Hospital Universitário da USP cria “gripário” e amplia atendimento a gestantes de alto risco

Isolamento de pacientes com sintomas de gripe é uma das medidas adotadas pelo hospital no enfrentamento ao novo coronavírus; parceria com HC transfere casos confirmados e recebe grávidas para acompanhamento pré-natal

05/06/2020

Texto e arte: Tabita Said

A pandemia causada pelo novo coronavírus tem levado hospitais do mundo todo ao limite da capacidade de atendimentos. No Brasil, a evolução da doença posiciona o país como segundo maior no mundo em números de casos confirmados, atrás apenas dos Estados Unidos. Neste cenário, a adaptação das instituições de saúde para lidar com a crise sanitária se configura, ainda, em um desafio diário para vencer dificuldades logísticas e de suprimentos.

O Hospital Universitário (HU) da USP desenvolveu uma série de ações para atender aos novos tempos. Uma comissão foi criada para estabelecer novos protocolos de atendimento, minimizar os impactos à saúde dos funcionários pertencentes ao grupo de risco e reorganizar a distribuição dos equipamentos de proteção individual, os EPIs. “Estamos seguros de estar contribuindo para a segurança dos trabalhadores de saúde do HU na melhor forma do que é preconizado pelas normas técnicas vigentes”, afirma o superintendente do hospital, Paulo Francisco Ramos Margarido. “Abrimos o setor do gripário e paramos as atividades assistenciais de rotina, tais como consultas, exames e cirurgias agendadas”, conta. As medidas visam reduzir a exposição de indivíduos ao ambiente hospitalar, bem como evitar o trânsito de pessoas nesse momento de isolamento social. 

Paulo Margarido, superintendente do HU - Foto: arquivo pessoal

O hospital se concentra agora nos atendimentos de emergência, pré-natal de alto risco e neonatalogia, além de procedimentos oftalmológicos e otorrinolaringológicos, como tratamento de glaucoma congênito e colocação de implante coclear em crianças com perda da capacidade visual e auditiva. 

Os números de atendimentos do gripário têm sido divulgados em boletins semanais, preparados pela superintendência do hospital com base nas discussões do Comitê Executivo HU Não-Covid. O boletim também traz informações de prevenção à doença e avisos sobre os novos fluxos estabelecidos no hospital.  Outro importante locus de troca de informações e de recebimento de queixas é o Grupo Ampliado de Discussão, composto por chefes de departamento, representantes discentes e de trabalhadores do Centro Diagnóstico.   

Freando o vírus

Porta 2

Pacientes da comunidade USP que chegam ao HU
com tosse, dor de garganta e sintomas de gripe são encaminhados ao gripário, que tem uma entrada alternativa à porta principal do hospital. 

Exame

Pacientes com sintomas leves são afastados por um período de três dias e recebem orientação de retorno após 72h para colher o exame de PCR. Ele detecta a presença do vírus por meio de material coletado do nariz e da garganta do paciente sintomático.

Acompanhamento

Os casos são acompanhados por um grupo voluntário de alunos de medicina, que busca informações sobre o estado de saúde dos pacientes a cada 48 horas, por telefone.

Teste positivo

Os casos confirmados são encaminhados ao Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP, parceiro do HU, que conta com uma unidade exclusiva para tratamento de pessoas infectadas pelo coronavírus.

Isolar uma área do hospital para recebimento, atendimento e encaminhamento de casos suspeitos de covid-19 é uma recomendação de diversos órgãos reguladores de profissionais da saúde, entre eles o Conselho Federal de Enfermagem e o Conselho Federal de Medicina. A ação garante o isolamento do paciente com suspeita de infecção por Sars-CoV-2 (que é o agente causador da atual pandemia) e preserva as demais dependências do hospital, além de proporcionar maior rapidez no atendimento, conforme instrui a Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Os médicos do gripário estão paramentados para aquilo. Se o paciente evolui para uma insuficiência respiratória, dentro desse espaço temos condições de entubar, fazer a ventilação e pedir a transferência para o nosso parceiro, que é o Hospital das Clínicas.
Paulo Margarido, superintendente do HU

Área interna de atendimento e recepção do gripário - Fotos: Márcia Bevilacqua e Adriana Perroni

A readequação do espaço, por outro lado, não diminuiu os cuidados do hospital com quem atua na linha de frente. “Os médicos do gripário estão paramentados para aquilo. Se o paciente evolui para uma insuficiência respiratória, dentro desse espaço temos condições de entubar, fazer a ventilação e pedir a transferência para o nosso parceiro, que é o Hospital das Clínicas”, relata Margarido.

De acordo com o superintendente, cada setor exige EPIs diferentes, mas garante que não há falta deles, desde a portaria até os centros de internação. Ainda de acordo com comunicado do Reitor, profissionais com idade superior a 60 anos e com comorbidades foram realocados, buscando minimizar riscos à sua saúde. Para esse grupo, foram aplicados regimes de redução de horas e jornadas diferenciadas.

Atendimentos

Embora a função primordial de um hospital universitário seja apoiar o desenvolvimento de pesquisas e treinar novos especialistas nas práticas clínicas e cirúrgicas, o HU figura como um centro de referência na assistência hospitalar de média complexidade da região oeste da capital. Em 2019, o hospital realizou mais de 15 mil atendimentos, entre internações, atendimentos de emergência, consultas ambulatoriais e cirurgias. Com a chegada da pandemia, o número de atendimentos de emergência no mês de abril deste ano já se aproxima à média do ano passado inteiro. 
Veja a seguir a média dos principais atendimentos: 

Consultas

list

4.277 

atendimentos ambulatoriais

em abril de 2020. 59% destes atendimentos foram realizados pela Clínica Obstétrica, entre consultas e exames a gestantes de alto risco.

Emergência

4.063

casos de urgência

O HU recebe pacientes encaminhados pelos sistemas de urgência e emergência da cidade de São Paulo. Em 2019, o hospital realizou 5.638 atendimentos em média, por mês.

Internações

221

cirurgias

As internações deste ano superam as do ano passado. Foram 847 em abril, contra uma média mensal de 606 em todo o ano de 2019. Deste total de internações, foram realizados 221 procedimentos cirúrgicos, enquanto no ano passado a média de cirurgias foi de 287.

Leitos

65

novos leitos

O HU recebeu 65 novos leitos para internação nos setores da obstetrícia, neonatalogia, oftalmologia e otorrinolaringologia, 21 apenas para obstetrícia de alto risco. No total, o hospital conta com 203 leitos.   

A vida não para

A parceria formal entre HC e HU estabeleceu um protocolo de encaminhamento dos casos confirmados de coronavírus. Em contrapartida, o HU passou a realizar o pré-natal de gestações de alto risco, que antes estavam sendo acompanhados pelo HC. A alta no número de consultas ambulatoriais e o aumento do número de internações, por exemplo, refletem esse trânsito. “A gestante de alto risco tem mais chances de complicações pelo coronavírus. Então, um ambiente com menor possibilidade de contágio é o ideal”, reforça Margarido. 

Outro resultado dessa parceria foi o aumento no número de leitos destinados às gestantes e recém-nascidos. O aumento de 21 leitos para obstetrícia de alto risco propiciou o incremento de cerca de 90% no número de partos realizados, passando da média de 186 partos por mês em 2019 para 353 em abril 2020. 

Também houve incremento no número de consultas ambulatoriais e exames para gestantes. O hospital realizou uma média de 137 destes procedimentos por mês, em 2019, e hoje já soma 2.580. “Fica evidente o ganho na assistência e no ensino da prática de obstetrícia”, conclui Margarido. “Ganham os pacientes e ganham as equipes do HC, que podem manter as cirurgias e, por fim, ganham as equipes do HU com a possibilidade de se conviver com tratamentos não realizados anteriormente no hospital”. 

Mais profissionais

A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo destinou 20 milhões de reais para o Hospital Universitário viabilizar novas contratações. Recentemente, em nome da bancada paulista na Câmara Federal, o coordenador, deputado Vinicius Poit (NOVO-SP), comunicou que indicou o HU como beneficiário de R$ 443.214,00, no remanejamento de emenda impositiva ao Orçamento Geral da União para enfrentamento ao coronavírus.

Até o mês de março foram efetivadas 115 novas vagas, trazendo ao hospital profissionais como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, técnicos de laboratório, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e nutricionistas. Novas 67 vagas estão em fase de publicação do edital. Com a autorização da Procuradoria Geral da USP para a realização de um processo seletivo simplificado, as contratações dispensarão a exigência de provas. Nessa modalidade, a seleção é feita por meio de avaliação de títulos e do conjunto de experiências anteriores.