No Vale do Ribeira, moradores ganham formação ambiental da USP

Curso do Instituto de Geociências forma 43 condutores ambientais para parques do Estado

 12/07/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 13/07/2017 as 12:24
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Mirante Vale do Betary no Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira – Foto: Divulgação

No Vale do Ribeira, sul do Estado de São Paulo, entre os municípios de Iporanga, Eldorado e Barra do Turvo, está localizado o Parque Estadual da Caverna do Diabo. Lá, a grande atração é uma caverna com oito quilômetros de extensão. Um pouco à frente, há o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, mais conhecido como Petar: são 35 mil hectares de vales e montanhas cobertos de Mata Atlântica, com cavernas, cachoeiras, trilhas, comunidades tradicionais e quilombolas, sítios arqueológicos e paleontológicos. Os dois parques possuem núcleos de visitação e a maior parte dos passeios só pode ser feita com monitores locais credenciados.

E um grupo muito especial poderá atuar nessa monitoria a partir de agosto. São moradores da região que concluíram agora, no dia 6 de julho, o oitavo curso Formação de Condutor Ambiental Local para o Petar e a Caverna do Diabo, numa parceria do Instituto de Geociências (IGc) da USP com as prefeituras de Iporanga e Apiá, a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, o Parque Aventuras e a Fundação Florestal.

Distantes 300 quilômetros da capital paulista, os parques atraem diversos turistas para conhecer suas ricas paisagens e praticar esportes de aventura. Para trabalhar na condução de visitantes em Unidades de Conservação do Estado de São Paulo, o interessado precisa passar por um curso em estágio na unidade. A atividade de condutor ambiental local se distingue da do guia de turismo, cadastrado pelo Ministério de Turismo, e é restrita às Unidades de Conservação.

Vista interna da Caverna do Diabo – Foto: Divulgação

“Muitos moradores não têm essa certificação por falta de formação. Alguns até trabalham como condutores, mas de maneira informal, fora das áreas dos parques”, explica o professor do IGc Paulo César Boggiani, coordenador do curso de formação.

Ele lembra ainda que o grande problema da região onde estão os parques é a falta de emprego. Para suprir as duas demandas, o poder público e instituições da região se uniram para que a USP organizasse a formação de condutores locais ambientais. Foram abertas 40 vagas para qualquer morador de Iporanga, Apiaí e Eldorado e a procura foi alta, contando 240 inscritos.

As aulas começaram em fevereiro, no Núcleo Ouro Grosso do Petar, em Iporanga, que serve de base de apoio para cursos de monitoria ambiental, seminários, reuniões e de alojamento para escolas públicas. O curso teve 43 participantes. O conteúdo foi dividido entre a parte histórica sobre o parque, geologia, paleontologia e hidrologia da região, biologia, meio socioeconômico; e a parte prática, que consistiu em 120 horas de estágio obrigatório.

Alunos participam de atividade do curso de formação de condutores na Serra da Mantiqueira – Foto: Junior Petar

No total, foram 360 horas, com aulas ministradas tanto no Petar quanto no campus da USP na Cidade Universitária, em São Paulo. De acordo com Boggiani, a realização do curso é a melhor maneira de divulgar ciência além dos muros da academia. “É uma experiência fantástica porque você pega a informação, passa para o guia, que vai disseminar para os turistas.”

Além dos conceitos básicos sobre o meio físico, meio biótico e sociocultural local, os alunos receberam conhecimentos científico e cultural que se tem da região, produzidos por pesquisadores e pós-graduandos da USP, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Instituto Geológico (SMA), Arariba, Fundação Florestal e demais universidades e instituições de pesquisa.

Em abril, os alunos puderam conhecer a Cidade Universitária, onde receberam algumas aulas de geologia e paleontologia no Instituto de Geociências. Segundo o professor, muitos dos alunos nunca tinham vindo a São Paulo e tiveram a oportunidade de vivenciar o ambiente universitário.

Grupo em oficina no Instituto de Geociências da USP – Foto: Divulgação

Sandra de Oliveira, aluna do curso e moradora de Apiaí, já trabalhava como condutora de maneira informal, nos perímetros do parque, e obtinha renda de outros serviços feitos esporadicamente, os chamados “bicos”. Viu no curso a oportunidade de obter uma renda regular.

“Foi uma oportunidade incrível, aprendi muito sobre a minha própria região e, agora, vou poder trabalhar formalmente dentro do parque. Esse curso vai melhorar demais a minha vida. Se o professor oferecesse dez vezes o curso, eu o faria dez vezes porque valeu muito a pena”, conta Sandra.

Eduardo Simão também espera incrementar sua renda que, atualmente, vem da oficina de manutenção industrial do avô. O parque recebe um grande volume de excursões em dias úteis e alto número de turistas nos fins de semana, então a demanda por condutores aumenta. O curso vai permitir que ele trabalhe na oficina durante a semana e no parque nos demais dias.

Formatura do curso de condutor ambiental: moradores comemoram certificado emitido pela USP – Foto: Pedro Ernesto

“O curso ampliou muito a minha visão sobre outras áreas de estudo e me trouxe muito conhecimento sobre a geologia da região”, disse Eduardo, que já trabalhava com trilhas em cachoeiras e rapel, mas sempre fora do parque.

Boggiani fala com orgulho da melhora que a formação de condutor ambiental local vai proporcionar para a vida dos moradores e também para o ecoturismo da região. “Tem coisa que você só vai aprender com o condutor local, não adianta trazer guia profissional de outro lugar, só quem mora e vivencia o lugar sabe coisas mais específicas. O curso veio para acrescentar nesse conhecimento que eles já tinham e formalizar o trabalho deles.”

Petar

Criado por um decreto em 1958 pelo governo do Estado de São Paulo, tornou-se depois da década de 1990 um local para a prática de esportes de aventura com espeleo, rapel, boia cross, cascading e bike, e de algumas atividades como educação ambiental, fotografia e observação da natureza.

No Petar, há várias espécies de aves, como o socó boi-escuro (Tigrisoma fasciatum) e o gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus); mamíferos de grande porte, como pacas, antas e bugios; e muitas espécies de bromélias, orquídeas e uma das espécies mais importantes da Mata Atlântica, o palmito-juçara (Euterpe edulis).

O que mais atrai os visitantes são as cavernas. Há desde cavernas com enormes rios, com escaladas, mergulhos e rapéis, até cavernas com estruturas turísticas, como escadas, passarelas e pontes, feitas para facilitar o acesso e permitir que esse rico patrimônio seja explorado por todos.

Com informações do Petar

 

 


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