Projeto quer aprofundar conhecimentos sobre envelhecimento e longevidade

Pesquisadores do CEGH-CEL e da UFMG submeteram a proposta ao Ministério da Saúde, mas ela foi recusada pelo comitê de relevância social

 12/12/2024 - Publicado há 1 mês
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Recentemente, a seção News da revista Nature publicou um artigo sobre uma pesquisa em andamento nos Estados Unidos com centenários. Como essa é uma população rara, George Murphy e um grupo de cientistas tiveram a ideia de criar um banco de células-tronco pluripotente induzidas (Induced Pluripotent Stem Cells, em inglês), ou seja, aquelas com potencial de se diferenciar em todos os tecidos humanos.

Em outra frente de trabalho, os pesquisadores estão diferenciando as iPSCs em neurônios. Eles já observaram, por exemplo, que, com a idade, os neurônios perdem algumas das qualidades de mecanismo de controle de produção de proteínas. Outros compararam as células dos centenários com organoides modelos de Alzheimer e observaram que eles possuem mais variantes genéticas associadas com a proteção da doença.

No Brasil já existe uma proposta parecida, que pretende estudar centenários de todo o País, a ser desenvolvida pelo Centro de Estudos sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) da USP em parceria com o grupo da professora Ana Caetano, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Em setembro, o CEGH-CEL submeteu o estudo ao Ministério da Saúde. O objetivo é aprofundar os conhecimentos sobre os mecanismos responsáveis pela longevidade e pelo envelhecimento saudável, focado nos centenários do Centro, que também participam de outras pesquisas do grupo. Mas, de acordo com Mayana Zatz, diretora do CEGH-CEL, o proposta não foi aprovada. “O projeto foi muito bem avaliado do ponto de vista científico, tiramos dez em todos os quesitos”, relata Mayana. “No final de novembro, fomos informados que [o projeto] não havia sido aprovado pelo comitê de relevância social”, lamenta.

A grande vantagem da pesquisa proposta é que ela será realizada com centenários da população brasileira miscigenada, enquanto a de Boston foca na população europeia. “O nosso projeto de sequenciamento do genoma de mais de mil idosos brasileiros revelou 2 milhões de variantes genéticas não presentes nos bancos genômicos internacionais”, diz Mayana. A geneticista diz, ainda, que os cientistas do CEGH-CEL vão privilegiar centenários mais pobres, que não tiveram acesso à medicina moderna, “porque esses são os que mais provavelmente são portadores de variantes genéticas protetoras”.

Do ponto de vista social, a pesquisa também irá valorizar o idoso, que é normalmente discriminado. “Espero que o Ministério da Saúde reveja a sua decisão e entenda a importância desse projeto no âmbito nacional e internacional’, finaliza.


Decodificando o DNA
A coluna Decodificando o DNA, com a professora Mayana Zatz, vai ao ar quinzenalmente, quarta-feira às 9h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

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