Mais de 153 projetos da comunidade universitária foram financiados pelo Amigos da Poli - Foto: AP/Poli

Com patrimônio de R$ 35 mi, fundo criado por engenheiros investe em projetos da USP

Há dez anos, Amigos da Poli captam recursos e fazem a gestão do dinheiro para apoiar talentos e inovação na Escola Politécnica, uma das unidades da Universidade na área da engenharia

01/07/2021

Hérika Dias

Eles são engenheiros e já saíram da Universidade, mas resolveram retornar para apoiar na formação dos futuros profissionais da Escola Politécnica (Poli) da USP, em São Paulo. O fundo patrimonial Amigos da Poli é uma instituição sem fins lucrativos e trabalha da seguinte forma: arrecada doações em dinheiro e usa o rendimento obtido com a gestão desse recurso para financiar projetos que contribuam nos estudos dos alunos da Poli. Neste ano, eles completam dez anos e com números impressionantes.

O fundo atingiu um patrimônio de R$ 35,4 milhões, formado com a contribuição de 6.027 pessoas, principalmente de ex-estudantes da Poli. “Os alunos que estão se formando nesses últimos dez anos já saem querendo se envolver no Amigos da Poli, querendo doar, ser voluntários, ajudar da maneira que podem. Conseguimos envolver muita gente que estudou na escola, mas também entusiastas da educação, de outras universidades que participam, conhecem nosso modelo e acabam propagando esse modelo também em outras universidades”, conta Juliana Lisboa, formada em Engenharia Química pela Poli e vice-presidente do Amigos da Poli.

O Amigos da Poli é o primeiro e maior fundo patrimonial ligado a uma universidade no País. Conhecido também como endowment, ele é formado pela doação de pessoas físicas ou jurídicas. Esse dinheiro é investido no mercado financeiro por um gestor profissional. O diferencial é que o dinheiro doado forma o principal do fundo e o seu poder de compra é preservado ao longo dos anos, já que apenas rendimentos são revertidos para apoiar projetos de alunos de graduação e pós-graduação, professores e funcionários da Escola Politécnica.

O trabalho é conduzido por voluntários que dedicam seu tempo e expertise para alavancar a cultura de doação no Brasil. Eles acreditam que a transformação social pode ser obtida por meio da educação, com apoio ao ensino da engenharia no País.

“Ter universidades fortes é um investimento no longo prazo, que exige estabilidade de financiamento e pensamento estratégico. A proposta de valor do Amigos da Poli nunca foi tão clara”, escreveu André Clark, presidente do Conselho Consultivo do Amigos da Poli, na abertura do relatório sobre o ano 2020.

Foto: Amigos da Poli

Juliana Lisboa, vice-presidente do Amigos da Poli - Foto: AP/Poli

Confira o áudio com a entrevista de Juliana Lisboa para o Jornal da USP no Ar, da Rádio USP:

Desde 2011, eles financiaram 153 projetos da comunidade politécnica. A escolha é feita através de editais lançados uma vez ao ano, nos quais a comunidade politécnica pode se inscrever em quatro categorias: Melhoria de Ensino, Grupos de Extensão, Pesquisa Científica e Startup.

Principais indicadores

Dados até 2020

Números do Amigos da Poli

Dados até 2020

Patrimônio líquido do fundo em milhões de reais

Número de projetos apoiados via Edital de Projetos, por ano

Número de participantes, alunos
e ex-alunos, acumulado ano a ano

Número de doadores, valor
acumulado ano a ano

Número de voluntários, por ano

Os projetos passam por uma seleção que envolve os doadores do Amigos da Poli e a gestão da Escola Politécnica, depois ocorre uma série de etapas. A primeira é on-line, na qual os proponentes justificam por que o projeto deve receber financiamento. Parte deles vai para uma fase chamada de Pitch Day.

“Eles têm a oportunidade de expor seus projetos a um público mais amplo e não só ao Amigos da Poli, convidamos potenciais investidores, é uma forma aberta de expor o que tem de bom dentro da comunidade politécnica. Depois desse Pitch Day, temos uma banca avaliadora e a gente escolhe através da nota da banca os projetos que vamos financiar naquele ano”, explica Juliana.

Combate à covid-19

Somente no ano passado, Amigos da Poli apoiou 30 projetos. Devido à pandemia causada pelo coronavírus, eles lançaram um edital extraordinário e selecionaram mais 11 projetos voltados especificamente para o combate aos efeitos do coronavírus.

“Ciência, tecnologia, inovação – em suma, engenharia – salvam vidas. As dificuldades de 2020 nos relembram a importância de profissionais e centros de excelência e pesquisa no País, capazes de executar e responder à altura. Contar com pessoas que ‘sabem fazer’ em território nacional protege nossos cidadãos e evita uma situação de vulnerabilidade”, recorda André Clark.

Foto: Amigos da Poli

André Clark, presidente do Conselho Consultivo do Amigos da Poli - Foto: AP/Poli

Projetos apoiados durante a pandemia de covid-19

E-Group: face shields

Valor apoiado: R$ 75 mil
Proponente: Alan Nascimento Guimarães
Professor responsável: Eduardo Lorenzetti Pellini

O projeto E-Group: Face Shields teve como objetivo aumentar a capacidade produtiva de face shields (máscaras com tiara e viseira) para utilização na rede de saúde nacional. A operação se baseou no fornecimento de máscaras a custo zero para proteger a linha de frente de combate à covid-19.
Eles usaram 30 impressoras 3D para produzir as máscaras, que contou com o trabalho de 50 voluntários. Foram produzidos 27.475 face shields. Em 100 dias, atenderam 210 hospitais, centros de saúde, unidades básicas de saúde e outras instituições. Outras 1.500 unidades foram enviadas a Cuba.

Robô transportador hospitalar

Valor apoiado: R$ 40 mil
Proponente: Prof. Leopoldo Rideki Yoshioka

Construção de uma plataforma open source de um robô de transporte de produtos dentro de hospitais. O objetivo do projeto é aplicar os conhecimentos e os resultados de um projeto anterior de um robô de entrega, o Delivery Robot, que contou com o apoio financeiro do Amigos da Poli (Edital 2019), para desenvolver uma versão customizada para utilização no Hospital Universitário (HU) da USP. 
O primeiro protótipo do Robô Hospitalar foi construído com sucesso e foram realizados diversos testes de laboratório e de campo. A partir dos resultados obtidos  com o primeiro protótipo, foram implementadas várias melhorias no projeto do robô. Atualmente, está ocorrendo a construção do segundo protótipo, que incorpora os refinamentos do projeto anterior, e está sendo implementado o software para agregar novas funcionalidades.

Vent19

Valor apoiado: R$ 50 mil
Proponente: Prof. Marcos de Sales Guerra Tsuzuki

O projeto tem como objetivo o desenvolvimento de um modelo de ventilador mecânico que possa ser montado e distribuído rapidamente em casos de escassez crítica. Feito de modo aberto, deve empregar técnicas de manufatura rápida e construído com componentes amplamente disponíveis em território nacional. 
Foram desenvolvidos diversos protótipos completos contendo o modelo CAD, desenhos detalhados, plano de montagem, processo de calibração dos sensores (motor, sensor de pressão e sensores de vazão), cabeamento e blindagem dos componentes elétricos (como motor, fonte, etc.). A equipe elaborou um artigo para o CBA descrevendo as inovações e contou com colaboração da empresa Atlas-Schindler para o desenvolvimento de um produto final. O projeto está atualmente na fase de testes com animais e humanos para que possa submeter o protótipo para a aprovação da Anvisa.

Foto: Reprodução/Amigos da Poli

Doações

Qualquer pessoa pode contribuir com o Amigos da Poli, as doações em qualquer valor podem ser feitas através do site. O fundo patrimonial é formado por uma Assembleia Geral, Conselho Fiscal, Conselho Deliberativo, Comitê de Investimentos e Diretoria Executiva. Todos os anos, eles publicam os demonstrativos financeiros em relatórios que descrevem as atividades desenvolvidas pelo fundo. 

Além de doações em dinheiro, também é possível contribuir com o Amigos da Poli sendo voluntário. No ano passado, 252 se dispuseram a trabalhar no fundo.

Mais informações: www.amigosdapoli.com.br