Estudiosos de oito países debatem trabalho, cuidado e políticas públicas

FFLCH organiza evento internacional em São Paulo de 15 a 17 de outubro; inscrições gratuitas

 11/10/2018 - Publicado há 6 anos
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Artesanato das mulheres Guna Yala (Panamá), imagem recriada por Renata Moreno

Trabalho, cuidado e políticas públicas: um olhar sobre a América Latina é o título do workshop internacional que será apresentado nos próximos dias 15, 16 e 17 de outubro na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Estarão presentes professores, pesquisadores e especialistas de oito países que vão analisar questões que, especialmente no momento turbulento das eleições no País, exigem reflexão de estudantes, pesquisadores, da população em geral e, especialmente, do poder público.

“O evento coloca no centro do debate a questão do trabalho, sobretudo do trabalho feminino, e a questão do cuidado em relação a pessoas em situação de vulnerabilidade, como é o caso dos idosos”, explica a professora Helena Hirata, da Universidade de Paris 8 – CNRS e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da USP. “Num contexto de aumento considerável do desemprego, e do aumento simultâneo de categorias sociais vulneráveis, como a dos idosos, é de suma importância discutir os temas que estão no título do nosso workshop: trabalho, cuidado, políticas públicas.”

A filósofa e socióloga Helena Hirata– Foto: Fernando Pettermann via FFLCH

O tema do cuidado ganhou destaque entre acadêmicos e formuladores de políticas. Sua crescente importância é correlata ao rápido envelhecimento da população.”

Filósofa e socióloga, Helena explica que, em um contexto de globalização crescente, pensar o trabalho e o cuidado no nível da América Latina como um todo é imprescindível. “É muito comum a comparação entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, países do norte e do sul. Nossa ideia é de que seria interessante fazer um estudo comparando os países dentro do sul, na América Latina, observando convergências e diferenças no trabalho de cuidado”, ressalta. “Outra questão é a da migração para o trabalho de cuidados. Tem gente que vai para os Estados Unidos, Espanha, Itália, mas também acontece o movimento sul-sul: cuidadores que migram de um país para outro na América Latina.”

O workshop é uma realização do Departamento de Sociologia da USP e do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). A organização é da professora Nadya Araujo Guimarães, do Departamento de Sociologia da USP e pesquisadora do Cebrap, e a co-organização é de Helena Hirata.

Segundo a professora Nadya, o cuidado é um tema especialmente relevante na conjuntura atual tanto no Brasil como na América Latina. “Temos testemunhado, em vários dos nossos países, um movimento de refluxo das políticas sociais de proteção e assistência, não por acaso implementadas a partir do movimento de redemocratização que se fez na América Latina nos últimos 30 anos”, esclarece. “Naquele momento, ampliaram-se formas de atuação do poder público e consignaram-se direitos tanto aos que demandam cuidado, como os idosos dependentes, as crianças e as pessoas com necessidades especiais, como às que proveem cuidado. No caso brasileiro, a Constituição de 1988, que agora completa 30 anos, foi decisiva para estabelecer passos importantes no sentido da responsabilidade social do Estado com respeito aos demandantes de cuidado.”

Nadya Araújo Guimarães: pesquisadora da USP e do Cebrap – Foto: Revista Nexus

As trabalhadoras do cuidado são, em todo o mundo, majoritariamente mulheres, pobres, negras, e sofrem uma opressão que conjuga a opressão de classe, de gênero, racial…” 

Socióloga e titular da Academia Brasileira de Ciências, Nadya faz questão de ressaltar: “O tema do cuidado ganhou destaque entre acadêmicos e formuladores de políticas. Sua crescente importância é correlata ao rápido envelhecimento da população e à célere demanda de serviços, de atenção, em especial a idosos e dependentes.”

Esse trabalho, segundo analisa Nadya, tem se mercantilizado diante do crescente engajamento econômico das chamadas donas de casa. “Significativamente, agora são outras mulheres aquelas que as substituem nessas tarefas, porém, de forma remunerada.” A professora observa que, apesar do avanço da regulamentação do trabalho em domicílio pela Emenda Constitucional em 2013, garantindo direitos às quase sete milhões de trabalhadoras domésticas, ainda há muito por fazer. “Para dar dois exemplos, há que regulamentar o trabalho das cuidadoras e universalizar o direito à creche, um direito da criança menor, mas também um direito da mãe trabalhadora.”

“A meta prioritária do workshop é avaliar conjuntamente, mobilizando pesquisadores de países como o Brasil, o Uruguai, a Argentina, o Chile e a Colômbia, quais são as especificidades de cada país e quais são os pontos comuns e transversais ao conjunto dos países da América Latina”, esclarece Helena. “Trata-se globalmente de pensar a evolução recente da economia do cuidado na América Latina. As diferenças e as semelhanças em termos de políticas públicas e de políticas sociais são um dos pontos do estudo comparativo.”

No decorrer do workshop serão analisadas também as realidades do Japão, Estados Unidos e França, além dos já citados países latino-americanos. Serão abordadas a divisão sexual do trabalho, a divisão internacional do trabalho, a luta antirracista e as políticas de proteção social. “Os conceitos como o de divisão sexual do trabalho ou de interseccionalidade, isto é, a interdependência das relações sociais de gênero, de raça e de classe, são conceitos bastante utilizados pelas especialistas da área de cuidados em nível latino-americano e internacional”, afirma Helena. “As trabalhadoras do cuidado são, em todo o mundo, majoritariamente mulheres, pobres, negras, e sofrem uma opressão que conjuga a opressão de classe, de gênero, racial. O estudo comparado das formas de discriminação e a luta contra as mesmas, como, por exemplo, a luta antirracista, diferente segundo os países latino-americanos, podem contribuir à reflexão sobre que políticas públicas e que tipos de governo são mais ou menos próximos dos ideais de justiça na base da ética do cuidado, subjacente aos estudos sobre o trabalho de cuidado que serão apresentados no workshop.”

O workshop tem início nesta segunda-feira, dia 15, às 17 horas. Será aberto com a palestra da pesquisadora Laís Abramo, da Divisão de Assuntos Sociais, Cepal, do Chile. No dia 16, terá a participação de Ruri Ito, professora da Universidade Tsuda, do Japão; das organizadoras do evento, professoras Helena Hirata e Nadya Araujo Guimarães; Karina Batthyany, do Departamento de Sociologia da Universidade da República, do Uruguai; Pascale Molinier, da Universidade de Paris 13, da França. No dia 17, terá a participação de Mara Viveros, da Universidade Nacional da Colômbia; Natacha Borgeaud Garciandia, do Instituto Flacso e Conicet, da Argentina; Irma Arriagada, do Centro de Estudos da Mulher, do Chile; Dora Munévar M., do Departamento de Comunicação Humana e Escola de Estudos de Gênero, da Universidade Nacional da Colômbia; Javier Pineda, do Centro Interdisciplinar de Estudos sobre Desenvolvimento da Universidade dos Andes, da Colômbia; Anne Posthuma, da Organização Internacional do Trabalho, Escritório do Brasil; e Evelyn Nakano Glenn, da Universidade da Califórnia, dos Estados Unidos.

Workshop internacional Trabalho, cuidado e políticas públicas: um olhar sobre a América Latina será apresentado nos dias 15, abertura às 17 horas, dia 16, às 8h30, e dia 17, às 8h30. Será sediado no prédio de Filosofia e Ciências Sociais (sala 24). Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, Cidade Universitária, São Paulo. As inscrições podem ser feitas até o dia 15 pelo formulário. Mais informações pelo tel. (11) 3091-3766. Acesse a programação

 

 


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