Série de conteúdos produzidos pelo projeto Ciclo22, que remete à reflexão da USP sobre quatro grandes marcos (1822, 1922, 2022 e 2122): o bicentenário da Independência do Brasil, o centenário da Semana de Arte Moderna, o tempo presente e os desafios para os próximos 100 anos

“Amérique Méridionale”, publicado em 1748 - Acervo Digital da Biblioteca da Marinha do Brasil

Exposição mostra importância da cartografia na independência do Brasil

Mapas estão em exibição no Museu Naval da Marinha; curadoria teve participação de professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP

 29/04/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 06/05/2022 as 10:30

Crisley Santana

“Independência ou morte!”. A célebre frase que teria sido dita por D. Pedro I às margens do Rio Ipiranga, em 7 de setembro de 1822, ficou marcada no processo de independência do Brasil. 

Antes da memorável sentença, entretanto, outras circunstâncias propiciaram o evento, como demonstra a exposição O Atlântico Sul na Construção do Brasil Independente, em exibição gratuita no Museu Naval da Marinha do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, até o próximo mês de junho. 

A mostra foi selecionada a partir de pesquisa realizada pela docente Iris Kantor, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP; Heloisa Meireles Gesteira, do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), e Maria Dulce de Faria, da Biblioteca Nacional do Brasil.

A exibição conta com cartas náuticas manuscritas inéditas e mapas gravados da coleção cartográfica dos séculos 18 e 19, preservados pela Biblioteca da Marinha do Brasil. “As cartas geográficas confeccionadas entre 1753 e 1822 demonstram que havia uma clara percepção das fronteiras territoriais, tanto continental quanto marítima, dada à acumulação de conhecimentos geográficos reunidos ao longo de mais de décadas de levantamento topográfico desde o Tratado de Madrid de 1750″, disse a professora Iris Kantor sobre a curadoria da exposição.

Íris Kantor leciona na USP a disciplina de história da historiografia colonial brasileira- Foto: Divulgação / Sintsef Ceara via YouTube

Iris Kantor, professora da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP - Foto: Divulgação / Sintsef Ceara via YouTube

A mostra está organizada em três ambientes. O primeiro deles tem como objetivo apresentar instituições relacionadas à formação científica dos cartógrafos que elaboraram mapas sobre o território brasileiro, incluindo também os instrumentos de medição usados para observações astronômicas durante as expedições.

Exposição “O Atlântico Sul na Cartografia do Brasil Independente” - Fotos: Divulgação/Marinha do Brasil

O segundo ambiente explora uma variedade de mapas náuticos manuscritos confeccionados nas cidades portuárias brasileiras e de Atlas marítimos impressos pelas Marinhas da Inglaterra, França e Espanha, produzidos no contexto das guerras pelo controle dos portos nos três oceanos. A produção desses mapas fez parte de uma estratégia política e comercial que visava transformar a Marinha numa alavanca do desenvolvimento econômico do império português.

“Amérique Méridionale”, publicado em 1748; autor principal: Jean-Baptiste Bourguignon d'Anville (1697-1782) - Acervo Digital da Biblioteca da Marinha do Brasil

“Amérique Meridionale”, publicado em 1785; autor principal: Maurille Antoine Moithey (1732-1805) - Acervo Digital da Biblioteca da Marinha do Brasil

“Plano hydografico da parte principal da bahia do Rio de Janeiro”, publicado em 1801; autor principal: Paulo Dias D'almeida () - Acervo Digital da Biblioteca da Marinha do Brasil

A exposição apresenta pela primeira vez cartas náuticas elaborados por membros da Sociedade Real Marítima e Militar, uma instituição em Lisboa em 1798. “Essa sociedade reunia engenheiros militares e navais, pilotos, astrônomos e matemáticos; e foi reinstalada no Rio de Janeiro em 1808″. A Sociedade funcionou com uma verdadeira academia científica, onde os trabalhos náuticos eram apresentados em sessões públicas, e eram apreciados segundo sua qualidade e acurácia”, explicou a professora Iris.

Já o último ambiente recria a Biblioteca Real dos Guarda-Marinhas, transferida de Portugal para o Brasil em 1808 com a vinda da família real portuguesa. O acervo deu origem à atual Biblioteca da Marinha do Brasil. Uma das atrações da exposição é o curioso Catálogo dos livros no qual se descrevem os itens bibliográficos e mapas do acervo em 1812. Trata-se de um documento manuscrito singularmente raro e essencial para o conhecimento da formação dos cartógrafos e engenheiros navais daquele período.

“O domínio do conhecimento náutico constituiu uma moeda de troca, do meu ponto de vista, no processo de emancipação política e na construção do futuro Estado imperial brasileiro, como se pode atestar pela qualidade das cartas geográficas do Atlântico Sul.  Não por acaso, essa produção coincide com o ápice da deportação de pessoas escravizadas embarcadas nos portos africanos nas primeiras duas décadas do século 19”, afirmou Iris Kantor.

Exposição “O Atlântico Sul na Cartografia do Brasil Independente” - Fotos: Divulgação/Marinha do Brasil

A exposição O Atlântico Sul na Construção do Brasil Independente é realizada pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha, com apoio institucional do Abrigo do Marinheiro (AMN) e patrocínio da Associação da Poupança e Empréstimo (Poupex).

 

Os mapas disponíveis nesta matéria fazem parte do projeto de digitalização de mapas e atlas da “Coleção cartográfica do Brasil de 1700 a 1822” da Marinha. Os documentos estão disponíveis para consulta on-line por meio do link: http://www.redebim.dphdm.mar.mil.br/pergamum/biblioteca/index.php

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