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Em 2009, o departamento responsável pela disciplina de Biologia Tecidual no Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP passou a usar um novo método de ensino. Aulas que antes eram ministradas apenas com microscópios para a análise de lâminas passaram a contar com o Laminário Virtual, um recurso em que as imagens são visualizadas em grandes monitores e permitem observar em alta resolução as estruturas que compõem os tecidos biológicos.
Para entender a organização e composição desses conjuntos de células, o conteúdo das aulas é bastante descritivo e morfológico, o que às vezes faz o estudante perder o interesse no assunto. “A gente brinca que a partir de imagens bidimensionais eles têm que aprender um conteúdo tridimensional, o que é bem difícil. É como se eles tivessem que aprender uma nova linguagem, ganhar vocabulário e ainda aprender a reconhecer estruturas”, compara Fábio Siviero, professor do Departamento de Biologia Celular e do Desenvolvimento do ICB.
Mas a incorporação de recursos digitais em sala de aula deu nova dinâmica às explicações. Os microscópios não foram deixados de lado, mas à medida que os alunos aprendem a utilizar o equipamento corretamente e o conteúdo avança, o laminário digital se torna um grande aliado, principalmente em turmas grandes.
Na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), por exemplo, há turmas com 100 alunos, o que torna inviável mostrar uma estrutura no microscópio para todos os estudantes. Siviero lembra que antes os alunos se organizavam em duplas, cada uma com um microscópio e uma caixa de lâminas. Se havia algo interessante em uma lâmina específica, formavam-se filas para observação, o que tornava a aula longa e cansativa. Além disso, era necessário que cada aluno tivesse sua própria caixa de lâminas, que podiam quebrar e perder a cor com o tempo.
A ferramenta digital muda esse cenário, pois como as lâminas são digitalizadas e colocadas em um banco de imagens, encontrá-las depois se torna muito mais fácil. Também existe a possibilidade de sincronizar todos os computadores em uma imagem de interesse e explicá-la de uma só vez para toda a classe e tirar as dúvidas ao mesmo tempo. “A aula ficou muito mais fluida e dinâmica e apenas um professor dá conta de 100 alunos com tranquilidade. No aspecto pedagógico, ela facilita muito, sem perda de qualidade”, comemora o professor Siviero.
A adaptação em relação aos novos equipamentos foi imediata. O professor observa que depois que o aluno entra em contato com o sistema digital, ele acaba pedindo para poder acessar o conteúdo também fora da sala de aula. “Essa geração é acostumada a mexer com coisas digitais. Minha preocupação maior era em relação aos professores que utilizavam o microscópio há muito tempo e que poderiam não se adaptar aos novos métodos. Fiquei surpreso, a adaptação foi muito boa e não houve problemas.”
A versão on-line do Laminário Virtual foi ao ar em 2014 e desde então os alunos podem acessar o conteúdo das aulas em qualquer lugar, por meio de dispositivos como celular e tablet. São mais de 500 lâminas, que contribuem para a formação básica de cursos na área biológica e de saúde, como medicina, veterinária, biologia, enfermagem e odontologia.
Revista de Graduação USP
A experiência pedagógica vivenciada nas aulas de Biologia Tecidual no Instituto de Ciências Biomédicas é relatada em um artigo na primeira edição da Revista de Graduação USP, a Grad+. O texto é assinado pelos professores Fábio Siviero e Sergio Ferreira de Oliveira.
A publicação, que divulga práticas, reflexões e pesquisas sobre o ensino na graduação é mantida pela Pró-Reitoria de Graduação da USP.
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