Recentemente, foi divulgado o Atlas de Eficiência Energética de 2023, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética, instituto localizado no Rio de Janeiro. Segundo o professor Fernando de Lima Caneppele, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP, o relatório trouxe à tona um capítulo especial dedicado ao setor residencial, abordando métricas cruciais para entender a desigualdade no acesso e consumo de energia no Brasil.
Conforme o especialista, os índices de Gini, frequentemente utilizados para medir a desigualdade de renda, foram adaptados para avaliar a distribuição de eletricidade e energia moderna entre diferentes classes sociais. Esses índices variam de 0 a 1, em que 0 indica igualdade perfeita e 1 representa desigualdade máxima. No contexto do consumo energético, Caneppele explica que esses índices permitem identificar a concentração do uso de eletricidade proveniente de fontes modernas em segmentos específicos da população.
Desigualdades
De acordo com o docente, a análise revela uma desigualdade significativa no setor residencial brasileiro. Os dados mostram que tanto o índice de Gini para eletricidade quanto para energia moderna diminuíram entre 2005 e 2014, sinalizando uma redução na desigualdade. No entanto, a partir de 2015, essa tendência foi revertida, com os índices aumentando e indicando uma maior concentração do consumo de energia nas classes de renda mais altas.
“Essa desigualdade é atribuída a diversos fatores. As classes de renda mais baixas no Brasil tendem a depender de fontes de energia convencionais, como lenha e carvão vegetal, enquanto as classes mais altas utilizam predominantemente eletricidade e outras fontes modernas. Essa diferença no consumo está diretamente relacionada ao acesso e à capacidade de pagamento por serviços energéticos mais eficientes e menos poluentes”, detalha.
Caneppele explica que, embora políticas de universalização da eletricidade, como o Programa Luz para Todos, tenham conseguido aumentar o acesso à eletricidade, elas não eliminaram a desigualdade no consumo energético. Em comparação internacional, o consumo de energia per capita no Brasil é significativamente menor do que em países desenvolvidos, como Canadá e Estados Unidos, onde o acesso a serviços energéticos modernos é mais amplo e equitativo.
Outros países
Além disso, o professor destaca que países desenvolvidos geralmente apresentam menores índices de Gini para o consumo de energia, resultado de políticas mais eficazes na distribuição de renda e no acesso a serviços energéticos. No entanto, o Brasil não é um caso isolado, uma vez que outros países em desenvolvimento, como Colômbia e Marrocos, enfrentam desafios semelhantes, com padrões de consumo de energia residencial que refletem baixo consumo per capita e alta desigualdade.
Para enfrentar esses desafios, Caneppele informa que é fundamental implementar políticas públicas eficazes que promovam a eficiência energética e o acesso igualitário a fontes modernas de energia. Ele explica que a distribuição equitativa dos serviços de energia limpa e renovável é crucial para que o caminho rumo à transição energética transcorra de maneira menos desigual possível.
“Iniciativas como o Programa de Eficiência Energética (PE) no Brasil têm sido essenciais para reduzir o consumo de energia em residências de baixa renda, substituindo equipamentos obsoletos por alternativas mais eficientes. Contudo, mais esforços são necessários para ampliar essas iniciativas e garantir que todas as famílias tenham acesso a serviços energéticos modernos e sustentáveis”, reforça.
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