Helio Lourenço: a história do reitor cassado pela ditadura

Dia 4 de agosto será lançado livro em comemoração ao centenário de nascimento do professor da USP

 01/08/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 04/08/2017 as 8:50
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Obra traz cartas e documentos escritos pelo professor, protagonista de uma época de profundas mudanças na Universidade e no País – Foto: Reprodução

No dia 4 de agosto, às 14 horas, haverá o lançamento do livro Helio Lourenço – Vida e Legado, da Edusp, em comemoração ao centenário de nascimento do professor e 65 anos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Como autores, seu filho e professor, Ricardo Brandt de Oliveira, da FMRP, e a jornalista Regina Prado.

A obra reúne as histórias, cartas e documentos do professor que foi cassado pelo Ato Institucional Número 5 (AI-5).

Em 1967, o então reitor da USP, Luís Antônio Gama e Silva, foi conduzido ao cargo de ministro da Justiça durante a presidência de Artur da Costa e Silva. Em 1968, Gama e Silva redigiu o AI-5, que atribuiu ao Executivo a concentração de poderes excepcionais, transformando o regime político numa ditadura.

Com a saída do reitor, assumiu a gestão da Universidade o professor Helio Lourenço, o vice-reitor em exercício.

Dias depois do AI-5, as entradas para o campus Cidade Universitária da USP, em São Paulo, foram bloqueadas pelas forças policiais e militares. Elas invadiram o Conjunto Residencial da USP (Crusp), alojamento estudantil, de onde expulsaram 1.500 moradores.  

Diante da situação, o professor Helio Lourenço, reitor da Universidade na época, reuniu conselheiros para elaborar documento em protesto contra a operação surpresa. Mas seu protesto não foi atendido, o que o levou a considerar o lugar sitiado.

Lourenço foi cassado do cargo de reitor e aposentado compulsoriamente junto com outros 23 professores, por iniciativa do próprio professor Gama e Silva, em um decreto direcionado à USP. Em seguida, Lourenço iniciou trabalho pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Unesco, no Oriente Médio e África, por dois anos. Em 1980, com a abertura política no Brasil, voltou para a Universidade.

Ele nasceu em Porto Ferreira, cerca de 230 km da capital de São Paulo, graduou-se em Medicina e cursou Ciências Sociais e Filosofia. Foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e do Departamento de Clínica Médica da FMRP. Liderou a reforma universitária na USP em 1968.

Uma das muitas curiosidades sobre a vida do professor presentes no livro, que se confunde com a história da USP e do próprio País, está na postura do professor. Com intensa rotina administrativa e inúmeros convites para eventos como inaugurações, posses e solenidades, tomou a decisão de não aceitar convites externos à Universidade. Dessa maneira, não participou de jantar oferecido à rainha Elizabeth II da Inglaterra, mas foi ao velório do professor Jorge Americano, professor da Faculdade de Direito (FD) da USP.   

O lançamento será no Espaço de Eventos do Bloco Didático da FMRP, campus da USP de Ribeirão Preto, Avenida Bandeirantes, 3900.


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