Vacina injetável contra a paralisia infantil mostra-se mais eficaz contra a doença

Marta Heloísa Lopes explica que a substituição da “gotinha” visa a uma proteção mais segura e potente contra o vírus selvagem da doença

 Publicado: 28/11/2024 às 11:13
A poliomielite oral, popularizada pela figura do Zé Gotinha e amplamente conhecida como gotinha ou vacina Sabin, foi crucial para a erradicação de casos de paralisia – Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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Desde o início de novembro, o Brasil implementou um novo esquema vacinal contra a poliomielite, substituindo as tradicionais gotinhas pela vacina injetável. A mudança segue uma tendência mundial e visa a aumentar a segurança da imunização. Conforme Marta Heloísa Lopes, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina (FM) da USP e responsável pelo Centro de Imunizações do Hospital das Clínicas (HC), a mudança é um avanço tecnológico importante que garante maior proteção às crianças.

Mudança

O novo esquema consiste em três doses da vacina inativada aplicadas aos 2, 4 e 6 meses de vida, seguidas de uma dose de reforço aos 15 meses. O Ministério da Saúde destaca que essa transição foi inspirada em práticas já adotadas em países desenvolvidos. “A vacina é uma coisa que deve mudar continuamente, porque muda a epidemiologia da doença, além das novas aquisições tecnológicas com vacinas mais eficazes e mais seguras, é um processo natural. A gotinha cumpriu seu papel, e é substituída por uma vacina inativada não só mais segura como também mais imunogênica e potente”, detalha a docente.

Desafios

Mulher branca, meia idade, usando óculos, mão direita em primeiro plano, trajando roupa de cor escura
Marta Heloísa Lopes – Foto: Reprodução/FM-USP

Mesmo sem casos de poliomielite no Brasil pelo vírus selvagem desde 1989, e nas Américas desde 1991, a especialista informa que ainda há poliovírus selvagem circulando em dois países do mundo, no Paquistão e no Afeganistão. “Enquanto o poliovírus selvagem não for eliminado do mundo, como ocorreu com o vírus da varíola, sempre vai haver perigo de importação e ressurgimento do vírus. Nós temos que manter altíssimas coberturas vacinais, porque senão estaremos sujeitos à reintrodução do vírus da poliomielite”, complementa.

Apesar do avanço tecnológico, o Brasil enfrenta desafios para atingir a cobertura vacinal ideal, que é de 95%. Em 2022, o índice foi de 77%; em 2023, já foi de 84,7%; e, em 2024, subiu para 86,6%, mas ainda está abaixo do esperado. Durante a pandemia de covid-19 houve uma queda nas coberturas vacinais, fenômeno registrado globalmente e que afetou a imunização contra a poliomielite. “Nós estamos recuperando essa cobertura vacinal, mas ainda não atingimos o ideal”, pontua Marta.

Um dos fatores que explicam a baixa adesão é o sucesso da própria vacina, que tornou a poliomielite uma doença quase esquecida. “Ninguém mais fala em poliomielite, as pessoas acham que isso não existe mais e que não volta, é raríssimo ver alguém com sequela de poliomielite. Então as pessoas não sentem aquela premência de vacinar, porque não é uma coisa que está presente no dia a dia”, afirma.

O caso do sarampo, que voltou a circular no Brasil devido à baixa vacinação e foi novamente eliminado em 2024, reforça a importância da imunização em massa. “Temos que manter muito alerta para incentivar a vacinação de poliomielite, para que não haja reintrodução do vírus selvagem”, conclui.


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