Blog
Equipe olímpica brasileira em Paris conta com participação de egressos da USP
São três atletas e 25 membros de comissões técnicas esportivas ou de equipes de organização do evento que estudam ou são formados na USP; o Brasil estará nos jogos com 277 esportistas olímpicos e 251 paralímpicos
Giulia Guarieiro, Alina Dumas e Aline Furtado, atletas olímpicas da comunidade universitária - Fotos: CBHB, Arquivo Pessoal e Instagram
Em 1936, nas Olimpíadas de Berlim, um aluno recém-formado na Escola Politécnica (Poli) da USP participava da equipe olímpica brasileira de atletismo. Ícaro de Castro Mello era na época recordista sul-americano de salto em altura e salto com vara e, apesar de não ter conquistado uma medalha olímpica, seguiu carreira como arquiteto e entrou para a história da arquitetura brasileira pela sensibilidade em reconhecer problemas da área voltada para a prática esportiva. Chamado “o arquiteto do esporte”, foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, recebeu vários prêmios e foi responsável pela produção de conjuntos esportivos como o Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.
A história de Ícaro se repete, com a participação de membros da comunidade universitária em equipes olímpicas brasileiras. Como atletas, continuam sendo poucos, considerando o universo de mais de 95 mil alunos de graduação e pós-graduação: nos Jogos Olímpicos de Paris são apenas três, todas mulheres. Elas são Giulia Guarieiro (da Seleção Brasileira de Handebol Feminino), Alina Dumas (da Seleção Brasileira de Para-Remo) e Aline Furtado (da Seleção Brasileira de Rugby Feminino).
“No Brasil, a relação entre universidade e esporte profissional inexiste. A estrutura do esporte no Brasil depende dos clubes desde a iniciação, é diferente em outras partes do mundo onde a educação física e o esporte estão dentro da escola desde os anos iniciais de formação”, afirma Katia Rubio, professora associada da Faculdade de Educação (FE) da USP e coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos.
Katia Rubio, professora da FE USP e coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Ícaro de Castro Mello, egresso da USP que participou das Olimpíadas de Berlim, em 1936 - Foto: Acervo Esporte Clube Pinheiros
Como membros de comissões técnicas ou como parte da organização, o número aumenta: são 25 pessoas auxiliando nos esportes e nas atividades dos Comitês Olímpico (COB) e Paralímpico Brasileiro (CPB). Ainda há três egressos da USP atuando na comissão técnica de equipes de outros países. Com a colaboração das assessorias das unidades, das Pró-Reitorias da USP e das assessorias das confederações das modalidades presentes, o Jornal da USP reuniu os nomes de 31 uspianos que participam dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024:
Atletas:
- Giulia Guarieiro
atleta olímpica da Seleção Brasileira de Handebol Feminino formada pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) - Alina Dumas
atleta paralímpica da Seleção Brasileira de Para-Remo e doutoranda na Faculdade de Medicina (FM) - Aline Furtado
atleta olímpica da Seleção Brasileira de Rugby Feminino formada pela Escola de Educação Física e Esporte (EEFE)
Comissões técnicas:
- Álvaro Casagrande Herdeiro – assistente técnico da Seleção Brasileira Feminina de Handebol e ex-aluno da EEFE
- João Pedro Boccato – analista de desempenho da Seleção Brasileira de Natação e ex-aluno da EEFE
- Leonardo Leis – auxiliar técnico da Seleção Brasileira de Natação Paralímpica e ex-aluno da EEFE
- Carolina Izabela de Lazari – fisioterapeuta da Seleção Paralímpica Brasileira de Paracanoagem e ex-aluna da da Faculdade de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Fofito)
- Gabriele Bonfim – técnica da Seleção Paralímpica Brasileira de Natação e ex-aluna da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH)
- Rita Orsi – supervisora da Seleção Brasileira de Handebol, fez especialização na EEFE
- Bruna Patrício – integrante da Confederação Brasileira de Vela (CBVela) em Paris, estudante do bacharelado em Educação Física na EEFE
- Jéssica Rocha – fisioterapeuta da Seleção Feminina de Handebol e ex-aluna da Fofito
- Arthur Elias – treinador da Seleção de Futebol Feminino do Brasil e ex-aluno da EEFE (não chegou a completar o curso de graduação na USP)
- José Elias Proença – preparador físico da Seleção Masculina de Vôlei e ex-aluno da EEFE
- Fabio Correia – preparador físico da Seleção Brasileira Feminina de Voleibol e ex-aluno da EEFE
- Renato Bacchi – preparador físico da Seleção Brasileira Masculina de Voleibol e ex-aluno da EEFE
- Ronaldo Kobal – fisiologista da Seleção Brasileira de Futebol Feminino e ex-aluno da EEFE
- Marcelo Rossetti – preparador físico Seleção Brasileira de Futebol Feminino e ex-aluno da EEFE
- Ariel Roberth Longo – coordenador e preparador físico da equipe de Taekwondo e estudante de mestrado da EEFE
Equipe do COB/Time Brasil:
- Thatiana Freire – gestora no COB na área de Desenvolvimento Esportivo e ex-aluna da EEFE
- Paula Avakian – coordenadora de Tecnologia Esportiva do COB e ex-aluna da EEFE
- Eduardo de Cillo – coordenador de Psicologia do COB e doutor pelo Instituto de Psicologia (IP)
- Mateus Saito – médico do esporte especialista do Time Brasil e ex-aluno da FM
- Antônio Carlos Moreno – ex-atleta da Seleção Brasileira de Voleibol, coach de treinadores e atletas do Time Brasil e ex-aluno da EEFE
- Sandra Kawasaki – especialista de Esportes do COB e ex-aluna da EEFE
- Moema Ramos – coordenadora International Partnership Coordinator no COB e ex-aluna da EEFE
- Julia Ricci – equipe de protocolos e cerimonial dos Jogos Olímpicos e aluna do Instituto de Relações Internacionais (IRI)
- Andréa Ariani da Cruz Leibovitch – gestora esportiva da área de planejamento e desempenho do COB e ex-aluna da EEFE
Voluntário:
- Thomaz Rodrigues Gomes Vilas Boas – voluntário nas Paralimpíadas de 2024 e ex-aluno da EEFE
Comissão técnicas de outros países:
- Diogo Castro – analista de desempenho da Seleção Olímpica de Handebol da Espanha e ex-aluno da EEFE
- Gustavo Schirru – treinador de Natação de Singapura e ex-aluno da EEFE
- Samie Elias – analista de Performance da Federação Portuguesa de Natação e ex-aluno da EEFE
Uma Paris de símbolos
Os Jogos de 2024 carregam alguns símbolos. As edições dos eventos desse ano são marcadas pelo debate sobre a importância do aspecto cultural, saúde mental, sustentabilidade e equidade de gênero. A Comissão Organizadora propôs a Olimpíada Cultural até o final de setembro, em que inúmeros projetos artísticos serão espalhados pelo país para ampliar a conexão entre a cultura e o esporte, como afirmam os idealizadores.
Quanto à sustentabilidade, têm sido tomadas medidas para fazer desses jogos os mais sustentáveis de todos os tempos, de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, com o apoio do WWF França, do Yunus Centre e da Unicef França. Ainda, há o objetivo de realizar as primeiras Paralimpíadas totalmente alinhadas com o Acordo do Clima de Paris. Para isso, tem se adotado medidas na Vila Olímpica e incentivado o uso de bicicletas durante os jogos pelos voluntários e organizadores.
No caso das Paralimpíadas, há ainda a meta de aumentar a visibilidade e quantidade de espectadores. As competições dos Jogos Paralímpicos serão transmitidas em mais de 100 países ao redor do globo.
Paris 2024 também será a primeira edição dos Jogos Olímpicos da história a alcançar a paridade numérica de gênero, com mesmo número de atletas femininos e masculinos, e, além disso, voluntários também terão uma composição igualitária. “Essa equidade numérica é uma demanda represada das edições anteriores, que não foi alcançada antes por impedimento e agora se concretiza como resultado da luta de gerações de mulheres atletas”, destaca a professora da USP.
Porém, apesar da paridade de gênero entre as atletas olímpicas, essa igualdade ainda não foi alcançada entre os técnicos e entre os atletas paralímpicos. Outra questão nesse sentido foi a proibição do uso do hijab esportivo nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, ou seja, ao mesmo tempo em que se avança tanto em relação ao número de mulheres, ainda há certos retrocessos que precisam ser continuamente debatidos e evidenciados.
Já a saúde mental é uma pauta que vem desde Tóquio ganhando destaque, quando figuras importantes do esporte mundial, como Simone Biles, decidiu não competir nos jogos para cuidar do seu bem-estar físico e psicológico. “As Olimpíadas são mais do que uma competição, são uma celebração e têm uma visibilidade muito maior que outros campeonatos”, disse Katia Rubio.
“Aquilo que nós fazemos na psicologia do esporte no Brasil é focado nesse processo de humanização do atleta, que envolve obviamente saúde mental”, complementa a professora. Ela destaca ainda que, para além da boa performance, o esporte tem um significado muito mais amplo na vida daqueles que participam dos jogos. “Entendemos que no processo de humanização, o esporte entra como uma das experiências de vida dessa pessoa.”
Brasil terá a maior delegação paralímpica convocada para uma edição fora do país - Foto: Divulgação/Comitê Paralímpico Brasileiro
Panorama dos jogos
Para além de um evento esportivo, as Olimpíadas e as Paralimpíadas são um encontro internacional para celebrar e colocar em evidência a cultura e a história dos mais diferentes países do mundo. A edição de 2024 desses eventos começa hoje: as Olimpíadas acontecerão no período de 26 de julho a 11 de agosto, enquanto as Paralimpíadas serão realizadas entre os dias 28 de agosto e 8 de setembro de 2024.
De acordo com o Comitê Olímpico Internacional (COI), os Jogos Olímpicos neste ano contarão com um total de 48 modalidades esportivas. As novidades anunciadas são a inclusão do breaking como esporte e o caiaque cross como prova dentro da canoagem slalom. O surfe, skate e a escalada esportiva também são considerados esportes novos, porque, apesar de já terem integrado outras edições olímpicas, como a de Tóquio, ainda não estão inclusos definitivamente nos jogos. Já as Paralimpíadas terão 22 modalidades, sendo que o ciclismo é disputado em pista e também em estrada. O número de modalidades é o mesmo da edição anterior dos jogos.
A sede escolhida para este ano pelo Comitê Olímpico Internacional foi a França. Com essa escolha do COI, Paris vai se igualar a Londres, até então a única a sediar três edições das Olimpíadas na história. Os jogos aconteceram no país em 1900 e 1924 e, no caso das Paralimpíadas, é o primeiro ano que o país recebe o evento.
Há a estimativa de que 206 delegações, isto é, países, e 10.500 atletas participem da edição de 2024 das Olimpíadas. De acordo com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), a delegação brasileira contará com 277 atletas, classificados em 39 modalidades, a 3ª maior delegação olímpica do País. Dentre os atletas convocados, a maioria é feminina: a delegação conta com 153 mulheres (55%) e 124 homens (45%). Além disso, quase 90% dos atletas brasileiros que irão a Paris são beneficiados pelo programa Bolsa Atleta – programa do Ministério do Esporte brasileiro criado em 2005, que patrocina individualmente atletas e para-atletas de alto rendimento.
No caso das Paralimpíadas, há a previsão da participação de 107 países e de 4.400 atletas, além de 2.200 acompanhantes. A delegação do Brasil será a maior delegação paralímpica convocada para uma edição fora do país. O atletismo é a modalidade com maior número de atletas classificados do País, além de ser historicamente a modalidade com mais medalhas na competição. Foram convocados 251 atletas com deficiência, além de 17 atletas-guia (sendo 16 do atletismo e um do triatlo), três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo.
Dentre as delegações, em ambos os eventos, estarão presentes os Atletas Individuais Neutros, grupo formado pelos atletas da Bielorrússia e Rússia. Por conta da Guerra na Ucrânia, o COI determinou que apenas 25 atletas poderiam competir com algumas sanções, como a não referência a símbolos estatais e impossibilidade de se inscrever em modalidades coletivas. A edição deste ano também é marcada pelo retorno da Coreia do Norte, após a saída de Tóquio 2020 devido ao contexto da pandemia de covid-19.
Também estarão nos Jogos a Equipe Olímpica de Refugiados e o Time Paralímpico de Refugiados. A equipe de refugiados foi formada no Rio 2016. A seleção, que antes era formada por 10 integrantes, contará neste ano nas Olimpíadas com 36 atletas de 11 países. Pela primeira vez, a seleção competirá com emblema próprio.
+Mais
“O importante não é vencer, mas competir”
A diversidade entra nessa competição mostrando como a mulher, seja como atleta ou atuando na imprensa, precisou ultrapassar muito mais barreiras que na competição
Atletas trans e intersexo não são “mulheres legítimas” para o mundo do esporte
Às vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, pesquisadora da USP discute as influências discriminatórias do padrão binário de gênero nas normas olímpicas
Campeã de paraescalada explica como é conviver com esclerose múltipla
Professora e Diretora de Políticas Afirmativas na Unifesp, Marina Dias é a atleta brasileira com o maior número de medalhas em mundiais de paraescalada; modalidade fará parte dos Jogos Paralímpicos de Los Angeles
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.