Fomos contemplados, recentemente, em um edital da USP dos Consórcios Acadêmicos para a Excelência do Ensino de Graduação, com a formalização da participação integrada de docentes da Faculdade de Medicina [FM], Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto [FMRP] e Instituto de Ciências Biomédicas [ICB] no Curso de Medicina de Bauru”, acrescenta.

Sobre a formação diferenciada que caracteriza o curso, o professor Ferraz da Silva diz que “o segredo está na contextualização precoce e na vivência”. “No curso de Bauru, [os estudantes] não só têm contato com a prática, mas eles têm contato com a prática em condições reais, na própria rede de saúde do município – isso traz muitos desafios, mas também suscita nos estudantes a curiosidade, uma visão crítica da assistência à saúde e de seu papel no Sistema Único de Saúde [SUS]”, realça.

Foto: Denise Guimarães, FOB-USP

Luiz F. Ferraz da Silva, coordenador da Medicina da FOB - Foto: Denise Guimarães, FOB-USP

Exemplificando os impactos práticos, o coordenador do curso lembra que os estudantes têm participado de forma recorrente de campanhas e estratégias de saúde pública no contexto do SUS. “Participaram de mutirões de dengue, organizam seminários e eventos científicos incluindo outros profissionais do SUS e a população em geral, e estão participando da campanha de vacinação contra a covid-19. Este tipo de engajamento e participação – que é motivo de nosso grande orgulho dos nossos estudantes – é algo que buscamos em conjunto, docentes e estudantes, construir como cultura no nosso curso de Medicina”, assinala.

Estudantes de Medicina da FOB participam de campanha de vacinação contra a covid-19 em Bauru, em 12/02/2021, sob a supervisão da profa. Alessandra Mazzo. Foto: Curso de Medicina da FOB

O curso tem como diferencial a inserção precoce no CECS, em termos de treinamento e vivência de algumas habilidades que são fundamentais ao longo da formação. Acredito que a combinação de um ambiente propício ao treinamento e aprendizado prático e a exposição precoce e contínua ao sistema de saúde garante não apenas um diferencial técnico, mas, sobretudo, de percepção do estudante e do profissional como parte de uma rede e com um papel definido, com direitos, responsabilidades e compromissos, valores que precisam ser aprendidos e incorporados desde cedo na formação médica"

Luiz F. Ferraz da Silva,
coordenador da Medicina da FOB

Para a aluna do quarto ano de Medicina da FOB-USP Carolina Perroud de Matos, 23 (da primeira turma), “a inserção precoce nos serviços de saúde é definitivamente um dos grandes diferenciais do curso. Desde o primeiro ano, estamos atuando nas Unidades Básicas de Saúde e nas Unidades de Estratégia Saúde da Família, além de conhecermos outros pontos da rede. A partir do segundo ano, fomos nos inserindo dentro dos hospitais. Junto a diversas aulas, leituras e discussões sobre o Sistema Único de Saúde, percebo, pela minha experiência como estudante, que essa inserção cria nos alunos um senso de pertencimento e responsabilidade. Podermos exercer na prática, desde tão logo, as habilidades e os procedimentos aprendidos dentro do currículo – tanto em aulas teóricas como em aulas de habilidades e simulações –, é um ganho técnico enorme”.

A estudante diz ainda que “por sermos um curso novo, temos a incumbência de criarmos e moldarmos muitos dos espaços em que realizamos nossas atividades de pesquisa, ensino e extensão: ligas acadêmicas, grêmio estudantil, grupos de eventos acadêmicos, entre outros. Essa incumbência faz com que trabalhemos nossa criatividade e nos ajuda a trabalharmos e pensarmos em conjunto. Ainda mais importantes, são a identificação com o curso e a vontade e a responsabilidade de lutarmos em defesa da universidade pública e seus campos de ensino, pesquisa e extensão. Sinto orgulho quando vejo o engajamento dos alunos da Medicina na defesa de uma saúde pública de qualidade ofertada pelo SUS”.

A estudante do quarto ano de Medicina da FOB, Carolina Perroud de Matos. Foto: Arquivo pessoal

Outro fator importante que tem demonstrado o alto padrão de qualidade da Medicina da FOB-USP é o resultado do Teste de Progresso, que avalia anualmente cursos da área para verificar e acompanhar a evolução do aprendizado do aluno. “Os resultados continuam bons, com nossos alunos [participantes] pontuando acima da média do consórcio de instituições participantes, e com destaque para algumas áreas como saúde pública. Penso que o Teste de Progresso não importa tanto pelo ranking, mas sim por ser um indicador externo que nos possibilita manter o dinamismo do curso, fazendo ajustes necessários de forma a manter o aproveitamento nas áreas em que fomos bem, e aprimorar o curso continuamente para melhorar nas áreas em que observamos necessidades”, argumenta o professor Ferraz da Silva.

Além disso, desde seu início, o curso de Medicina da FOB-USP tem ficado entre os três mais concorridos do vestibular da USP, organizado pela Fuvest: segundo lugar em 2018 e 2020 e terceiro lugar em 2019 e 2021. Ao todo, são ofertadas 60 vagas em período integral, sendo 42 via Fuvest e 18 pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do Ministério da Educação, na modalidade destinada a estudantes que tenham cursado o ensino médio integralmente em escolas públicas.

Ambientes de aprendizagem
e pandemia

O professor Ferraz da Silva explica que as atividades do curso são desenvolvidas fundamentalmente nas salas de aula e laboratórios da FOB-USP, no CECS e em diversos equipamentos da rede de saúde de Bauru (UBS do município, Hospital Estadual, Hospital de Base e Unidades 1 e 2 do HRAC). Também há acordos para início de atividades na Maternidade Santa Isabel, Ambulatório Médico de Especialidades (AME) e Instituto Lauro de Souza Lima, referência na área de dermatologia – e, em particular, da hanseníase –, com atividades voltadas também à pesquisa, ensino, reabilitação física, terapia ocupacional, fisioterapia e cirurgias plásticas corretivas.

“Durante a pandemia, estas atividades foram suspensas a partir de 17 de março de 2020, sendo mantidas apenas as atividades remotas. Agora em janeiro de 2021, os estudantes voltaram a frequentar o CECS e estão participando das atividades da campanha de vacinação da população em Bauru (contra a covid-19), em unidades de saúde e postos avançados designados pela Secretaria Municipal de Saúde. Estamos planejando o retorno às atividades em unidades de saúde e hospitais tão logo as condições epidemiológicas permitam e os alunos tenham a segunda dose da vacina e estejam imunizados. Neste período, estamos mantendo as atividades teóricas e as tutorias de forma remota. Em breve voltaremos parte da tutoria no formato presencial, atendendo às normas sanitárias do Plano USP”, explana.

A partir de uma circular da Pró-Reitoria de Graduação da USP, o diretor da FOB-USP decidiu pelo retorno presencial dos três cursos de graduação – Odontologia, Fonoaudiologia e Medicina –, para reposição de atividades práticas, laboratoriais e principalmente as clínicas. 

Estudantes de Medicina da FOB na campanha de vacinação contra a covid-19 em Bauru - Foto: Curso de Medicina da FOB

De acordo com o professor Carlos Ferreira dos Santos, “o retorno aconteceu de forma gradual e escalonada a partir de 4 de janeiro de 2021. Na primeira semana, os alunos dos três cursos foram testados para covid-19 por RT-PCR em tempo real no Laboratório de Farmacologia da FOB-USP. Com a garantia de que estavam negativos, os alunos passaram por treinamento para uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) e foram orientados sobre regras de biossegurança, para então iniciarem os atendimentos com segurança nas clínicas, que estão funcionando com 50% de sua capacidade”.

Padrão USP

A implantação efetiva do Hospital das Clínicas de Bauru por parte do Governo do Estado de São Paulo – prevista no projeto delineado para o Curso de Medicina –, além de ampliar a assistência para a população do município e região, é importante para que a USP possa avançar na criação de uma unidade própria para o curso – a Faculdade de Medicina de Bauru, tendo como embrião o HRAC-USP.

“Desde o início, o projeto prevê que os atuais servidores do HRAC continuarão vinculados à USP e com a folha de pagamento honrada pela Universidade, por meio da nova unidade a ser criada, a Faculdade de Medicina, e atuando no mesmo local e mesmas funções dentro do hospital. Já as novas contratações, os custos com manutenção, atendimentos e aquisição de novos equipamentos para o complexo hospitalar, composto pelas Unidades 1 e 2 do HRAC [prédio original e predião azul, respectivamente] – hoje custeados pela Universidade de São Paulo – ficariam sob responsabilidade da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP). Essa assunção é primordial para que a USP possa finalizar o projeto de criação de uma Faculdade de Medicina e apresentá-lo ao Conselho Universitário”, frisa o dirigente.

Santos reforça que, enquanto isso, o Curso de Medicina seguirá com qualidade. “Em 2022, a primeira turma de Medicina da FOB-USP iniciará o quinto ano e o internato. A rede hospitalar e de saúde estadual e municipal de Bauru é uma das mais completas do Estado e, mesmo sem o HC em operação, tem estrutura suficiente para garantir a formação dos estudantes, tanto que alunos de outras cidades já fizeram internato em Bauru. Já temos convênio firmado para essa finalidade. Nesse contexto, o HC será mais um importante ambiente de prática para os futuros médicos e demais estudantes da área da saúde, potencializando o cenário de formação. Entretanto, mesmo sem o HC, o Curso de Medicina manterá a qualidade e padrão USP”, assegura.