Cultura islâmica é tema do “USP Analisa”

A docente da FFLCRP-USP Francirosy Campos Barbosa explica interpretações equivocadas do Ocidente sobre o Islã

 21/12/2017 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 16/02/2018 as 13:30
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Após o 11 de setembro, o interesse e a curiosidade pela cultura islâmica cresceram no ocidente, gerando, inclusive, um grande número de conversões. Mas ainda há bastante preconceito em torno de alguns costumes, principalmente em virtude de diferenças marcantes em relação à cultura ocidental. Para discutir e esclarecer essas diferenças, o USP Analisa conversa nesta semana com a docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto Francirosy Campos Barbosa.

Ela explica que, antes de qualquer discussão sobre o tema, é importante demarcar o significado da palavra Islã. “Eu não uso ‘islamismo’ porque esse é um termo que a gente geralmente usa na academia, tanto francesa quanto inglesa, para se referir ao Islã político. Eu tenho adotado a escrita Islam porque eu uso a escrita em árabe justamente porque a tradução significa paz. Se uma religião tem na sua raiz a palavra paz, como pode pregar a guerra, a violência?”, questiona.

Segundo a docente, grupos extremistas como o Isis ou o Boko Haram seguem um Islã literalista, que não corresponde à maioria dos muçulmanos. “Alguém que lê o Alcorão em português está lendo significados do Alcorão, porque muitas palavras em árabe não existem em português. É uma adaptação às vezes até grosseira, mas é uma tentativa de interpretar o que está nos textos. Essas são aquelas pessoas que vão pegar o Alcorão ao pé da letra e achar que estão praticando a religião. Eu me lembro de uma ação do Daesh (outra denominação do Isis) queimando uma pessoa. É proibido ‘islamicamente’ queimar uma pessoa, não existe essa prática. Tudo o que eles fazem é extremamente condenável.”

Francirosy também lembrou a interpretação equivocada que a cultura ocidental faz da mulher muçulmana, principalmente em relação ao uso do véu. “A gente quer que as nossas demandas feministas sejam as mesmas das mulheres do Oriente Médio. Que as demandas de mulheres brancas sejam as mesmas das negras ou das nordestinas. Não são e não devem ser. Eu sou feminista, mas não quero dar o lugar de fala para uma mulher de lenço porque ela é oprimida. Mas essa atitude é uma forma de opressão também”, diz ela.

Por: Thais Cardoso, Assessoria de Imprensa do IEA-RP


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