Equipe olímpica brasileira em Paris conta com participação de egressos da USP

São três atletas e 25 membros de comissões técnicas esportivas ou de equipes de organização do evento que estudam ou são formados na USP; o Brasil estará nos jogos com 277 esportistas olímpicos e 251 paralímpicos

 26/07/2024 - Publicado há 4 meses     Atualizado: 31/07/2024 às 13:57

Texto: Carolina Borin Garcia

Giulia Guarieiro, Alina Dumas e Aline Furtado, atletas olímpicas da comunidade universitária - Fotos: CBHB, Arquivo Pessoal e Instagram

Em 1936, nas Olimpíadas de Berlim, um aluno recém-formado na Escola Politécnica (Poli) da USP participava da equipe olímpica brasileira de atletismo. Ícaro de Castro Mello era na época recordista sul-americano de salto em altura e salto com vara e, apesar de não ter conquistado uma medalha olímpica, seguiu carreira como arquiteto e entrou para a história da arquitetura brasileira pela sensibilidade em reconhecer problemas da área voltada para a prática esportiva. Chamado “o arquiteto do esporte”, foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, recebeu vários prêmios e foi responsável pela produção de conjuntos esportivos como o Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

A história de Ícaro se repete, com a participação de membros da comunidade universitária em equipes olímpicas brasileiras. Como atletas, continuam sendo poucos, considerando o universo de mais de 95 mil alunos de graduação e pós-graduação: nos Jogos Olímpicos de Paris são apenas três, todas mulheres. Elas são Giulia Guarieiro (da Seleção Brasileira de Handebol Feminino), Alina Dumas (da Seleção Brasileira de Para-Remo) e Aline Furtado (da Seleção Brasileira de Rugby Feminino).

“No Brasil, a relação entre universidade e esporte profissional inexiste. A estrutura do esporte no Brasil depende dos clubes desde a iniciação, é diferente em outras partes do mundo onde a educação física e o esporte estão dentro da escola desde os anos iniciais de formação”, afirma Katia Rubio, professora associada da Faculdade de Educação (FE) da USP e coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos.

Katia Rubio - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Katia Rubio, professora da FE USP e coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Ícaro de Castro Mello, egresso da USP que participou das Olimpíadas de Berlim, em 1936 - Foto: Acervo Esporte Clube Pinheiros

Como membros de comissões técnicas ou como parte da organização, o número aumenta: são 25 pessoas auxiliando nos esportes e nas atividades dos Comitês Olímpico (COB) e Paralímpico Brasileiro (CPB). Ainda há três egressos da USP atuando na comissão técnica de equipes de outros países. Com a colaboração das assessorias das unidades, das Pró-Reitorias da USP e das assessorias das confederações das modalidades presentes, o Jornal da USP reuniu os nomes de 31 uspianos que participam dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024:

Atletas:

  • Giulia Guarieiro
    atleta olímpica da Seleção Brasileira de Handebol Feminino formada pela Escola de Comunicações e Artes (ECA)
  • Alina Dumas
    atleta paralímpica da Seleção Brasileira de Para-Remo e doutoranda na Faculdade de Medicina (FM)
  • Aline Furtado
    atleta olímpica da Seleção Brasileira de Rugby Feminino formada pela Escola de Educação Física e Esporte (EEFE)

Comissões técnicas:

  • Álvaro Casagrande Herdeiro – assistente técnico da Seleção Brasileira Feminina de Handebol e ex-aluno da EEFE
  • João Pedro Boccato analista de desempenho da Seleção Brasileira de Natação e ex-aluno da EEFE
  • Leonardo Leis – auxiliar técnico da Seleção Brasileira de Natação Paralímpica e ex-aluno da EEFE
  • Carolina Izabela de Lazari – fisioterapeuta da Seleção Paralímpica Brasileira de Paracanoagem e ex-aluna da da Faculdade de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito)
  • Gabriele Bonfim – técnica da Seleção Paralímpica Brasileira de Natação e ex-aluna da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH)
  • Rita Orsi – supervisora da Seleção Brasileira de Handebol, fez especialização na EEFE
  • Bruna Patrício – integrante da Confederação Brasileira de Vela (CBVela) em Paris, estudante do bacharelado em Educação Física na EEFE
  • Jéssica Rocha – fisioterapeuta da Seleção Feminina de Handebol e ex-aluna da Fofito
  • Arthur Elias – treinador da Seleção de Futebol Feminino do Brasil e ex-aluno da EEFE (não chegou a completar o curso de graduação na USP)
  • José Elias Proença – preparador físico da Seleção Masculina de Vôlei e ex-aluno da EEFE
  • Fabio Correia – preparador físico da Seleção Brasileira Feminina de Voleibol e ex-aluno da EEFE
  • Renato Bacchi – preparador físico da Seleção Brasileira Masculina de Voleibol e ex-aluno da EEFE
  • Ronaldo Kobal – fisiologista da Seleção Brasileira de Futebol Feminino e ex-aluno da EEFE
  • Marcelo Rossetti – preparador físico Seleção Brasileira de Futebol Feminino  e ex-aluno da EEFE
  • Ariel Roberth Longo – coordenador e preparador físico da equipe de Taekwondo e estudante de mestrado da EEFE

Equipe do COB/Time Brasil:

  • Thatiana Freire – gestora no COB na área de Desenvolvimento Esportivo e ex-aluna da EEFE
  • Paula Avakian – coordenadora de Tecnologia Esportiva do COB e ex-aluna da EEFE
  • Eduardo de Cillo – coordenador de Psicologia do COB e doutor pelo Instituto de Psicologia (IP)
  • Mateus Saito – médico do esporte especialista do Time Brasil e ex-aluno da FM
  • Antônio Carlos Moreno – ex-atleta da Seleção Brasileira de Voleibol, coach de treinadores e atletas do Time Brasil e ex-aluno da EEFE
  • Sandra Kawasaki – especialista de Esportes do COB e ex-aluna da EEFE
  • Moema Ramos – coordenadora International Partnership Coordinator no COB e ex-aluna da EEFE
  • Julia Ricci – equipe de protocolos e cerimonial dos Jogos Olímpicos e aluna do Instituto de Relações Internacionais (IRI)
  • Andréa Ariani da Cruz Leibovitch – gestora esportiva da área de planejamento e desempenho do COB e ex-aluna da EEFE

Voluntário:

  • Thomaz Rodrigues Gomes Vilas Boas – voluntário nas Paralimpíadas de 2024 e ex-aluno da EEFE

Comissão técnicas de outros países:

  • Diogo Castro analista de desempenho da Seleção Olímpica de Handebol da Espanha e ex-aluno da EEFE
  • Gustavo Schirru treinador de Natação de Singapura e ex-aluno da EEFE
  • Samie Elias – analista de Performance da Federação Portuguesa de Natação e ex-aluno da EEFE

Uma Paris de símbolos

Os Jogos de 2024 carregam alguns símbolos. As edições dos eventos desse ano são marcadas pelo debate sobre a importância do aspecto cultural, saúde mental, sustentabilidade e equidade de gênero. A Comissão Organizadora propôs a Olimpíada Cultural até o final de setembro, em que inúmeros projetos artísticos serão espalhados pelo país para ampliar a conexão entre a cultura e o esporte, como afirmam os idealizadores. 

Quanto à sustentabilidade, têm sido tomadas medidas para fazer desses jogos os mais sustentáveis de todos os tempos, de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, com o apoio do WWF França, do Yunus Centre e da Unicef França. Ainda, há o objetivo de realizar as primeiras Paralimpíadas totalmente alinhadas com o Acordo do Clima de Paris. Para isso, tem se adotado medidas na Vila Olímpica e incentivado o uso de bicicletas durante os jogos pelos voluntários e organizadores.

No caso das Paralimpíadas, há ainda a meta de aumentar a visibilidade e quantidade de espectadores. As competições dos Jogos Paralímpicos serão transmitidas em mais de 100 países ao redor do globo. 

Paris 2024 também será a primeira edição dos Jogos Olímpicos da história a alcançar a paridade numérica de gênero, com mesmo número de atletas femininos e masculinos, e, além disso, voluntários também terão uma composição igualitária. “Essa equidade numérica é uma demanda represada das edições anteriores, que não foi alcançada antes por impedimento e agora se concretiza como resultado da luta de gerações de mulheres atletas”, destaca a professora da USP.

Parte da equipe olimpíca brasileira em Paris - Foto: Marina Ziehe/COB

Porém, apesar da paridade de gênero entre as atletas olímpicas, essa igualdade ainda não foi alcançada entre os técnicos e entre os atletas paralímpicos. Outra questão nesse sentido foi a proibição do uso do hijab esportivo nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, ou seja, ao mesmo tempo em que se avança tanto em relação ao número de mulheres, ainda há certos retrocessos que precisam ser continuamente debatidos e evidenciados.

Já a saúde mental é uma pauta que vem desde Tóquio ganhando destaque, quando figuras importantes do esporte mundial, como Simone Biles, decidiu não competir nos jogos para cuidar do seu bem-estar físico e psicológico. “As Olimpíadas são mais do que uma competição, são uma celebração e têm uma visibilidade muito maior que outros campeonatos”, disse Katia Rubio. 

“Aquilo que nós fazemos na psicologia do esporte no Brasil é focado nesse processo de humanização do atleta, que envolve obviamente saúde mental”, complementa a professora. Ela destaca ainda que, para além da boa performance, o esporte tem um significado muito mais amplo na vida daqueles que participam dos jogos. “Entendemos que no processo de humanização, o esporte entra como uma das experiências de vida dessa pessoa.”

Brasil terá a maior delegação paralímpica convocada para uma edição fora do país - Foto: Divulgação/Comitê Paralímpico Brasileiro

Panorama dos jogos

Para além de um evento esportivo, as Olimpíadas e as Paralimpíadas são um encontro internacional para celebrar e colocar em evidência a cultura e a história dos mais diferentes países do mundo. A edição de 2024 desses eventos começa hoje: as Olimpíadas acontecerão no período de 26 de julho a 11 de agosto, enquanto as Paralimpíadas serão realizadas entre os dias 28 de agosto e 8 de setembro de 2024.

De acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI), os Jogos Olímpicos neste ano contarão com um total de 48 modalidades esportivas. As novidades anunciadas são a inclusão do breaking como esporte e o caiaque cross como prova dentro da canoagem slalom. O surfe, skate e a escalada esportiva também são considerados esportes novos, porque, apesar de já terem integrado outras edições olímpicas, como a de Tóquio, ainda não estão inclusos definitivamente nos jogos. Já as Paralimpíadas terão 22 modalidades, sendo que o ciclismo é disputado em pista e também em estrada. O número de modalidades é o mesmo da edição anterior dos jogos.

A sede escolhida para este ano pelo Comitê Olímpico Internacional foi a França. Com essa escolha do COI, Paris vai se igualar a Londres, até então a única a sediar três edições das Olimpíadas na história. Os jogos aconteceram no país em 1900 e 1924 e, no caso das Paralimpíadas, é o primeiro ano que o país recebe o evento. 

Há a estimativa de que 206 delegações, isto é, países, e 10.500 atletas participem da edição de 2024 das Olimpíadas. De acordo com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a delegação brasileira contará com 277 atletas, classificados em 39 modalidades, a 3ª maior delegação olímpica do País. Dentre os atletas convocados, a maioria é feminina: a delegação conta com 153 mulheres (55%) e 124 homens (45%). Além disso, quase 90% dos atletas brasileiros que irão a Paris são beneficiados pelo programa Bolsa Atleta – programa do Ministério do Esporte brasileiro criado em 2005, que patrocina individualmente atletas e para-atletas de alto rendimento. 

No caso das Paralimpíadas, há a previsão da participação de 107 países e de 4.400 atletas, além de 2.200 acompanhantes. A delegação do Brasil será a maior delegação paralímpica convocada para uma edição fora do país. O atletismo é a modalidade com maior número de atletas classificados do País, além de ser historicamente a modalidade com mais medalhas na competição. Foram convocados 251 atletas com deficiência, além de 17 atletas-guia (sendo 16 do atletismo e um do triatlo), três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo.

Dentre as delegações, em ambos os eventos, estarão presentes os Atletas Individuais Neutros, grupo formado pelos atletas da Bielorrússia e Rússia. Por conta da Guerra na Ucrânia, o COI determinou que apenas 25 atletas poderiam competir com algumas sanções, como a não referência a símbolos estatais e impossibilidade de se inscrever em modalidades coletivas. A edição deste ano também é marcada pelo retorno da Coreia do Norte, após a saída de Tóquio 2020 devido ao contexto da pandemia de covid-19. 

Também estarão nos Jogos a Equipe Olímpica de Refugiados e o Time Paralímpico de Refugiados. A equipe de refugiados foi formada no Rio 2016. A seleção, que antes era formada por 10 integrantes, contará neste ano nas Olimpíadas com 36 atletas de 11 países. Pela primeira vez, a seleção competirá com emblema próprio.

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