
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) anunciou recentemente que irá disponibilizar, por meio de seu fundo rotatório, a vacina contra o vírus sincicial respiratório (VSR), a única aprovada para imunização materna até o momento. O imunizante, que já está em uso nos Estados Unidos e disponível na rede privada no Brasil, foi desenvolvido pela Pfizer e mostrou eficácia de cerca de 70% nos primeiros 6 meses de vida dos bebês. Especialistas apontam que essa medida pode ampliar o acesso a uma ferramenta crucial para prevenir infecções respiratórias graves em recém-nascidos.
Bebês de 0 a 6 meses
Ana Marli Sartori, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina (FM) da USP e coordenadora do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie), explica a gravidade do VSR em bebês, especialmente nos primeiros 6 meses de vida. “Nessas crianças pequenas, o sincicial respiratório pode causar uma doença grave, costuma causar febre e tosse, mas ela pode evoluir com falta de ar, chiado no peito, então pode causar tanto uma pneumonia como uma bronquiolite. Pode levar à hospitalização e até a óbito”, destaca.
Segundo Ana Marli, a vacina aprovada no Brasil em 2023 é administrada na mãe entre a 24ª e a 36ª semana de gestação, permitindo que os anticorpos maternos sejam transferidos ao bebê pela placenta. Embora o imunizante já esteja disponível na rede privada, com custo elevado de R$ 1.800 por dose, sua inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta desafios.
Desafios

A Conitec, órgão do Ministério da Saúde que avalia a incorporação de tecnologias ao SUS, rejeitou a proposta devido ao preço inicial oferecido pela Pfizer. Contudo, a especialista explica que negociações estão em andamento e a possibilidade de aquisição via Opas pode reduzir os custos, tornando viável a implementação pública — embora ainda não se saiba o preço que será anunciado.
“É uma dose única a partir de 24 a 36 semanas de gestação — isso no que foi liberado pela Anvisa, mas o Ministério da Saúde pode fazer algumas alterações nessa faixa de administração da vacina. Tem vários países aplicando em momentos diferentes da gestação, de acordo com várias questões, mas será mais para o fim da gestação, que é o momento em que ocorre a passagem de anticorpos maternos através da placenta para o bebê. Nós já temos uma vacina com essas características no Sul, que é a vacina contra coqueluche, a vacina tríplice acelular do adulto, que é administrada para as gestantes a partir de 20 semanas e que dá proteção contra coqueluche para o recém-nascido”, complementa.
Além do VSR, Ana Marli comenta sobre a introdução da nova vacina injetável contra poliomielite no Brasil, que substitui as tradicionais gotinhas. Considerada mais segura, essa mudança faz parte de uma estratégia para manter o País livre da doença, erradicada do território nacional há décadas. “É importante lembrar de todas as vacinas de imunização infantil. Nós não temos mais poliomielite há muito tempo, mas é essencial que todas as crianças estejam imunizadas, porque ela ainda existe no mundo e vivemos em um mundo globalizado, em as doenças podem ser reintroduzidas nos países que já eliminaram as mesmas. Então é importante lembrar da poliomielite, mas não só, do sarampo também. Para evitar isso é importante que todas as crianças estejam adequadamente vacinadas”, conclui.
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