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Os grandes centros urbanos são responsáveis pelas maiores emissões de poluentes. As medições são feitas por uma rede fixa de monitoramento. Mas os gases não se concentram apenas nas metrópoles, com a ação dos ventos, eles se deslocam. E o que ocorre com a qualidade do ar nesses locais? Os cientistas vão descobrir com o Lumiar, Laboratório Móvel para Pesquisa e Monitoramento da Qualidade do Ar.
Ele foi inaugurado no dia 4 de abril a partir de uma iniciativa do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, em São Paulo. Os pesquisadores poderão acompanhar o processo de movimentação dos poluentes e reações químicas na atmosfera em locais, hoje, não alcançados pela rede fixa de monitoramento. Inicialmente, serão cinco bases divididas entre os Estados do Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo. “A grande diferença é a mobilidade. Enquanto numa estação fixa estamos sujeitos ao que ‘passa’ pelos sensores, com uma estação móvel temos a possibilidade de acompanhar o seu deslocamento”, explica o professor do IAG e coordenador do Lumiar Edmilson Dias de Freitas.
Nas metrópoles, onde se localizam as estações fixas, a medição da concentração de poluentes está próxima às suas fontes, no caso, emissões de veículos leves e pesados. Já a estação móvel permite medir a poluição em regiões distantes das fontes e, eventualmente, acompanhar espacialmente o que ocorre com esses poluentes após sua interação na atmosfera.
Serão medidos os níveis de gás carbônico (CO2), monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), dióxido de enxofre (SO2), hidrocarbonetos, etanol, óxidos de nitrogênio (NOx), material particulado fino e grosso e variáveis meteorológicas – vento, pressão, temperatura, umidade e radiação.
“O laboratório permitirá a medição de poluentes em locais onde não existe monitoramento regular, em regiões distantes dos grandes centros urbanos”, destaca o coordenador do Lumiar.
Por que monitorar a qualidade do ar?
O Lumiar faz parte do projeto Qualamet (Modelagem do Impacto das Emissões Veiculares) do IAG, que integra o Programa Brasileiro de Combustíveis, Tecnologias Veiculares e Emissões – PCVE, do Ministério de Minas e Energia. O programa do governo federal foi criado em 2013 para verificar se há interferência da evolução dos veículos e combustíveis brasileiros na qualidade do ar de grandes cidades do País.
A parceria de pesquisa entre governo e a Universidade é para prevenção ambiental. Os resultados auxiliarão na tomada de decisões por diferentes setores, na criação de novas tecnologias e na elaboração de políticas públicas baseadas na sustentabilidade.
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Os dados coletados pelo laboratório serão analisados em conjunto com outras estações de monitoramento e ferramentas, como modelos de transporte de poluentes e modelos receptores.
“As informações serão úteis para a avaliação e calibração de modelos numéricos dedicados ao diagnóstico e previsão da qualidade do ar e também para auxiliar no estabelecimento de políticas públicas que visem a diminuição da emissão de poluentes e melhoria da qualidade do ar”, detalha Edmilson Freitas, também coordenador do projeto Qualamet.
Os outros parceiros são a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a Environmentality, Toyota, Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes), centro de tecnologia Lactec e Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
“Essa iniciativa permite que a USP tenha um papel mais proativo na contribuição com a sociedade e benefício aos cidadãos”, afirmou o professor Pedro Leite da Silva Dias, diretor do IAG.
Primeiro teste
Uma prévia do funcionamento do Lumiar foi feita no Observatório Abrahão Moraes do IAG, localizado em Valinhos, interior de São Paulo. O local é isolado, distante de indústrias e com vegetação preservada, ou seja, não é uma cidade produtora de grande quantidade de poluentes. Lá, foram medidos os índices de material particulado, ozônio e óxidos de nitrogênio em diferentes períodos do dia.
Os resultados obtidos pelo estudo em Valinhos foram comparados aos dados da Cetesb, agência do governo do Estado de São Paulo, responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de poluição.
De acordo com Freitas, não foram encontradas grandes diferenças de concentração de poluentes em Valinhos e regiões urbanas próximas. Porém, em diferentes horários, notou-se que o nível de ozônio na cidade ultrapassou o de grandes centros urbanos, principalmente durante a noite.
“Esse é um dos aspectos que serão analisados pelo Lumiar . Poluentes secundários, como o ozônio, são formados por reações na atmosfera a partir de poluentes primários, emitidos diretamente pelas fontes, e podem apresentar comportamentos completamente distintos dependendo da distância em relação às fontes”, diz o professor.