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No laboratório da Escola Municipal Desembargador Amorim Lima, no bairro Vila Gomes, em São Paulo, as aulas de ciência ganharam convidados especiais neste semestre. Alunos de graduação do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP assumiram o papel de professores para ensinar biociências aos estudantes do ensino fundamental.
Esse é o projeto Biocientista Mirim, que promove acesso ao conhecimento e também difunde a ideia do que é ser um pesquisador na área das biociências, o que inclui a biomedicina. O nome do projeto é inspirado na iniciativa Veterinário Mirim, criada pelo professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Alexander Biondo, agora pós-doutorando na USP.
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“Fiz a proposta e os alunos ‘vestiram a camisa’. Estão tocando o projeto”, diz a professora do ICB Ana Marcia Guimarães, coordenadora do grupo. Com o apoio de Biondo, ela entrou em contato com a escola municipal para promover a parceira com a USP.
O modelo de ensino flexível da Amorim Lima, que já virou notícia diversas vezes por ser referência no Brasil, foi bem recebido. Com o final do semestre se aproximando, o intuito é que o projeto possa seguir adiante no próximo ano. “Não é uma ação única, queremos ganhar força para continuar”, afirma a coordenadora.
Os professores voluntários são todos alunos da graduação e se revezam para estar na escola quase todos os dias. Cada aula é diferente da outra: o nível de agitação e de interesse dos jovens depende da faixa etária, do período do dia e mesmo do dia da semana.
As disciplinas foram divididas em microbiologia (bactérias, vírus, fungos) para as turmas do 6º e do 7º ano, e parasitologia (vermes, protozoários) para as turmas do 8º e do 9º ano. Todos recebem o módulo de pesquisa, uma forma de introduzir a investigação científica aos estudantes. O conteúdo foi pensado pelos próprios graduandos.
Sala de aula
“Hoje a aula deu muito certo. Queremos quebrar o estereótipo do ‘cientista maluco’, branco e homem”, diz Flávio Mesquita, graduando do ICB que, ao lado da colega Bruna Nakanishi, estava responsável pelas atividades do dia. “É uma experiência nova, estamos aprendendo muito com eles”, conta o estudante.
A coordenadora Ana Marcia reconhece que, na prática, ensinar não é tarefa fácil. “Mas é dificuldade boa, os alunos estão sempre assistindo às aulas na Universidade, nunca são os protagonistas”, lembra.
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É certo que voltar ao ensino fundamental depois de frequentar o ambiente da graduação não é tão simples como parece, principalmente porque o nível de dispersão é maior. Mas, em meio ao bate-papo paralelo, as perguntas que surgem de diversos cantos da sala revelam o interesse dos alunos.
Nesse modelo de aula, ninguém precisa anotar nada e não tem prova no final do semestre. O importante é a curiosidade, que não falta em relação aos assuntos do dia: ascaridíase e ancilostomose, verminoses popularmente conhecidas como “lombriga” e “amarelão”.
No roteiro da aula, a preocupação é fugir um pouco dos slides projetados na lousa: o vidro com uma lombriga passa de mão em mão e todos fazem fila para ver o verme do amarelão no microscópio.
Um vídeo mostra a cirurgia de dezenas de vermes sendo retirados de um intestino, e não faltam as comparações com espaguete. Para simular o exame de fezes, é usado pó de café e todos observam dentro do frasco o processo de sedimentação, um termo antes desconhecido.
O material utilizado é emprestado do ICB, disponibilizado pelos docentes do instituto a pedido dos voluntários. “Como frequentamos diversos laboratórios, temos vivências diferentes e juntos fomos decidindo os experimentos”, explica Mesquita.
Selecionado pelo 1º Edital Santander/USP/Fusp de Fomento às Iniciativas de Cultura e Extensão, o projeto também está elaborando um curta-metragem para ser apresentado na feira de ciências da escola no fim do ano. A animação deve representar como seria um mundo sem a ciência.
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