Os houthis constituem uma milícia ou um movimento político que controla a maior parte do território iemenita, inclusive a capital, e cerca de 70% da população. O Iêmen, país do Oriente Médio, foi e continua a ser palco de uma disputa entre sunitas e xiitas. Os sunitas, localizados ao sul, receberam e continuam a receber suporte dos Emirados Árabes Unidos e da Arábia Saudita. O Irã, xiita, apoiou os houthis, que impuseram ao país um regime extremamente violento e práticas abusivas, que foram e continuam a ser cometidas, inclusive aquela de permitir que as mulheres saiam às ruas somente acompanhadas dos seus respectivos maridos.
Desde o início do conflito entre Hamas e Israel, em outubro do ano passado, os houthis começaram a atacar embarcações mercantes que navegam no Mar Vermelho, local estratégico e politicamente importante, nele transita cerca de 70% do comércio mundial. Há duas entradas para o Mar Vermelho, uma ao sul, entre a Eritreia e o Iêmen, e outra ao norte, no canal do Suez. Aproveitando-se da localização privilegiada, os houthis atacaram embarcações que navegavam nas costas do Iêmen – cerca de 30 embarcações foram atacadas. Um navio foi atacado e 25 pessoas tomadas como reféns, o Galaxy Leader.
Ocorre que os houthis, a partir de então, começaram a modificar a sua estratégia de ação, eles passaram a se identificar com a causa palestina e com a causa iraniana, integram o chamado movimento de resistência, que é contrário aos Estados Unidos, a Israel e ao próprio Ocidente.
Os ataques indiscriminados às embarcações mercantes, supostamente dirigidos a Israel, causaram um problema de grande envergadura econômica, porque várias embarcações tiveram que modificar o seu trajeto, o que significou um aumento de custos de transportes, com o aumento da inflação em diversos países.
No atual contexto do Oriente Médio, os houthis assumem uma postura agressiva contra os interesses ocidentais, americanos e ingleses. É uma postura extremamente belicosa, que se insere na postura assumida pelas demais milícias iranianas no Oriente Médio e aquelas que, mesmo não sendo iranianas, estão diretamente vinculadas ao regime de Teerã, como o Hezbollah. A ideia dos houthis é adquirir maior popularidade interna e maior popularidade externa.
Os Estados Unidos e o Reino Unido já desferiram vários ataques aos houthis e ao território iemenita; o grande risco aqui é uma escalada do conflito, que poderá atingir o próprio Irã. Ao atingir as milícias vinculadas ao regime iraniano e a todos aqueles que apoiam o regime iraniano, é indiscutível que poderá haver uma escalada sem precedentes no conflito entre Israel e Hamas e uma participação direta que os Estados Unidos pretendem evitar no conflito do Oriente Médio. O futuro dirá se isto será ou não possível de ser alcançado.
Um Olhar sobre o Mundo
A coluna Um Olhar sobre o Mundo, com o professor Alberto Amaral, vai ao ar quinzenalmente, terça-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9 ) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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