Um monumento não é uma coisa morta e seu significado está em constante atualização

“Monumentos não são somente peças alegóricas, decorativas. São discursos que têm significado e que se renovam e é muito importante a tomada de consciência”, afirma colunista

 05/08/2021 - Publicado há 3 anos

O tema da coluna Espaço em Obra desta semana trata do incêndio na estátua de Borba Gato e suas consequências. Para o professor Guilherme Wisnik um monumento não é uma coisa morta. Um monumento presente na cidade atualiza seu significado permanentemente.

O incêndio no Borba Gato foi muito mais simbólico do que real, segundo o professor, porque o que foi queimado foram os pneus colocados ao redor, a escultura em si pouco sofreu. Vozes mais progressista afirmam que mal ou bem monumentos são testemunhos históricos, lembranças do que se valorizou em uma certa época, e apagá-lo seria ideológico.

Por outro lado, um monumento atualiza um discurso e há um guerra política em curso, afirma Wisnik. “A maioria dos monumentos nas cidades brasileiras são de opressores. No caso do Borba Gato com um trabuco na mão, representa alguém que caçava homens, mulheres, indígenas e africanos, extremamente reacionário. É bom lembrar que vivemos um momento em que o governo incendeia a Amazônia, caça os direitos civis e deixa sucatear a Cinemateca e essas populações que veem nesse monumento uma opressão histórica há 500 anos têm o direito de não aceitar legitimamente”, alerta.

O passado sempre retorna e está sempre em disputa e é o que constrói nosso futuro, portanto a discussão sobre o passado é fundamental e é eminentemente política. “Monumentos não são somente peças alegóricas, decorativas. São discursos que têm significado e que se renovam e é muito importante a tomada de consciência”, ressalta Wisnik.


Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar  quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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Um monumento não é uma coisa morta e está em constante atualização de seu significado


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