17ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, a Febrace, na capital paulista - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Entre os dias 19 e 21 de março foi realizada, na Cidade Universitária, em São Paulo, a 17ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace). Organizada pelo Escola Politécnica (Poli) da USP, é o maior evento do tipo no País.
A feira abre espaço para que estudantes do ensino fundamental (8º e 9º anos), médio e técnico de escolas públicas e particulares de todo o Brasil apresentem projetos com fundamento científico, nas diferentes áreas das ciências e da engenharia.
Em 2019, a Febrace ocupou, pela primeira vez, o prédio do Inova USP, novo centro de inovação da Universidade. “O fato de estarmos nessa pré-estreia do espaço tem um valor simbólico. Qual a mensagem que estamos transmitindo para os estudantes e professores? De que estamos formando inovadores”, afirma a coordenadora da Febrace e professora da Poli, Roseli de Deus Lopes.
Roseli de Deus Lopes, professora da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e coordenadora geral da Febrace - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens
Alunos de mais de mil municípios brasileiros já foram alcançados pela iniciativa. “Vamos acompanhando alguns jovens e professores, e já temos algumas evidências de que esse tipo de trabalho acelera a carreira deles, com doutorados sendo realizados logo após a primeira graduação”, comemora Roseli.
Neste ano foram apresentados 332 projetos desenvolvidos por 751 estudantes de todos os estados do País, representatividade que a organização quer aumentar. Segundo Roseli, a Febrace procura fazer ações mais focadas em regiões com pouca participação.
Participar da mostra oferece aos estudantes a oportunidade de fazer parte da delegação brasileira na Intel ISEF, maior feira pré-universitária de ciências do mundo, entre outros prêmios.
Confira a seguir alguns dos projetos apresentados na edição 2019 da Febrace:
Wictória Santos, 14 anos, Sesi, Maceió-AL
Acusticoco - painéis para condicionamento acústico composto por fibra de coco aplicados a salas de aula
Projeto para produção de placas a partir da fibra das cascas do coco seco, rejeitadas após retirada do fruto. O objetivo é ajudar no condicionamento acústico em salas de aula. Os painéis ajudam a diminuir o barulho dentro do local e impedem a interferência de sons externos.
Segundo a estudante, os testes apresentaram bons resultados. O produto poderia ajudar no processo de ensino-aprendizagem dos estudantes ao tornar o ambiente mais silencioso, reduzir o cansaço e proporcionar melhor concentração.
Gean Silva, 18 anos, Colégio Olimpus, Arapongas-PR
Biopolímero enriquecido com fibra de bananeira como alternativa ao plástico
O plástico tem alto impacto ambiental por ser produzido em grande escala, ser descartado de maneira inadequada e ter um longo processo de decomposição. Este projeto propõe um plástico biodegradável a partir da reciclagem do tronco da bananeira, que é um resíduo das plantações. O produto também utiliza outros materiais biodegradáveis e de baixo custo.
Entre as vantagens do material está a sua característica atóxica. Segundo Gean, a ideia também é proporcionar uma fonte de renda extra para os trabalhadores rurais que vivem dessa cultura.
Maria Pennachin, 17 anos, Escola Estadual Culto à Ciência, Campinas-SP
BioCanudo: uma alternativa ecológica para a produção de canudinhos biodegradáveis
Este é um canudo biodegradável e comestível feito à base de gelatina e inhame. Dependendo do líquido e da temperatura, o material pode ficar por até 12 horas na bebida sem se dissolver. Por isso, é possível até mesmo escolher o sabor que o canudo terá.
Para os veganos, há a possibilidade do canudo ser feito a partir do ágar-ágar, uma espécie de gelatina feita com algas marinhas. O biocanudo tem a maleabilidade como uma das suas características, podendo ser adaptado a pessoas com dificuldades motoras.
O projeto está em processo de patente em parceria com o Instituto de Química da Unicamp. “Mais do que um produto, eu enxergo esse projeto como uma ideia. Os canudinhos são o começo da luta contra os plásticos nos oceanos”, explica Maria.
Gabriel Mota e Letícia Rocha, 17 anos, Etec Bento Quirino, Campinas-SP
Rice Energy
A maior parte das termelétricas utilizam combustíveis fósseis. A ideia do projeto é contribuir para reduzir o uso desse tipo de matéria-prima, gerando energia por meio das cascas do arroz.
Os estudantes também investigaram a utilização das cinzas da casca do arroz para produção de dióxido de silício (pode ser aplicado em concreto de alta resistência com isolamento térmico), sabão com óleo vegetal (substituindo a soda cáustica pela cinza concentrada) e um sabão anti manchas (a partir do ácido fítico vindo do arroz).
Mateus Colombo, 18 anos, Escola Estadual Elisa Tramontina, Carlos Barbosa-RS
Estudo da agregação de extratos naturais à bio-mulching para uso na agricultura como forma de prevenção e controle de pragas
O mulching é uma técnica que utiliza um plástico preto para cobrir o solo, com o objetivo de impedir o crescimento de plantas daninhas. O projeto quer diminuir o uso de agrotóxicos a partir da técnica de mulching, mas utilizando um material biodegradável.
O bio-mulching com melhor resultado foi o produzido a partir da casca de laranja, que apresentou durabilidade de três meses. Foram adicionados extratos e essências para que o material também tivesse ação repelente. A essência que apresentou o melhor resultado foi o da pimenta
Henrique Backers e Bruno Matos, 19 anos, Fundação Escola Técnica Liberato, Novo Hamburgo-RS
One Guitar: tecnologia assistiva no auxílio rítmico do violão para pessoas sem um dos membros posteriores
Esse projeto tem como intuito auxiliar pessoas sem um dos braços a aprender (ou continuar) a tocar violão. Um dispositivo simula a mão que produziria o ritmo – há uma interface de controle para que a pessoa selecione as funções que serão executadas nele.
Um dos fatores que motivou a criação do projeto foi a percepção dos estudantes de que os projetos de acessibilidade tratam, geralmente, apenas de questões básicas, como transporte ou trabalho, deixando de lado o lazer e o entretenimento.
Andrey Lima e Caroline Rodrigues, 18 e 19 anos, Etec Bento Quirino, Campinas-SP
Austin
O Austin busca ajudar psicólogos no tratamento de pacientes com Transtornos do Espectro Autista (TEA). Uma das ferramentas é um site com informações sobre autismo e a outra é um robô que auxilia na comunicação de crianças diagnosticadas com TEA – o paciente pode, por exemplo, clicar em figuras que representam seu humor.
A ferramenta ajuda a interação com crianças em momentos da consulta em que não é possível o diálogo. O foco é proporcionar entretenimento e diversão para crianças entre 5 e 10 anos.
Eduarda Ferreira e Helena Souza, 18 e 19 anos, Fundação Escola Técnica Liberato, Novo Hamburgo-RS
Nanocris: desenvolvimento e caracterização de nanocápsulas de núcleo lipídico contendo crisina para tratamento de melanoma cutâneo
A ideia do projeto é oferecer uma alternativa para ajudar no tratamento com quimioterapia. A proposta é encapsular uma substância natural para aumentar o potencial de matar células cancerígenas. Esse processo é feito porque ao usar a substância de forma livre, ela é rapidamente liberada pelo corpo e não tem o efeito desejado.
Com nanocápsulas, as substância podem atingir diretamente o tecido desejado, sem afetar as células saudáveis ao redor.
Luan Moreira, Rhanna Souza, Maria Paula Santos, 18 anos, IFMS Campus Campo Grande, Campo Grande-MS
SOS Mulher: aplicativo de proteção à mulher para casos de estupro e violência
O principal objetivo do projeto é evitar a agressão às mulheres, seja ela física, psicológica ou sexual. A usuária realiza o cadastro no aplicativo e ativa uma palavra-chave de sua preferência. Em uma situação de perigo, ela deve dizer essa palavra, que fará o aplicativo enviar automaticamente uma mensagem para a polícia com sua localização em tempo real, seus dados pessoais e ficha médica.
A mensagem também pode ser encaminhada a contatos de emergência previamente cadastrados. Outros aplicativos e dispositivos de segurança disponíveis atualmente exigem que a pessoa pegue o telefone, desbloqueie a tela e tenha que acioná-los, o que demanda tempo e atenção.
Fábio Silva e Hellen Almeida, 18 anos, IFAP Campus Macapá, Macapá-AP
Utilização do xadrez para o ensino da matemática no Amapá
Os estudantes do Instituto Federal do Amapá tiveram a ideia de usar o xadrez no ensino de matemática. Para desenvolver o método, foram ouvidas opiniões de enxadristas amapaenses. A proposta é ensinar xadrez básico, aplicar exercícios durante a partida e realizar um teste avaliativo final.
98% dos entrevistados pela pesquisa acreditam que o xadrez influencia no desempenho matemático e o mesmo percentual concorda com a introdução do xadrez no ensino regular.