Este número da Revista USP é em parte uma homenagem aos 90 anos da Universidade de São Paulo, a maior universidade do país e, segundo inúmeras classificações internacionais, uma das mais importantes do mundo. De fato, podemos dizer que a USP é uma enormidade. A começar pelo seu campus Butantã, na capital paulista. Apesar de fazer parte do projeto inicial, na década de 1930, a Cidade Universitária Armando de Salles Oliveira só foi inaugurada tempos depois, em meados dos anos 1950, e se tornou desde então uma espécie de refúgio dentro da cidade. Quem passa hoje pelo campus não deixa de notar a Praça do Relógio, com sua imensa estrutura de concreto, a Torre do Relógio, repleta de painéis escultóricos (seis de cada lado) representando os diversos domínios do saber – das ciências e das artes. Na base da torre há um espelho d’água circundado pela inscrição “No universo da cultura o centro está em toda parte”, de autoria do jurista Miguel Reale, antigo reitor da USP. 

Essa frase faz todo sentido quando pensamos neste dossiê “Ciência no Brasil”, pois grande parte da ciência produzida no país passa pela USP, por seus diversos campi, com seus centros de estudo e pesquisa espalhados pelo estado de São Paulo. E é disso que será tratado aqui: de como a pesquisa feita no país pode impactar a sociedade; qual a importância das agências de fomento; o que fazer com a fuga de cérebros do país; como lidar com a gestão da pesquisa científica; quais as relações da universidade com a inovação e o empreendedorismo; e muitas outras questões. O dossiê reflete o que foi discutido no evento “O futuro da ciência no Brasil”, entre abril e julho de 2024. Trata-se, portanto, de um dossiê especial, cujos artigos são uma espécie de resumo dos quatro encontros acadêmicos realizados. Por conta desse caráter, vamos dizer, menos ortodoxo, não julgamos necessária a inclusão dos tradicionais resumos e abstracts presentes em todos os textos de dossiê desta revista.

Fora do dossiê, mas ainda na esteira das comemorações dos 90 anos da universidade, não esquecemos daquela outra forma de conhecimento também manifesta nos painéis da Torre do Relógio. Estamos falando da arte, ou, no nosso caso particular, da seção Arte. Embasada nos conceitos do filósofo francês Merleau-Ponty, a professora Carmen Aranha traz uma instigante reflexão sobre as formas de olhar o acervo do Museu de Arte Contemporânea da USP. Segundo ela, “o MAC se inscreve no imaginário coletivo como um espaço de conhecimento do mundo da cultura”. Está aí, pensamos nós, uma possível leitura da frase gravada no chão da nossa praça mais emblemática. Vida longa à USP!

Jurandir Renovato