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Os desafios para pesquisas quantitativas de criminalidade a partir do padrão espaço-temporal dos roubos a transeuntes (pessoas que percorrem um caminho a pé) e de veículos são temas de debate no Atlas da Dinâmica Criminal em São Paulo (SP): Roubos a Transeuntes e de Veículos, publicação no formato digital lançada pelo Núcleo de Estudos de Violência da USP (NEV) disponível neste link.
O Atlas tem origem nos estudos sobre a qualidade do sistema Registro Digital de Ocorrências (RDO) da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), e o trabalho se baseia em dados de boletins de ocorrências provenientes deste sistema. O objetivo dos materiais é mostrar a pluralidade das investigações sobre violência, a heterogeneidade urbana, subnotificação dos casos, pesquisas de vitimização, a qualidade do endereçamento e o quadro desses tipo de ocorrências para o período de 2006 a 2017. A publicação também aborda a distribuição dos equipamentos de segurança, confiança e legitimidade em suas instituições e sistema penal brasileiro.
O livro é resultado da pesquisa de iniciação científica de Beatriz Oliveira de Carvalho, estudante do quinto ano de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP que desenvolve estudos na área de Geografia da Violência, Criminalidade e Cartografia, com orientação do professor Sérgio França Adorno de Abreu e co-orientação de Marcelo Batista Nery, pesquisador do NEV, além de Rúbia Gomes Morato, professora de cartografia do Departamento de Geografia da FFLCH.
O estudo que gerou a publicação recebeu menção honrosa no último Simpósio de Iniciação Científica da USP (Siicusp) e foi apresentada em âmbito nacional na 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “A questão da segurança pública já me interessava na época do ensino médio pela temática das drogas. Quando entrei na Geografia, a cartografia e a interseção entre ciências humanas e ciências de dados se destacaram. Depois disso, foi questão de tempo para eu entrar na área de transferência de tecnologia do NEV, coordenada pelo professor Marcelo Nery”, explicou Beatriz sobre sua trajetória.
A estudante também destaca que ao trabalhar com o tema notou diversas problemáticas na produção dos dados, que dificultavam na transformação deles em conhecimento. “Quando eu comentava sobre a minha pesquisa para as pessoas fora da área acadêmica, apesar delas ficarem interessadas e comentarem situações que haviam passado, era frequente me falarem que não haviam feito o registro da ocorrência. E isso contribui para a subnotificação dos casos. Então acabei ampliando o projeto: antes de trazer a dinâmica criminal que os dados demonstram, eu destaco suas limitações”.
Durante o estudo, Beatriz encontrou uma grande discrepância na qualidade de uma parte fundamental do boletim de ocorrência, em sua informação de localização. “Essa diferença na qualidade do endereçamento, de forma espaço-temporal e intraurbana para a capital paulista, é mais um indicativo de como os dados não podem ser levados como fatos sociais por si só”. Ela explica também que incluiu no Atlas um outro aspecto, demonstrando que a qualidade do endereço registrado no boletim de ocorrência varia a depender do local de ocorrência e registro na capital e, também, do tempo. “O fato desta qualidade mudar pode gerar diversos problemas, como a estigmatização de espaços e ações policiais em locais errados pela criação de hotspots falsos”, ressalta.
Sérgio Adorno participou do evento de lançamento da publicação, destacando a qualidade do estudo vindo de uma iniciação científica. “Eu sinto que o trabalho do Atlas é uma contribuição fundamental não só para o desenvolvimento da pesquisa no campo da geografia e da sociologia urbana mas sobretudo para a formulação de políticas públicas mais consequentes, que sejam dotadas de eficiência, que possam contribuir para a redução de crimes, para reduzir a sensação de medo e insegurança, sem comprometer o Estado democrático de direito”, disse.
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Além de Beatriz, pesquisadores, professores, agentes e funcionários das áreas de segurança pública e cartografia também tecem comentários sobre a geografia da violência apresentada na publicação, que inclui ilustrações de Bianca Benedetti, fotos de Linniker Gardim e mapas elaborados pela organizadora.
O Atlas é parte de uma das linhas de pesquisa que compõem o projeto Construindo a Democracia no Dia-a-dia: Direitos Humanos, Violência e Confiança Institucional, atualmente em execução como Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão para o Estudo da Violência, sediado no NEV-USP, sob apoio e financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Confira o debate que marcou o lançamento do Atlas:
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Para ler o Atlas da Dinâmica Criminal em São Paulo (SP): Roubos a Transeuntes e de Veículos acesse pelo ISSU ou através do portal do NEV USP, onde vocês podem fazer o download do arquivo.
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Com informações do NEV-USP
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