De criação de foguete a atendimento da população, PET amplia formação de alunos

Programa de Educação Tutorial oferece a graduandos possibilidade de atuar em ensino, pesquisa e extensão além da sala de aula

 02/06/2016 - Publicado há 8 anos
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Foguete Jupiter I em posição de lançamento no deserto de Utah na 10th IREC. Da esquerda para direita: Professor Edilson Hiroshi Tamai; Diego Ferraz Nazaré; Gustavo Calviño; Lucas Bitran Giestas - Foto: Divulgação/Pet Mecânica
Professor Edilson Tamai, Diego Nazaré, Gustavo Calviño, Lucas Giestas, com foguete do projeto Júpiter – Foto: Divulgação

Atendimento em organizações sociais, promoção de seminários, encontros científicos, ações junto à comunidade, pesquisas e construção de protótipos. Essas são apenas algumas das atividades que os alunos de graduação da USP realizam no âmbito do Programa de Educação Tutorial (PET).

O PET é uma iniciativa do Ministério da Educação que oferece bolsas de estudo a grupos de até 12 alunos orientados por um professor tutor, com o objetivo de contribuir para uma formação diferenciada de seus integrantes e para a melhoria da graduação.

Na USP, são diversos grupos PET em atividade, nas mais variadas áreas do conhecimento. Um deles é o PET-Mecânica da Escola Politécnica (Poli) da USP, orientado pelo professor Edilson Hiroshi Tamai.

O grupo tem como proposta formar o engenheiro mecânico para os tempos atuais e futuros. A ideia é que os estudantes realizem projetos de engenharia nos quais sejam considerados não apenas os aspectos técnicos, mas também ambientais, sociais e culturais.

“O nosso PET tem como diretriz ‘aprender fazendo’ e ‘refletir sobre o que se faz’. Para tanto, busca desenvolver atividades interdisciplinares com indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”, observa Tamai.

Entre as atividades do PET-Mecânica, o professor destaca o Fala Sério. Voltado a alunos do ensino médio, o projeto consiste em inspirar e motivar alunos da rede pública de ensino a atingirem seus potenciais por meio do estudo. Nas visitas, os estudantes da USP mostram que o ensino superior em universidade pública como a USP não é um sonho impossível.

Há também o projeto Júpiter que inclui atividades extracurriculares, como iniciação científica, estágios e participação em equipes para o desenvolvimento de projetos. O aluno de graduação pode ter a experiência de projetar e construir algo concreto, como um foguete. “O PET-Mecânica decidiu ampliar o leque existente no curso de Engenharia Mecânica, ‘incubando’ uma equipe de projeto e construção de foguetes, que participa de competições internacionais”, comenta Tamai.

A equipe do Pet-Mecânica irá, no dia 10 de junho, para os Estados Unidos participar da Rocket Engineering Competition (IREC) 2016, competição internacional de foguetemodelismo que reúne estudantes de 40 universidades de vários países. Eles levarão para a competição o foguete NABO.

Equipe quase completa que trabalhou no Jupiter I. Da esquerda para a direita, em cima: Luis Felipe Gaivão; Gustavo Calviño; Rodrigo Gatti; Professor Edilson Hiroshi Tamai; Victor Teodoro. Em baixo: Diego Ferraz Nazaré; Lucas Bitran Giestas; Rafael Nass de Andrade e o Jupiter I sendo apresentado na 10th Irec, em Green River, Utah - Fotos: Divulgação
Equipe quase completa que trabalhou no Jupiter I. Da esquerda para a direita, em cima: Luis Felipe Gaivão; Gustavo Calviño; Rodrigo Gatti; Professor Edilson Hiroshi Tamai; Victor Teodoro. Em baixo: Diego Ferraz Nazaré; Lucas Bitran Giestas; Rafael Nass de Andrade e o Jupiter I sendo apresentado na 10th Irec, em Green River, Utah – Fotos: Divulgação

Rafael Nass, aluno do terceiro ano de Engenharia Mecânica na Poli e bolsista desde 2014, é um típico líder PET ‘que faz tudo’. “Lidero a participação dos alunos do programa em alguns eventos como USP e as Profissões, Encontro Nacional dos Grupos PET, pesquiso, desenvolvo projeto etc.”

Nass ressalta que o Programa de Educação Tutorial possibilitou um grande amadurecimento em seu nível acadêmico e pessoal. “Foi nas atividades do PET que tive que correr atrás de disciplinas, teorias que até hoje não vi em sala de aula. Aprendi o uso de alguns softwares e ainda tive a oportunidade de apresentar um trabalho de iniciação científica no Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP (SIICUSP). A convivência com veteranos dedicados à faculdade e com o professor Edilson Tamai tornaram-me uma pessoa mais calma, confiante e eficiente”, analisa.

Foi o envolvimento com o PET-Mecânica que deu a Rafael Nass a certeza de querer trabalhar com foguetes e sistemas propulsivos no âmbito da engenharia. “Participei de uma competição internacional na qual levamos um foguete. Fui um dos alunos mais engajados no projeto, o que me levou a descobrir minha paixão por foguetes e sistemas propulsivos. Nunca tive o sonho de trabalhar na Nasa, mas, depois dessa oportunidade, a fascinação só cresceu”, afirma.

Além da odontologia

Outro Pet em atividade é o da Odontologia que trabalha em conjunto com o PET-Fonoaudiologia e é formado por alunos da Faculdade de Odotontologia de Bauru (FOB). Segundo a professora-tutora Linda Wang, participar do Programa de Educação Tutorial é permitir ao bolsista a realização de atividades extracurriculares, de caráter multi, inter e transdisciplinar, através das atividades de pesquisa, ensino e extensão. “O programa também visa proporcionar embasamento e orientações de cunho científico e pedagógico por meio de vivências, reflexões e discussões entre os membros, docentes colaboradores e tutor, e ampliar esta experiência para a comunidade interna e externa.”

“Tornei-me um ser humano mais completo” afirma João Gabriel Paulino Mazzon, bolsista no PET-Odonto desde 2014. “Ao seguir as diretrizes do programa me tornei um aluno diferenciado, pois consigo perceber necessidades e trabalhar em grupo para saná-las, ou ao menos amenizá-las. A visão global e humanística foi também incorporada ao meu atendimento clínico e relacionamento com os colegas de profissão”, analisa.

Uma das atividades que Mazzon mais gostou de fazer até hoje foi a visita ao centro espírita Vicente de Paulo. “Deparei-me com pessoas que precisavam de todo o tipo de ajuda (financeira, intelectual, afetiva etc.) e, acima de tudo, estavam dispostas a absorver tudo que podiam das nossas atividades”, lembra.

Alunos do Pet-Odonto desenvolvem atividades em escola pública - Foto: Divulgação/Pet Odonto
Alunos do PET-Odonto durante atividades em escola pública – Foto: Divulgação/Pet Odonto

Para Mazzon, participar do PET-Odonto estimula os alunos a saírem de sua zona de conforto e enfrentar assuntos nem sempre relacionados à odontologia como, por exemplo, planejamento familiar. Ele conta que as visitas eram feitas uma vez ao mês com o mesmo público durante um ano. “As pessoas compareciam ao centro espírita no último domingo do mês para receber cesta básica e participar de diversas atividades visando uma reestruturação conceitual e reingresso no mercado de trabalho. É interessante notar, em médio e longo prazo, como a informação e afeto transformam um indivíduo. O contato com a realidade daquelas pessoas escancara a desigualdade no nosso país e transforma a meritocracia em mera utopia”, avalia o estudante.

Trabalhar em grupo, ampliar a visão para além da graduação, desenvolver a habilidade de falar em público e ser um dentista com uma visão mais holística são alguns dos aprendizados que Beatriz Della Terra Mouco Garrido vem vivenciando desde que entrou no PET-Odonto, em janeiro deste ano.

Além das atividades desenvolvidas para a comunidade, tanto a universitária como de fora da USP, o grupo de alunos do segundo ano da Odontologia vem pesquisando como a comunidade acadêmica vê o grupo PET-Odonto. “Já estamos na fase de escrita do projeto e depois aplicaremos questionários dentro da comunidade”, observa.

A atividade que mais alegrou Beatriz foi participar do Programa Escola da Família, através da qual puderam visitar uma escola pública da cidade de São Paulo. “Na escola, elaboramos maneiras de transmitir conhecimento sobre saúde bucal para três públicos: crianças, adolescentes e adultos. Esta experiência me mostrou que um profissional da saúde tem que estar preparado para ajudar, no básico, todas as esferas da saúde”.


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