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Ansiedade e ataques de pânico estão entre as diversas reações que um paciente pode ter durante uma consulta ou cirurgia odontológica. Em busca de melhor preparar os futuros cirurgiões-dentistas para essas situações, a Faculdade de Odontologia (FO) da USP, em São Paulo, possui um Laboratório de Emergências Médicas e Suporte Básico de Vida (Leme).
Nas atividades do laboratório, os alunos aprendem como aferir pressão arterial, fazer massagem cardíaca, realizar a manobra de Heimlich (método pré-hospitalar de desobstrução das vias aéreas superiores por corpo estranho), manter uma postura adequada para evitar situações de ansiedade, entre outras emergências. Conceitos de fisiologia, morfologia, imunologia e farmacologia são relembrados durante o laboratório, que também conta com manequins e bonecos para auxiliar no treinamento prático caracterizando-o como uma forma ativa de aprendizado.
Um estudo feito pela Universidade Federal de Goiás mostrou que, entre os anos de 2006 e 2015, 17 mortes em consultórios odontológicos brasileiros foram registradas, algumas das quais tiveram como causa hipertensão, alergia e hemorragia. Ligado ao Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais, o Leme prepara os estudantes para identificar os sintomas e tomar atitudes para salvar a vida do paciente na espera do resgate.
Para o coordenador do laboratório, professor Oswaldo Crivello Júnior, “o dentista não pode simplesmente ficar olhando passivamente a situação, esperando o atendimento especializado chegar, se eximindo de algum tipo de procedimento. Ele tem que ter essa formação de práticas e atitudes.”
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O Leme foi efetivamente criado em 2008, mas seu conteúdo era ministrado desde 1990 dentro da disciplina de Traumatologia Maxilofacial. Os alunos participam das atividades do laboratório de forma não obrigatória, como horas-estágio, mas, segundo o professor Crivello Júnior, essa participação é extremamente necessária para a formação do profissional. “A população brasileira está envelhecendo e chegando ao atendimento odontológico com doenças que o cirurgião dentista precisa ter conhecimento, porque pode gerar uma situação de emergência durante o atendimento clínico.”
Após dez anos de existência, o laboratório já contribuiu na formação de muitos profissionais. “O comportamento dos estudantes que passaram pelo Leme é completamente diferente daquele que não passou. Fiquei impressionado porque, no começo, eu não percebia o quanto o laboratório estava fazendo diferença na vida profissional deles”, comenta o professor.
Alguns ex-alunos apresentaram depoimentos sobre a vivência nas aulas e como foi fundamental para deixá-los mais confiantes em suas carreiras profissionais. “Com a minha experiência no Leme, me sinto bem mais segura para enfrentar situações de emergência médica. Já conversei com várias pessoas que fizeram outras faculdades e todas ficam impressionadas que tive esse tipo de treinamento ainda na faculdade”, conta Anna Luísa Pacheco.
Bianca Fontana, outra cirurgiã-dentista formada na FOB, acredita que só a graduação não seja suficiente para preparar um profissional de odontologia para essas emergências. “Fazemos procedimentos invasivos em nossos pacientes, injetamos soluções, cortamos e suturamos. Claro, aferimos a pressão antes, mas para quê? De que adianta se muitos profissionais não sabem exatamente como agir em caso de uma hipertensão ou hipotensão?”
Pensando nisso, Crivello Júnior defende que a matéria volte a ser obrigatória no currículo, como foi até há poucos anos, ministrada pelo Depto. de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofaciais. Enquanto isso, os alunos da FO que tiverem interesse podem se inscrever nas atividades do Leme, no próprio local. “Nunca se sabe o que pode acontecer, e nós, como profissionais de saúde, temos que estar preparados”, reitera Bruno Carrocini, aluno formado em 2010.
Gabrielle Torquato/Assessoria de Imprensa da FO