Centro de Práticas Esportivas da USP deve reabrir em novembro com protocolos de segurança - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Atletas da USP se reinventam para continuar treinando de maneira segura e a distância

Equipes buscam manter condicionamento físico enquanto aguardam retorno das atividades; centros esportivos da USP vão reabrir para prática de esportes em ambientes abertos

28/10/2020

Por David Ferrari e Karina Tarasiuk

Letícia Nakada é aluna de Medicina da USP, em São Paulo, e pratica tênis de mesa desde antes da universidade. Até março, treinava às terças e quintas-feiras na Associação Atlética Acadêmica Oswaldo Cruz, que reúne universitários da Faculdade de Medicina da USP e do Hospital das Clínicas. Seus planos para este ano eram participar do InterUSP, em junho, e do InterMed, em setembro, além de campeonatos nacionais organizados pela Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, como a Copa Brasil e o Campeonato Brasileiro.

“Como não tenho com quem treinar, só estou trabalhando o condicionamento físico e tentando manter uma rotina regular. Mas faz muita falta praticar na mesa”, conta Letícia. Assim como ela, atletas de toda a Universidade foram afetados pela paralisação das atividades esportivas devido à pandemia causada pela covid-19. 

Com as competições universitárias canceladas ou adiadas, eles tiveram que se reinventar para continuar treinando de maneira segura e a distância. “Fica mais difícil não tendo os colegas de treino e técnico por perto. Por enquanto, podemos nos preparar estudando vídeos de jogos e traçando planos para quando tudo se normalizar”, diz a tenista de mesa.

Lucas Padial, estudante de Engenharia Mecânica, integra o time de futsal B da Associação Atlética Acadêmica Politécnica, da Escola Politécnica (Poli) da USP, em São Paulo. Ele e seus colegas encontraram apoio para o preparo físico on-line com a empresa ANS, que oferece e disponibiliza treinos por chamadas de vídeo. 

Letícia Nakada, aluna do curso de Medicina e atleta de tênis de mesa - Foto: Arquivo pessoal

Eles ainda se reúnem aos sábados para analisar vídeos e discutir questões táticas, como posicionamento e esquemas de jogos. Nesse exercício, o técnico passa um vídeo e realiza perguntas e comentários aos atletas. “Como provavelmente não haverá competições este ano, por todo o cenário e o futsal ser um esporte coletivo, há uma desmotivação, mas tentamos sempre manter o foco, pois uma hora vai voltar e a gente não pode ficar muito atrás”, conta Lucas. 

Lucas Padial, à esquerda, do time de futsal B da Poli, e o time de futsal feminino da FEA - Fotos: Arquivo pessoal

Assim como os atletas da Poli, o time de futsal feminino da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em São Paulo, tem se reunido uma vez por semana a distância para realizar treinos físicos e teóricos, além de análises de seus jogos e de profissionais.

As atividades são preparadas por uma comissão técnica e são uma forma de manter o condicionamento físico e a socialização. “Fazemos de tudo para deixar um horário reservado exclusivamente para o futsal, para todo mundo se ver, treinar, conversar e se distrair com tudo isso que está acontecendo”, comenta Victoria Pissolato, estudante de Ciências Atuariais e atleta do time.

Neste ano, o grupo iria participar da Copa USP, do NDU série A, das Economíadas, do InterUSP e do BichUSP. Apesar de o retorno aos treinos presenciais ainda não estar definido, o time decidiu que a volta só ocorrerá se todas se sentirem seguras.

Victoria Pissolato, aluna de Ciências Atuariais e atleta do time de futsal feminino da FEA - Foto: Arquivo pessoal

“Estamos bem tranquilas com essa dinâmica de treino por meets por enquanto. Claro que dá saudade de voltar logo a jogar e nos encontrarmos presencialmente, mas segurança em primeiro lugar”, finaliza Victoria.

Para motivar seus esportistas a continuarem treinando, a Associação Atlética Acadêmica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, em São Paulo, organizou a Quarentena do Morce. Os atletas tinham que postar stories de treinos no Instagram e marcar as tags do time e da Atlética. A equipe que tivesse mais porcentagem de participantes ativos em relação ao time ia ganhar um valor em dinheiro para comprar materiais esportivos.

A Atlética também manteve recomendação aos diretores de modalidade que os times continuem treinando on-line, com a equipe e o técnico, pelo menos uma ou duas vezes por semana. “Não só pela questão de saúde, mas também para manter a equipe, essa integração com o time. A maioria dos times está fazendo isso. Tem dado certo, é bem legal”, afirma Henrique Cruz, estudante de Arquitetura e Urbanismo, praticante de atletismo e diretor geral de esportes da Atlética da FAU.

Henrique também aponta preocupação com a dificuldade financeira de alguns times em se manter, já que as fontes de renda principais foram interrompidas. Grande parte do dinheiro da equipe é arrecadada com a venda de alimentos e bebidas em eventos como os FAUmoços.

Henrique Cruz, estudante de Arquitetura e Urbanismo, praticante de atletismo - Foto: Arquivo pessoal

E como fica o desempenho dos atletas?

Segundo Carlos Bezerra de Albuquerque, professor e assistente de direção do Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepeusp), em São Paulo, quando há uma pausa nos treinos, a capacidade que envolve a parte motora sobre gestos e aprimoramentos interrompe o avanço. “Não haverá evolução, mas você também não perderá o que tinha antes.”

É que existe uma “memória” muscular e motora que permite a recuperação do atleta mesmo com uma paralisação de meses. “Rapidamente recuperamos com pouco tempo de treinamento, coisa de uma ou duas semanas. As pessoas, se não tiverem nenhum prejuízo físico, como muito aumento de peso, mudar a parte da composição corporal, essa parte de retornar ao nível que estavam antes é bem tranquila”, diz o professor.

Carlos Bezerra de Albuquerque, professor e assistente de direção do Cepeusp - Foto: Arquivo pessoal

Sobre o desenvolvimento do esporte universitário na USP, o professor acredita que houve uma “perda de um ciclo”, entretanto é possível retomar o crescimento do esporte na Universidade. “A retomada deverá ser gradual, talvez sem esportes coletivos. Acredito que voltarão primeiramente os esportes individuais, sem contato. O esporte continua. Foi um abalo igual para clubes esportivos, atléticas e outras entidades esportivas.”

Centro de Práticas Esportivas da USP, no campus Cidade Universitária, em São Paulo - Foto: Jorge Maruta / USP Imagens

A USP possui estruturas para a realização das práticas físicas e esportivas em seus oito campi. No momento, o acesso a esses espaços não é possível. Só no Cepeusp, no campus Cidade Universitária, em São Paulo, cerca de 2.500 pessoas costumavam utilizar o local diariamente. 

De acordo com o Plano USP para o retorno gradual das atividades presenciais, os centros esportivos da USP devem reabrir a partir do dia 6 de novembro, e vão permitir práticas esportivas em ambiente aberto, das 7 às 19 horas, de segunda a sexta-feira. Além disso, os frequentadores deverão seguir os protocolos de segurança contra a covid-19.

Leia mais:
USP dá início à flexibilização das atividades presenciais em cinco campi

Algumas competições da USP

InterMed

organizada pelas principais atléticas de medicina do Estado de São Paulo, a competição reúne cerca de 4 mil universitários. Criada em 1966, neste ano, seria a 54º edição. Devido à pandemia, a competição foi adiada e não tem data prevista para ocorrer.

Copa USP

organizada pela Liga Atlética Acadêmica (LAAUSP) da Universidade, entidade composta de representantes das atléticas da USP, a competição reúne equipes de diferentes institutos durante o primeiro semestre. Dentre as modalidades disputadas, destacam-se o jiu-jitsu, judô e handebol.

Economíadas

é o jogo universitário das faculdades de Economia e Administração de São Paulo organizado pela LAACE (Liga Atlética Acadêmica de Ciências Econômicas). Teve sua primeira edição em 1991 e reúne algumas das principais universidades de economia e administração do Estado, como USP, PUC-SP e Mackenzie. Com a pandemia, apenas os e-games puderam ser disputados.

BichUSP

competição organizada pela LAAUSP voltada aos calouros da USP. As partidas ocorrem no Cepeusp e reúnem as atléticas associadas à liga. Neste ano, os jogos foram interrompidos em virtude da pandemia. Algumas modalidades chegaram a ser realizadas, caso do handebol e basquete, no entanto, outras não puderam ser disputadas. Ainda não há uma previsão de prosseguimento da competição.

Novo Desporto Universitário (NDU)

Criado em 2010, a competição reúne mais de 20 atléticas de diversas universidades, como USP, Cásper Líbero, Mackenzie e Anhembi Morumbi. Dentre as principais modalidades, destacam-se o basquete e o xadrez. As partidas que ocorreriam este ano foram canceladas e ainda não há datas definidas.

E como estão funcionando os cursos
de Educação Física?

Desde março, as aulas presenciais estão suspensas na USP e todas as atividades ocorrem de forma remota, pela internet. Isso acabou afetando as aulas práticas dos cursos de graduação em Educação Física oferecidos pela Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), em São Paulo, Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) e Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), em São Paulo.

Para melhorar a experiência dos alunos, os professores têm buscado alternativas. Esse é o caso da disciplina Programa Esporte Coletivo II, ministrada pelo professor Paulo Santiago, da EEFERP. Normalmente, as aulas são compostas de atividades práticas em quadras. “Neste semestre, chamei profissionais do vôlei e do futebol de Ribeirão Preto para fazer lives e conversar com os alunos.” 

Paulo Santiago, professor da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto - Foto: Arquivo pessoal

Segundo Santiago, a adaptação na disciplina foi necessária para que os estudantes não fossem prejudicados com as aulas virtuais. Assim como as aulas, as atividades de pesquisa e extensão tiveram que se readequar. 

De acordo com o diretor da EEFE, Júlio Cerca Serrão, apenas as pesquisas que podem continuar remotamente não foram interrompidas. Por outro lado, o diretor comemora que muitas das atividades de extensão oferecidas pela unidade continuam, apesar de serem em ambientes virtuais. 

Julio Serrão, diretor da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), em São Paulo - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“Conseguimos manter os cursos de extensão mesmo a distância, o que é bem legal. São cursos de atividades físicas para a comunidade.” Serrão explica que essas atividades são disponibilizadas através de vídeos feitos por monitores e professores da faculdade, e atendem diferentes públicos, indo desde crianças até pessoas que sofreram acidentes cerebrais encefálicos.

O diretor da EEFE acredita que as atividades físicas serão mais valorizadas após a pandemia. “Neste momento que ficamos parados, as pessoas sentiram muito intensamente os efeitos do sedentarismo e a falta de atividades para manter a saúde física e a saúde mental também”.