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Para aumentar o aproveitamento do coco do babaçu, palmeira abundante no meio-norte do Brasil, o projeto APL Babaçu, do Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), desenvolveu uma máquina que separa as partes do coco sem danificá-las. O equipamento será utilizado em Arranjos Produtivos Locais (APLs) com a participação das mulheres que extraem o coco, as quebradeiras, viabilizando seu uso na produção de energia e em indústrias de alimentos e cosméticos, entre outras. O projeto é realizado pela empresa Biotechnos Projetos Autossustentáveis, incubada no Cietec, instituição mantida pela USP e pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
“O objetivo é aperfeiçoar o modo de produção e ampliar o potencial da cadeia de valor do coco babaçu, ainda pouco explorada”, ressalta a industrial e pesquisadora Márcia Werle, presidente da Biotechnos. No Brasil são 18 milhões de hectares de florestas de babaçuais. Apenas no Estado do Maranhão são 11 milhões de hectares, mais do que em todo o território da Bolívia, que dispõe de 6 milhões de hectares. Os babaçuais estão presentes também no noroeste de São Paulo e em outros Estados.
Cada coco pesa entre 90 e 280 gramas, com uma camada externa rija e fibrosa, o epicarpo, e em seu interior há o mesocarpo (rico em amido), o endocarpo (camada mais resistente) e as amêndoas. Tradicionalmente, o trabalho de quebra do coco é manual e penoso para as milhares de quebradeiras. Usa-se um machado ou uma cunha e um porrete de madeira. Há também a quebra de maneira ainda mais rudimentar, a golpes de pedra sobre uma superfície dura.
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Em geral, apenas as amêndoas (que representam cerca de 8,7% do peso do fruto) são aproveitadas. Cada fruto pode ter de uma a oito amêndoas, mas a média é de três ou quatro por fruto. Uma quebradeira de babaçu consegue, em média, de oito a dez quilos de amêndoas por dia. Nas associações ou cooperativas as amêndoas são comercializadas ou esmagadas para extração do óleo, que depois é vendido para as indústrias dos setores de higiene e limpeza. A torta, um subproduto do babaçu, é negociada como ração animal. As quebradeiras utilizam, também, uma parte do óleo para a produção artesanal de sabão em barra.
A expansão da pecuária e de outros interesses econômicos na região dos babaçuais ameaça o trabalho das quebradeiras, fundamental para a sobrevivência de diversos grupos extrativistas do meio-norte do País. De acordo com o diagnóstico realizado pelo governo federal, os grandes entraves para o maior aproveitamento do babaçu são a baixa eficiência no modo de produção e ausência de modelos tecnológicos de quebra do coco acordados com as quebradeiras.
Separação
Um dos aspectos centrais do projeto está na produção de uma máquina capaz de separar as partes do coco babaçu preservando suas características, com qualidade, eficiência e durabilidade. Foram desenvolvidos três protótipos iniciais e dois projetos piloto de APLs nos Estados do Piauí e Maranhão, a partir dos estudos de engenharia e do projeto desenvolvido, com o processamento inicial de 250 toneladas de coco.
Durante os desafios tecnológicos iniciais, na desmontagem e análise dos protótipos, foram observados desgastes excessivos nas partes móveis e de impacto, gerados pelo alto grau de abrasividade do coco. Nas fases seguintes do projeto, chegou-se ao processamento de 850 quilos de coco em 90 minutos.
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A tecnologia desenvolvida pela empresa propõe instrumentalizar o trabalho das quebradeiras oferecendo máquinas e equipamentos que constituem o centro de uma cadeia de valor baseada no aumento da escala produtiva e na qualidade dos produtos provenientes do processamento do coco babaçu. A tecnologia social prevê atenção, inclusão e transferência de conhecimentos nos processos específicos relacionados aos APLs para as quebradeiras.
O mercado para os produtos provenientes do beneficiamento é expressivo, pois existem 64 produtos que provêm do coco babaçu, como azeites, alimentos, cosméticos, medicamentos, carvão e energia, entre outros. O éster da amêndoa do babaçu, por exemplo, é indicado para propulsão a jato, e a granulometria do mesocarpo do babaçu apresenta características únicas e de excelência para a indústria de cosméticos. No projeto, há diversas empresas interessadas nos produtos do babaçu para sua cadeia de suprimentos, em especial das áreas de cosméticos, fármacos, alimentação e energia.
A Biotechnos Projetos Autossustentáveis, sediada em Santa Rosa (RS), abriu uma filial no Cietec para realizar o projeto, o que inclui atividades tecnológicas e demonstrações de viabilidade técnica e econômica. Além dos profissionais da empresa, a equipe conta com colaboradores de organizações de São Paulo, Piauí e Maranhão e os pesquisadores associados Patricia Maria Guardabassi, Julieta Andrea Puerto Rico e Alexandre Cosme José Jeronymo, da Escola Politécnica (Poli) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. O projeto participa do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas, da Fapesp, e mantém colaboração com lideranças dos locais de constituição dos APLs e autoridades governamentais.
Mais informações: e-mail vinicius@biotechnos.com.br, com Vinícius Puhl