Assistência a idosos com deficiência auditiva rende prêmio a hospital da USP em Bauru

Durante a pandemia, Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais estruturou protocolo de atendimento às famílias que incluiu atendimento presencial, teleconsulta e vídeos informativos; ações permitiram que 571 idosos continuassem com audição

 15/02/2021 - Publicado há 3 anos
Fonoaudióloga Raquel Pinheiro da Silva (residente do HRAC) e o paciente Djalma Ferro durante teste para verificação de amplificação de aparelho auditivo – Foto: Tiago Rodella / HRAC-USP

 

A deficiência auditiva é uma condição incapacitante que determina limitações ao indivíduo, afetando aspectos biopsicossociais e constituindo problema de saúde pública pelos prejuízos e incidência. Estudo do Instituto Locomotiva de Pesquisa apresentado na Semana da Acessibilidade Surda de 2019 – e divulgado pela Agência Brasil – revela a existência, no País, de 10,7 milhões de pessoas com deficiência auditiva, sendo que a predominância (57%) é na faixa etária de 60 anos ou mais.

Como os idosos estão entre os grupos de risco para a covid-19, aqueles que apresentam alguma deficiência auditiva tiveram seus tratamentos impactados por dois motivos: pela mobilidade reduzida por conta dos cuidados necessários e pela assistência nessa área ser considerada eletiva. Para superar esses desafios e manter a assistência à saúde auditiva do idoso, no período de março a setembro de 2020, a Divisão de Saúde Auditiva do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC) da USP em Bauru organizou uma campanha de atendimento que agora foi premiada pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). As ações conquistaram no último dia 27 de janeiro o segundo lugar no Prêmio de Melhor Campanha do Envelhecimento Saudável.

Intitulada Plano de gestão em saúde auditiva no idoso para o enfrentamento de covid-19, a campanha teve como objetivo “o planejamento das ações imediatas, de médio e longo prazo, bem como das estratégias adotadas com vistas à minimização dos impactos da pandemia para a continuidade da assistência à pessoa idosa usuária de dispositivos eletrônicos”, explica a fonoaudióloga Tyuana Sandim da Silveira Sassi, chefe técnica da Divisão de Saúde Auditiva do HRAC-USP.

A Divisão de Saúde Auditiva do HRAC atendeu, presencialmente, os familiares dos usuários idosos para verificação de possíveis problemas no funcionamento dos AASI (Aparelho de Amplificação Sonora Individual), regulagem após retorno da assistência técnica, substituição de tubo dos moldes auriculares e filtros dos aparelhos, assim como os casos de urgência com necessidade de ajustes e moldagem do molde auricular, queixas otorrinolaringológicas e renovação de benefícios sociais assegurados por lei.

“Nesse mesmo período, também foi estruturado um protocolo de teleconsulta em fonoaudiologia para atendimento dos usuários de dispositivos eletrônicos do nosso serviço, baseado em boas práticas clínicas com respaldo e permissão de sociedades científicas, como o Conselho Federal de Fonoaudiologia, de forma que essas atividades fossem realizadas com qualidade, respeito à privacidade e segurança do idoso”, explica Tyuana.

As ações também incluíram vídeos informativos sobre: cuidado, uso e manuseio dos diferentes tipos de dispositivos eletrônicos; limpeza dos moldes auriculares; substituição do tubo do molde do AASI retroauricular; inserção do molde no AASI e na orelha; substituição das olivas e limpeza do tubo fino ou receptor no canal; limpeza e troca do protetor de cera do AASI intra-aural e receptor no canal; inserção do intra-aural na orelha e substituição da bateria em diferentes dispositivos eletrônicos.

Saúde auditiva na pandemia

Segundo o médico otorrinolaringologista Luiz Fernando Manzoni Lourençone, diretor clínico, chefe técnico da Seção de Implante Coclear do HRAC-USP e docente do Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP), “em tempos atuais da pandemia de covid-19, foi necessário o ajuste da organização do serviço por meio de novos e rígidos protocolos de atendimento visando à continuidade do processo de reabilitação auditiva – que envolve desde a adaptação do aparelho de amplificação sonora individual (AASI), o monitoramento da audição e o acompanhamento do uso do dispositivo, bem como o envolvimento de seus familiares no processo para melhor qualidade de vida da pessoa idosa –, evitando, assim, o abandono do tratamento”.

Lourençone aponta que a deficiência auditiva é bastante comum e pode ocorrer por diversos fatores, como excesso de ruídos, malformações, infecções, traumas, inflamações, doenças neurológicas, câncer e até mesmo doenças prevalentes do cotidiano, como diabete e hipertensão. “A deficiência auditiva tem impacto muito significativo na vida das pessoas, prejudicando sua comunicação e as atividades cotidianas. Sem o tratamento auditivo adequado, os idosos tendem a se isolar e evitar o convívio social, mesmo com os familiares mais próximos que residem com eles. Essa privação também dificulta o acesso à informação por meio de recursos e tecnologias que dependem da audição e pode, até mesmo, trazer implicações para a memória ou déficit cognitivo”, destaca o médico.

A dona de casa Helena Oehler utilizando aparelho auditivo – Foto: Arquivo pessoal

A dona de casa Helena Manrique Oehler, 82 anos, da cidade de Chavantes, em São Paulo, foi uma das pacientes beneficiadas. Segundo a filha Sandra Regina Oehler, o aparelho auditivo de dona Helena sofreu dano e foi enviado à assistência técnica da empresa. “Minha mãe ficou cerca de 20 dias sem o aparelho. Nesse período, ela teve muita dificuldade para nos ouvir e conversar. Sem o aparelho, ela praticamente não escutava nada. Precisávamos falar muito alto. Ela assistia TV em pé e bem perto da televisão. Foi uma limitação a mais nessa situação toda de pandemia”, relata.

Após o conserto, Sandra levou o AASI da mãe à Divisão de Saúde Auditiva do HRAC-USP juntamente com a pré-moldagem anterior e, assim, foi possível a confecção de novos moldes mesmo sem a paciente estar presente, além da regulagem do aparelho. “Depois do conserto, foi tudo muito rápido. Minha mãe já se adaptou novamente e está escutando normalmente com o aparelho. Esse atendimento durante a pandemia foi muito importante para nós”, pontua Sandra.

De março a setembro de 2020, foram realizados 571 atendimentos presenciais pela Divisão de Saúde Auditiva do HRAC , incluindo a adaptação e reposição de aparelhos auditivos de amplificação sonora e acompanhamento dos dispositivos eletrônicos adaptados. Esse total inclui familiares de usuários acima de 60 anos e pacientes até 60 anos.

A campanha premiada tem como autores as fonoaudiólogas Valdéia Vieira de Oliveira, Tyuana Sandim da Silveira Sassi, Juliana Nogueira Chaves, Jerusa Roberta Massola Oliveira, Érika Cristina Bucuvic, Eliane Aparecida Techi Castiquini, Ticiana Cristina Freitas Zambonato, Elaine Cristina Moreto Paccola e Cláudia Danielle Pelanda Zampronio, além do médico Luiz Fernando Manzoni Lourençone, e contou com o apoio do superintendente do HRAC, Carlos Ferreira dos Santos.

 

Texto adaptado de Tiago Rodela, Assessoria de Imprensa do HRAC


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