Campus da USP usa tecnologia de biolarvicida para controle do mosquito transmissor da dengue

Produto de alta eficácia e segurança foi criado por empresa de base tecnológica incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia da USP em cooperação com a Fiocruz

 05/06/2023 - Publicado há 11 meses
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Larvas do mosquito Aedes aegypti são mortas com produto elaborado com base em uma bactéria de ocorrência natural – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Entre janeiro e abril de 2023, houve um aumento de 30% no número de casos prováveis de dengue em comparação com o mesmo período de 2022 em todo o Brasil, de acordo com o
Ministério da Saúde. De 899 mil casos, 201 mil diagnósticos foram registrados  em São Paulo. Além do aumento de casos, não existem vacinas contra a doença disponíveis para a população no Sistema Único de Saúde (SUS), tornando a prevenção a única maneira de combatê-la. 

Na Cidade Universitária, campus de 3.700.000 metros quadrados de área, localizado no bairro do Butantã, na capital paulista, e com milhares de pessoas circulando todos os dias, fomentar iniciativas preventivas tornou-se prioridade para os gestores. A Prefeitura do Campus USP da Capital (PUSP-C), por exemplo, tem adotado uma medida inovadora para o combate à dengue em toda a extensão do campus, com o uso de um biolarvicida produzido a partir da união entre ciência, inovação e tecnologia. 

Com o nome DengueTech, o biolarvicida é uma tecnologia desenvolvida pela pesquisadora Elisabeth Sanches, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), para matar as larvas do mosquito Aedes aegypti rapidamente. A tecnologia foi transferida para a empresa de base tecnológica BR3 Agrobiotecnologia, incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) da USP/Ipen, que venceu o edital público para produção e comercialização do produto. O biolarvicida também conta com o apoio de Margareth Capurro, professora do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, que cede ovos excedentes do mosquito à BR3 para testes de formulações.

Raquel Rolnik, prefeita do campus da capital – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“Esta ação representa o modelo de atuação que defendemos para a Universidade: um projeto de pesquisa desenvolvido aqui (em parceria com a FioCruz) resulta em um produto que aplicamos na nossa Cidade Universitária, demonstrando que pode ser utilizado em outras cidades do País e do mundo”, destaca Raquel Rolnik, prefeita do campus da capital.

A tecnologia é formulada a partir de bioinseticidas à base de uma bactéria de ocorrência natural, a bacillus thuringiensis israelensis (BTI), e não oferece perigo aos seres humanos e a outros animais. O biolarvicida, que possui formato de pastilha, age na larva do mosquito e a mata dentro de poucas horas, preservando seu efeito por até 60 dias. Basta colocar a pastilha em pontos que acumulam água, isto é, possíveis criadouros, que o produto agirá assim que os ovos do Aedes aegypti eclodirem e atingirem a fase larvária.

Além da colaboração com a empresa BR3 Agrobiotecnologia, a USP promove outras medidas para o monitoramento e combate do mosquito transmissor da dengue no campus. Em 2016, foi estabelecida uma parceria com a Secretaria de Saúde do Município (Supervisão de Vigilância em Saúde do Butantã – Suvis), que prevê a implantação de um cronograma anual de campanha para a prevenção da proliferação do Aedes aegypti na Universidade. O programa propõe visitas técnicas às unidades do campus para diagnóstico e eliminação dos mosquitos adultos ou larvas, mutirões de combate e treinamento para os membros das Brigadas de Combate ao Aedes aegypti, dentre outras iniciativas.

Para Rodrigo Perez, diretor da BR3 Agrobiotecnologia, o programa de controle de vetores da USP é essencial devido à complexidade do combate ao Aedes. “Mais do que se chegar a um produto eficaz, na questão de controle de vetores, ele tem de ser fácil de manejar, as pessoas têm de querer aplicar, para que consigamos alcançar grande parte dos criadouros que estão nas nossas casas e locais de trabalho. A USP dá o exemplo inequívoco de que atingir esse objetivo é possível.”

Tecnologia DengueTech em ação: no vaso da esquerda, efeito do produto depois de uma hora da aplicação – Foto: Divulgação/BR3

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O que são as Brigadas de Combate ao
Aedes aegypti?

Em 2016, o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, decretou a obrigatoriedade da criação das chamadas Brigadas de Combate ao Aedes aegypti para todos os órgãos institucionais. 

Essas equipes são formadas por três a cinco integrantes de cada unidade do órgão institucional que devem adotar medidas visando à prevenção e eliminação de criadouros do mosquito, como vistorias periódicas nas edificações, para detecção e eliminação de pontos de acúmulo de água, identificação das áreas mais vulneráveis por meio de um mapa de risco e divulgação de informações educativas para o público interno e externo ao ambiente.

Em maio de 2023, a Divisão Técnica de Gestão Socioambiental, da Prefeitura do Campus da Capital, promoveu um curso de atualização para os integrantes das brigadas na Cidade Universitária. O curso teve como objetivo a difusão e revisão de conhecimentos relacionados à propagação do Aedes aegypti e transmissão de doenças do vetor — dengue, zika, chikungunya e febre amarela. 

Os participantes aprenderam conceitos e informações importantes sobre o mosquito, fatores determinantes para sua proliferação, como diferenciar Aedes aegypti, Aedes albopictus e Culex quinquefasciatus e estratégias para o monitoramento e controle. 

Além disso, eles observaram os resultados obtidos em pesquisas sobre o DengueTech e o mapa de risco de dengue na Cidade Universitária, que informa quais regiões do campus demandam mais atenção. 

Mutirão de combate ao Aedes aegypti no campus da USP da capital – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

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Na prática, os integrantes realizaram a observação das diferentes fases de desenvolvimento do mosquito, bem como o exercício dos modos de uso da tecnologia DengueTech e do aspirador entomológico, um aparelho de sucção para a captura de mosquitos. Futuramente, as Brigadas de Combate ao
Aedes aegypti, juntamente com as unidades do campus, organizarão um Mutirão de Combate ao Aedes aegypti, evento que reúne as equipes para a eliminação de criadouros. 

O DengueTech, tecnologia utilizada pela USP, também pode ser usado em possíveis criadouros residenciais. Confira a página do produto neste link para saber mais. 

Como evitar a formação de criadouros do Aedes aegypti

Para além do ambiente de trabalho e das instituições de ensino, o combate ao Aedes aegypti também deve ser realizado nas residências. Existem algumas medidas básicas que todos podem adotar para a prevenção: 

  • Manter caixas d’água e lixeiras bem fechadas;
  • Manter pneus em locais cobertos, protegidos da chuva, onde a água não pode se acumular;
  • Manter ralos tampados e tampas de vaso sanitário baixas;
  • Limpar a laje e/ou calhas entupidas;
  • Limpar as tigelas de animais de estimação;
  • Limpar a bandeja externa da geladeira;
  • Cobrir piscinas;
  • Adicionar areia nos pratos de plantas; 
  • Evitar o cultivo de plantas como bromélias, pois elas acumulam água em suas partes externas.

Outros serviços que são realizados pela USP de forma contínua:

  • Serviço de desratização nas lixeiras de alvenaria da Cidade Universitária, utilizadas para o descarte do lixo comum;
  • Assessoria às unidades da USP para orientação na seleção e contratação de empresas de controle de pragas urbanas;
  • Controle permanente de animais sinantrópicos no campus, isto é, aqueles que se adaptaram a viver junto ao homem, como mosquitos, aranhas, escorpiões, baratas, ratos, morcegos etc.

Em junho, a Prefeitura do Campus USP da Capital lançou uma nova Campanha Contra a Dengue, que visa alertar a comunidade sobre os sintomas da doença e medidas de prevenção. A iniciativa será veiculada nas redes sociais e é possível acompanhá-la pelo Instagram, Facebook e Twitter


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