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Como aliar tecnologia à educação em museus? Novo e-book documenta exposição sobre a pólis grega
Lançado no Portal de Livros Abertos, obra explora como a tecnologia pode enriquecer a educação museal, documentando a exposição Pólis: viver na cidade grega antiga, realizada no Museu de Arqueologia e Etnologia da USP em 2016
Estudantes observam uma maquete da exposição sobre as cidades gregas antigas no MAE, em 2016 - Foto: Divulgação/MAE-USP
Museus e exposições não apenas encantam com sua beleza e instigam nossa curiosidade sobre o passado e o presente, mas também são poderosas ferramentas educativas. Nesse contexto, investigar, por meio de exibições, as cidades antigas que fascinam o Ocidente desde a criação da pólis grega pode revelar lições importantes sobre os desafios urbanos de hoje.
Essa é a premissa do e-book Exposição Pólis: viver na cidade grega antiga: uma documentação, lançado pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, no Portal de Livros Abertos da USP, que resgata a mostra realizada entre 2016 e 2017. A publicação, escrita por Cleberson Henrique de Moura, técnico do MAE e pesquisador em Museologia, examina como a tecnologia pode transformar a experiência museológica. A iniciativa partiu de sua dissertação de mestrado, pelo pelo Programa de Pós-graduação Interunidades em Museologia (PPGMus-USP), orientada pelo professor Camilo de Mello Vasconcellos, que foi adaptada como livro. A publicação está disponível para download gratuito neste link.
“[Desde o início] eu tinha muito claro que queria trabalhar na fronteira entre tecnologia, educação e museus”, explica Moura. A pesquisa teve origem na exposição Pólis, com curadoria da professora Elaine Hirata em 2016, que apresentou o cotidiano das cidades gregas ao público.
O que mais chamou a atenção de Moura na época foi um game interativo que permitia aos visitantes explorar virtualmente uma casa grega. “Isso me marcou”, relembra. “Sempre tive afinidade com tecnologia, especialmente com o uso da tecnologia na educação, e essa ideia ficou na minha mente”, reflete ele, cuja formação anterior à graduação foi na área da mecatrônica. Foi esse primeiro contato com a tecnologia que despertou nele o interesse em aprofundar os debates sobre cibermuseologia, área que investiga o impacto das tecnologias digitais na museologia.

Cleberson Henrique de Moura, técnico do MAE e pesquisador em Museologia - Foto: Linkedin
A obra é dividida em quatro capítulos. O primeiro contextualiza a exposição dentro da trajetória do MAE, ressaltando seu caráter educativo. O segundo detalha sua concepção, destacando como ela não se limitou à exibição de artefatos arqueológicos, mas os inseriu em um pensamento curatorial que conectava a pólis grega ao conceito de urbanismo. “A exposição não era apenas uma mostra”, reforça Moura ao explicar que “o tempo todo, havia uma equipe integrada trabalhando [diversos aspectos], e é por isso que essa exposição tem um ponto central: ela é tanto uma exposição quanto uma ação educativa, não apenas uma mostra”.
Já o terceiro capítulo se aprofunda nos recursos digitais utilizados na mostra, como o videogame e um documentário, disponível neste link, produzido pelo Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga (Labeca). No último capítulo, entrevistas com educadores e curadores revelam os desafios e aprendizados do projeto.

Maquete da cidade antiga grega de Selinonte - Foto: Acervo MAE-USP e Marcos Santos/USP Imagens


Páginas da publicação que está disponível para download - Foto: Divulgação/MAE-USP
Integrando o digital e o concreto
Ao recordar sobre o período de montagem da exposição, ele conta que a mostra ia além do aspecto visual. “A discussão não se limitou a apresentar a exposição apenas no sentido visual, com sua materialidade – objetos, paredes e vitrines –, mas também traz uma concepção museológica muito forte, presente tanto no MAE quanto em outros museus que caminham nessa mesma direção, que é uma visão holística”, afirma.
Desde a concepção, a equipe discutiu temas como conservação dos artefatos, controle de microclima para preservação e a importância da ação educativa. “Ou seja, não se trata apenas da exposição isoladamente como algo desenvolvido de forma independente, mas sim de um trabalho integrado, envolvendo um pensamento curatorial, museológico e educativo”, argumenta Moura.
Entre os destaques tecnológicos, a exposição oferecia audiodescrição para visitantes com deficiência visual e uma simulação 3D interativa. “Era um joystick em primeira pessoa, permitindo ao visitante caminhar virtualmente pelo espaço”, explica Moura. Esses recursos ampliaram o acesso ao conteúdo e tornaram a experiência mais imersiva. De acordo com ele, o público podia experimentar a cidade grega de uma forma nova, algo que um painel ou uma legenda não conseguiriam proporcionar.


Visitantes podem conhecer a cidade grega antiga e "caminhar" por uma casa - Foto: Divulgação/MAE-USP e Cecília Bastos/USP Imagens

Painel com linha do tempo da pólis grega - Foto: Acervo MAE-USP
No livro, o pesquisador, que continua a trabalhar sobre a relação entre tecnologia e educação no doutorado, defende veementemente que as tecnologias digitais nos museus devem estar a serviço da educação. Na avaliação dele, quando fazem parte de diferentes mostras, elas são bem recebidas pelo público, mas precisam estar sempre integradas a metodologias educativas eficazes.
Disponível gratuitamente no Portal de Livros Abertos da USP, o e-book confirma o compromisso do museu com a difusão do conhecimento. Com isso, Moura reforça a importância do acesso livre ao material: “A educação é um dos principais vetores para minimizar os efeitos colaterais da desigualdade. Por se tratar de um trabalho que dialoga com professores sobre a temática do Mediterrâneo Antigo, ter esse tipo de material gratuito é uma das melhores formas de o museu cumprir seu papel social por meio da educação”. E, indo além da gratuidade, ele também elogia a política de licença de uso do conteúdo presente no Portal: “E mais do que ser gratuito, o material também tem uma licença aberta, permitindo que professores e pesquisadores o utilizem livremente”, finaliza.
O e-book Exposição Pólis: viver na cidade grega antiga: uma documentação pode ser baixado gratuitamente neste link.

Maquete da cidade de Olinto, no norte da Grécia, na exposição Pólis: viver na cidade grega antiga - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Uma exposição sobre duas cidades
Realizada no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP, a exposição Pólis: viver na cidade grega antiga (2016-2017) recriou o cotidiano das pólis antigas a partir de objetos arqueológicos, maquetes e recursos digitais. O objetivo era contextualizar os artefatos em seus ambientes originais, explorando casas, templos e espaços públicos.
A mostra abordou o desenvolvimento das cidades-Estado gregas desde o período arcaico (séculos IX a VI a.C.) até o clássico (séculos V e IV a.C.), evidenciando como essas estruturas moldaram a organização urbana e política da Antiguidade.
Dois dos principais destaques foram as maquetes das cidades de Olinto e Selinonte. Olinto, no norte da Grécia, ilustra a transição da ocupação desordenada para um planejamento urbano estruturado ao redor da ágora, centro da vida política e social. Selinonte, colônia grega na Sicília, se destacou como um importante porto comercial do Mediterrâneo, com templos erguidos na acrópole, o ponto mais alto da cidade.
Além das reconstituições físicas, a exposição contou com exibições digitais que permitiam ao público explorar virtualmente uma casa e um templo gregos, proporcionando uma experiência imersiva e educativa.
Leia mais em: Exposição no MAE apresenta o cotidiano na cidade antiga grega

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