Tempos em que jornalismo e entretenimento se confundem

Carlos Eduardo Lins da Silva tece comentários a respeito de uma nova realidade que se insinua a partir de recente experiência vivida pelo jornal “New York Times”

 03/04/2023 - Publicado há 1 ano

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Desde que o New York Times comprou a plataforma de jogos eletrônicos woodle, o número de assinantes do jornal cresceu de forma expressiva e hoje grande parte dos novos assinantes só está lá por causa de alguns dos novos produtos oferecidos pela publicação em suas plataformas. Ou seja, na opinião do professor Carlos Eduardo Lins da Silva, essa é uma estratégia que parece ter dado muito certo. “O Times tem quase 10 milhões de assinantes e eles pretendem chegar a 15 milhões em 2027, e mais de 10% desses assinantes, cerca de um milhão de pessoas, assinam apenas os jogos do New York Times, não notícias, e isso pode ser muito bom para os números, mas para o jornalismo em si não é tanto, porque a gente está percebendo que em grande parte as pessoas estão assinando o jornal não por causa das notícias, não por causa das análises, mas por causa dos jogos e de outros produtos que não são jornalísticos.”

Ele prossegue: “Isso inclusive me fez lembrar quando a Folha de S. Paulo conseguiu o recorde histórico de número de exemplares vendidos, em meados da década de 1990, quando a edição de domingo vendia um milhão de exemplares entre assinantes e venda avulsa. Na venda avulsa ocorria um fenômeno que era bastante chocante, porque esse aumento das assinaturas se deu basicamente por causa dos brindes que a Folha oferecia, você comprava o jornal de domingo e ganhava um fascículo de uma coleção qualquer, que depois era encadernada e se transformava em livros […] o jornal teve a ilusão, naquele período, de que estava ganhando assinantes fiéis, no entanto, não era isso que estava ocorrendo, e isso está de novo acontecendo no New York Times“.

O risco que se corre, por outro lado, é de que o jornalismo acabe virando um produto acessório dentro da empresa e perca sua relevância enquanto órgão responsável por informar os leitores a respeito dos problemas da sociedade. “Eu não acho que isso esteja acontecendo, mas já são 10% dos assinantes que não querem as notícias, 90%, ou seja, nove milhões de pessoas querem notícias, mas também querem os jogos. O problema é se essa tendência que está aparecendo persistir.”


Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção  da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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