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Considerado um dos jornais universitários mais antigos do Brasil pertencentes a uma entidade estudantil, O Politécnico está completando 80 anos e comemora a data com exposição, de 18 a 30 de setembro, na Biblioteca Latino-Americana Victor Civita do Memorial da América Latina. O jornal é produzido pelo Grêmio Politécnico da USP, entidade que representa os mais de 6 mil alunos da Escola Politécnica (Poli) da Universidade e que já acumula mais de 121 anos de histórias e conquistas. A mostra vai reunir edições de seu acervo, que conta um pouco da história desse periódico, que se confunde com a história da própria USP. No dia da inauguração, às 12h, haverá também um painel sobre o papel do jornalista na atualidade e a importância da contribuição do jornalismo universitário na sociedade brasileira, com a presença de profissionais da imprensa e também de professores e alunos da USP.
O público vai poder ver alguns dos exemplares históricos desse jornal, por onde passaram estudantes da Poli-USP que mais tarde se tornaram figuras célebres no Brasil, como o ex-governador de São Paulo Mário Covas (1930-2001), o ator Carlos Zara (1930-2002) e seu irmão, o ex-deputado federal Ricardo Zarattini Filho (1935-2017), o fotógrafo Thomaz Farkas (1924-2011), um dos pioneiros da fotografia moderna no Brasil, a empresária Cristina Junqueira (1982-), fundadora do Nubank e segunda mulher mais rica do Brasil, entre tantos outros nomes que contribuíram para o desenvolvimento econômico e cultural do País.
A lista de colaboradores é grande e ainda inclui personalidades como o empreendedor Pedro Wongtschowski (1946-), importante nome da Engenharia Química brasileira, com atuação na Oxiteno, no Grupo Ultrapar e na Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo); Luiz de Queiroz Orsini (1922-2018), Professor Emérito da Poli-USP e um dos inovadores do ensino da Engenharia Elétrica no Brasil, com a introdução do uso de computadores como ferramenta de estudo; Paulo Blikstein (1972- ), professor de Comunicação, Mídia e Design de Tecnologias de Aprendizagem na Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, e profissional de referência na introdução de novas tecnologias na aprendizagem de Ciência, Computação, Engenharia e Matemática; e Adolfo Lemes Gilioli (1921-2012), um dos fundadores do jornal O Politécnico e da Academia Linense de Letras em sua cidade natal, Lins.
“Estar como editor-chefe d’O Politécnico ao lado do Hoff (Pedro Paulo Lanza, que também é editor e diagramador) neste ano é desafiador e, até por isso, muito recompensador”, afirma Diego Roiphe de Castro e Melo. “Desde que começamos nosso trabalho em janeiro, nos propusemos a garantir que cada matéria publicada, cada post e, principalmente, cada edição estivesse à altura da vasta história deste jornal”, continua. Segundo ele, organizar a exposição, perscrutando toda a história registrada nas páginas do acervo e também nos depoimentos de ex-redatores e editores, mostra a grandiosidade desse periódico. “Ter este meio de expressão, debate e diálogo na Universidade é imprescindível”, conclui.
Como um dos jornais universitários mais antigos do País, O Politécnico passou por diversas fases, mas com circulação ininterrupta desde sua criação, quando foi registrado no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) por Adolfo Lemes Gilioli. É constituído por uma equipe editorial de alunos e alunas da Escola Politécnica da USP, que se reúnem semanalmente para a troca de ideias e montagem de textos e edições. “O Politécnico tem, assim, tanto um imenso impacto enquanto meio de diálogo e reflexão sobre temas relevantes para os estudantes, quanto como espaço de livre expressão, pessoal, crítica e artística, contribuindo para inclusão e pertencimento na Universidade”, comenta Diego, acrescentando que a publicação valoriza a subjetividade individual e coletiva, sem nunca deixar de ser atual e irreverente.
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Exemplares históricos
Fundado em 1944 por estudantes da Poli USP, O Politécnico nasceu em plena ditadura do governo Getúlio Vargas, e foi registrado no DIP como um boletim informativo, o que impedia que anúncios custeassem as despesas da publicação, mas nem por isso deixava de ser um informe combativo e atuante no meio estudantil e acadêmico já desde seu surgimento. Como está descrito no site, “tal designação [de boletim] se deve à relação dos politécnicos com o Estado Novo. Já havia uma campanha do Grêmio contra a ditadura varguista, e o jornal endossou essa atuação. A pressão se manteve, e, em abril de 1945, O Politécnico defendeu a anistia aos presos políticos do regime”. Nos anos seguintes, o jornal seguiu seu padrão de manter um diretor responsável e, a partir da 12ª edição, foi integrado ao Grêmio Politécnico definitivamente.
Nos seus 80 anos de existência, O Politécnico testemunhou, documentou e se posicionou a respeito de fatos históricos de grande importância para o País, como o movimento “O Petróleo é Nosso”, retratando as opiniões dos estudantes e o embate com a elite então chamada de “entreguista”; a “Campanha Paula Souza para Alfabetização de Adultos”, iniciativa dos alunos do Grêmio Politécnico da Escola Politécnica, que antecedeu a criação da própria USP, e que mais tarde deu origem à criação do Instituto Paula Souza, de ensino técnico no Estado de São Paulo; o Golpe de Estado de 1964 no Brasil, quando marcou sua forte presença no movimento estudantil, ao lado de movimentos de camponeses, operários e outros setores da sociedade, em oposição ao militarismo e à suspensão de direitos civis; a prisão de estudantes da USP durante o regime militar, no início dos anos 1970; o “show proibido” de Gilberto Gil na Poli, em 26 de maio de 1973, como denúncia da juventude universitária contra a repressão política e social da época.
E continuou registrando outros movimentos, como o das “Diretas Já”, entre os anos de 1983 e 1985, para retomada das eleições diretas para presidente da República, que não ocorriam desde 1964 com a implantação do regime militar no País; a aprovação da Constituição de 1988, conhecida como a Constituição Cidadã, que inaugurou um novo momento jurídico e institucional no Brasil, com a ampliação das liberdades civis e dos direitos e garantias individuais; isso e muito mais até chegar à recente pandemia de covid-19, quando alunos da Escola Politécnica, em conjunto com o Instituto de Física e a comunidade científica da USP, contribuíram não só com a divulgação de informações técnicas e médico-científicas, mas também com a criação de ventiladores pulmonares artificiais e a manutenção corretiva desses equipamentos, que foram cruciais para salvar milhares de vidas no País. Segundo o editor, essas e inúmeras outras contribuições importantes para a sociedade brasileira fazem parte da história do jornal O Politécnico.
Exposição 80 anos do jornal O Politécnico
Data: de 18 a 30 de setembro, de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h, e sábados, das 10h às 15h; dia 18, às 12h, haverá um painel sobre o papel do jornalista na atualidade e a importância da contribuição do jornalismo universitário na sociedade brasileira
Local: Biblioteca Latino-Americana Victor Civita, no Memorial da América Latina
Endereço: Av. Mário de Andrade, 664, Barra Funda, São Paulo
Gratuito
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