O mundo está pendendo para o autoritarismo e essa tendência é o foco do comentário desta coluna de Guilherme Wisnik, que procura entender um fenômeno que atinge não apenas os Estados Unidos como vários países da Europa. Ele identifica como um dos motivos a invasão da política pela religião. “O Mike Davis já explicou isso muito bem no livro Planeta Favela, mostrando como o crescimento das favelas no mundo corresponde a esse movimento, uma certa desilusão do mundo político, quando a favela é uma espécie de lata de lixo da história, onde os deserdados do processo histórico são jogados quase que sem nenhuma perspectiva de emancipação e encontram na religião essa tábua de salvação, o que a gente percebe é um processo de desagregação geral, onde, de alguma maneira, a religião vem a ocupar o lugar que antes era da luta de classes […] politicamente, o centro perde espaço e as formas gerais de acordo e conciliação se desestruturam diante disso que vem se chamando há algum tempo de brasilianização do mundo, que é a ‘terceiromundização’ do primeiro mundo, os bolsões de pobreza, de violência, na Europa, nos Estados Unidos, de maneira a apontar rupturas muito profundas e um ressentimento muito grande que vai surgindo”.
Para Wisnik, esse ressentimento crescente, acompanhado de autoritarismo, responde, de certa maneira, a uma dinâmica destrutiva do capitalismo tardio, “que tem a ver com a substituição do trabalho pela automação, cada vez mais haverá menos emprego no mundo, ninguém tem dúvida sobre isso, e há uma casta que controla a tecnologia e o poder que daí decorre, que se opõe, se desencompatibiliza de uma grande maioria, que vai ficando alienada e refém de tudo isso, então que cresçam formas de ressentimento no mundo é mais ou menos lógico diante dessa questão. Os velhos acordos representados pelo centro, pela social-democracia, já não terão mais lugar nesse cenário cada vez mais destrutivo […] não por acaso, diante de uma desilusão total com as formas políticas tal como elas foram conhecidas até hoje, cresça a influência radicalmente oposta das cosmovisões ameríndias, que se baseiam em uma forma radical de coletividade que se opõe à febre da mercadoria, quer dizer, num cenário como esse, o que resta a nós são opções radicais e não mais na crença de um pacto pelo meio, que embora funcione um pouco, como a política atual do governo Lula, é uma espécie de tampão para um ressentimento e um autoritarismo que tendem a crescer”.
Espaço em Obra
A coluna Espaço em Obra, com o professor Guilherme Wisnik, vai ao ar quinzenalmente quinta-feira às 8h, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção da Rádio USP, Jornal da USP e TV USP.
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