Vista da reserva florestal do Instituto de Biociências da USP – Foto: tipuana imagens / licensed under CC Attribution
Quem cruza qualquer uma das três portarias da Cidade Universitária, no bairro Butantã, encontra um ambiente um tanto diferente do restante da cidade de São Paulo. Vizinha de vias movimentadas, como a Marginal Pinheiros e as avenidas Politécnica e Corifeu, o campus da USP oferece ao paulistano um ambiente de muito verde e com trechos ainda preservados de Mata Atlântica nativa.
A Cidade Universitária é o local onde se concentra a maior infraestrutura da USP na capital, já que ainda há unidades no Centro da cidade – Faculdade de Direito; no bairro Cerqueira César – Faculdade de Medicina e de Saúde Pública, Escola de Enfermagem e Instituto de Medicina Tropical; no bairro Ermelino Matarazzo – Escola de Artes, Ciências e Humanidades; e no bairro Água Funda – Parque CienTec.
Desde os anos de 1930 se pensava a criação de uma área que integrasse escolas da USP já existentes, mas que estavam dispersas pela cidade, e pudesse desenvolver a pesquisa no País. Porém a inauguração ocorreu apenas vários anos depois, em 1968. Antes da chegada da USP e do Instituto Butantan, o local era uma fazenda que abrigava o primeiro engenho de açúcar da antiga Vila de São Paulo. Toda a região do atual bairro do Butantã era considerada rural: a urbanização só veio com a criação do instituto e a fundação da Cidade Universitária.
A principal herança deixada pelos tempos da fazenda é a forte presença de Mata Atlântica, vegetação já muito degradada na cidade. A maior concentração da mata está na reserva florestal do Instituto de Biociências (IB). Criada em 1964, ela concentra 10 hectares de área totalmente nativa da floresta tropical. Antes mesmo da criação das reservas ecológicas da Universidade, em 2012, o instituto já fazia a proteção do local, conhecido como “matinha”.
Segundo o professor Carlos Ribeiro Vilela, presidente da Comissão da Reserva Florestal do IB, o objetivo da reserva, além de preservar os poucos trechos remanescentes de Mata Atlântica, é também desenvolver pesquisa e conhecer a origem de nossas florestas. “É um laboratório natural onde se pode desenvolver pesquisa sem precisar de grandes deslocamentos ou utilizar verbas elevadas”, afirma.
Diversas aulas do Instituto de Biociências envolvem atividades na reserva e qualquer aluno da Universidade pode desenvolver trabalhos no espaço, basta fazer a solicitação via formulário online. Entre os trabalhos recentes que vêm sendo realizado lá, o professor destaca o estudo de condições do solo feito pelos alunos do curso de Geografia e estudos sobre o som da mata realizado por alunos da Escola de Comunicações e Artes (ECA).
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Árvores do campus da USP no Butantã – Foto: Marcos Santos/USP Imagens
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São encontradas na mata mais de 368 espécies de plantas, dentre arbóreas-arbustivas, herbáceas e outras. Diversas espécies de aves também podem ser vistas na região, além de gambás e saguis. Dentro da reserva, estão trilhas, utilizadas para caminhada com fins de pesquisa e ensino, além de um lago artificial que concentra águas originárias de um afluente do Rio Pinheiros.
Entretanto, a fauna e a flora da matinha têm sofrido com a presença de espécies invasoras. Durante a construção da Cidade Universitária, foram plantadas diversas palmeiras australianas, que possuem uma função unicamente decorativa. O problema, segundo o professor Vilela, é que essa espécie está invadindo a área de Mata Atlântica e se reproduzindo numa escala bastante alta. “Essa palmeira é apenas ornamental. Ela não produz fruto de valor nutritivo, portanto, não são atrativas aos pássaros, e impede que outras plantas germinem ao redor do seu espaço, prejudicando a flora da mata”.
Há vários anos existe um projeto da USP e do IB para o manejo dessas palmeiras, no entanto, o professor reclama da falta de incentivo e interesse por esse trabalho. “Trouxeram palmeiras estrangeiras e não pensaram no impacto ecológico. As nossas palmeiras nativas também são bonitas. Temos que começar a valorizar o que é nosso em detrimento do estrangeiro”.
Além dos 100 mil m² da mata do IB, o campus do Butantã também possui outros 55,8 mil m² de reserva, que agregam tanto áreas de Mata Atlântica quanto de Cerrado. Mas as variedades de fauna e flora não são encontradas apenas nas áreas protegidas. Fora dos espaços de reservas também é possível encontrar 24 mil elementos arbóreos, segundo a Prefeitura do Campus. Entre elas, figueiras, araucárias, palmeiras, eucaliptos, ipês, entre outras espécies. A fauna local é composta por diversas espécies de aves, como o sabiá, o pardal e o tico-tico, além de animais como saruê, cães e gatos domésticos, coelhos, lagartos, cobras, peixes, capivaras, saguis, preás e ratos.
Onde nasce o Ipiranga
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Na trilha Fontes do Ipiranga, visitantes podem conhecer o lago
composto pelas nascentes do riacho do Ipiranga- Foto: Divulgação/Cientec
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A quase 20 quilômetros da Cidade Universitária, está a maior reserva ecológica da USP em São Paulo: o Parque de Ciência e Tecnologia (CienTec). Dos 140 hectares de extensão, 122 são de áreas protegidas pela Universidade. Mas ter quase todo o seu território protegido não é sua única peculiaridade: o CienTec está localizado dentro do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (PEFI), também conhecido como Parque do Estado – criado com a finalidade de proteger as nascentes do Rio Ipiranga, ele foi um dos primeiros parques estaduais de São Paulo, e abriga o maior fragmento de Mata Atlântica da capital.
Por estar situado ali, o CienTec fica protegido por duas instâncias: o Governo do Estado e a Universidade. Todo parque estadual é considerado uma Unidade de Conservação, que tem por objetivo preservar o ecossistema e onde só se podem realizar atividades de pesquisa e lazer.
O Parque do Estado surgiu no século 19, com o intuito de proteger as nascentes do Riacho Ipiranga, local símbolo da Independência do Brasil. Em 1928, foi construído o Observatório de São Paulo, que foi anexado à Escola Politécnica em 1930, recebendo o nome de Instituto Astronômico e Geofísico (IAG). No ano de 1946, o instituto foi incorporado à USP, sendo transferido para a Cidade Universitária na década de 90. Em 2001, com a publicação de uma Portaria da USP, foi criado o Parque CienTec, que se tornou uma das reservas ecológicas da USP em 2012.
Além do Cientec, o Parque do Estado abriga o Jardim Botânico, o Jardim Zoológico e o Observatório de São Paulo.
Fábio Ramos, diretor do CienTec, explica que as Unidades de Conservação costumam ter regras rigorosas de utilização, porém, por estar localizado no meio da cidade, o Parque do Estado acaba não sendo tão protegido como as outras unidades. Devido ao avanço da urbanização, em que há grande ocupação populacional e até uma avenida cortando o parque, a área precisa de atenção constante. São feitas rondas para vigilância da mata, mas segundo o diretor, a degradação dos perímetros acaba sendo inevitável.
A reserva possui uma grande diversidade de fauna e flora. A presença de 536 hectares de Mata Atlântica nativa faz do parque o maior fragmento da floresta em área metropolitana, influenciando o microclima da região. A fauna conta com animais silvestres e algumas espécies ameaçadas de extinção.
Segundo Ramos, diversos trabalhos de catalogação da fauna já foram feitos no parque, inclusive Trabalhos de Conclusão de Curso da USP. Já foram catalogadas mais de 40 espécies de aves, entre tucanos, jacus, pica-paus e outras, além de tatus, cobras, saguis e outros animais. “Para uma mata que está dentro de uma região urbana, ela tem uma diversidade considerável”, afirma.
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Parque CienTec – Foto: Monolito Nimbus
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Nos anos 1980, grandes incêndios provocados por balões destruiu 15 hectares da reserva. Hoje, há um grande projeto de recuperação dessa área. Por meio de uma parceria com o Ministério do Meio Ambiente, ONGs e a Sabesp, é realizado o plantio de espécies nativas e há ainda um rigoroso controle de pragas e acidez do solo. “Quando uma mata está bem equilibrada, se a gente não destrói, ela já se mantém. Então, o nosso esforço é no sentido de evitar a degradação e concluir esse projeto de recuperação das áreas desmatadas”.
O Parque CienTec oferece numerosas atividades para o público. Qualquer pessoa, da USP ou não, pode conhecer a fauna e a flora desta reserva de perto, além de observar o céu a partir de telescópios e lunetas – atividade preferida do diretor do local. O parque conta com trilhas pelas nascentes do Ipiranga, exposições, palestras, pesquisas e visitas ao espaço geofísico e a estação metereológica. Os passeios podem ser feitos a qualquer momento, sendo necessário apenas agendar caso vá um grupo acima de 10 pessoas.
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