
Quando falamos em poluição, logo pensamos em descarte irregular de dejetos nos rios e corpos d’água ou na emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Mas um tipo de poluição que é muito presente na vida urbana, e muitas vezes é esquecido no debate, é a poluição sonora. Teddy Yanagiya, mestre em Acústica Urbana pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, explica melhor sobre a emissão, as consequências e como combater a poluição sonora.

O pesquisador relata que poluição sonora é um assunto ainda pouco pesquisado no Brasil e há poucos dados sobre as cidades brasileiras. Contudo, estudos de outros países, principalmente os europeus, mostram que os ruídos excessivos causam grande impacto para a vida na metrópole. “Um estudo publicado em 2020 mostrou que o número de pessoas impactadas por níveis de ruídos superiores a 55 decibéis é de aproximadamente 140 milhões na Europa e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, qualquer som que ultrapasse 50 decibéis já pode ser considerado nocivo”, conta Yanagiya.
A OMS já considera poluição sonora o segundo tipo mais nocivo de poluição, atrás apenas da contaminação do ar. Segundo a Agência Europeia do Meio Ambiente, sons que alteram a condição normal de audição causam por ano 12 mil mortes prematuras e 48 mil novos casos de problemas cardíacos por ano apenas no Velho Continente.
Ruído sem significado

Miguel Hypolito, doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, explica que ruído é um som que não tem significado para o nosso cérebro, mas esse som altera as condições normais da audição e pode causar uma série de situações clínicas. A poluição sonora, segundo Hypolito, traz consequências não só para os humanos mas também para os animais: “Causa aumento nos níveis de estresse, atrapalha os instintos de caça dos animais. Em humanos, os ruídos atrapalham a comunicação e podem causar problemas no nível de audição dos indivíduos, dependendo do tempo de exposição”.
As consequências mais graves dos ruídos excessivos envolvem dor de cabeça, agitação respiratória e aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, o que aumenta o risco de infartos e outros problemas cardiorrespiratórios.

Um problema de regulação
Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, explica que existe legislação para combater a emissão de sons muito altos e a poluição sonora nas metrópoles, mas na prática a fiscalização não é observada: “Existe legislação em relação a bares, restaurantes e veículos automotores, por exemplo, mas basta ficar um minuto nas Marginais de São Paulo que você percebe motocicletas fazendo ruído muito acima do permitido pela legislação”, conta Artaxo.
“A fiscalização é praticamente inexistente, e isto, obviamente, não pode acontecer porque a lei está aí para ser cumprida. A gente espera que a fiscalização sobre a questão dos ruídos urbanos seja mais efetiva, para trazer um mínimo de conforto para a população nessa área em particular”, completa Artaxo.
*Sob supervisão de Cinderela Caldeira e Paulo Capuzzo
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