“Se alguém queria uma definição de apocalipse digital, parece que esse é pelo menos o clima na mídia brasileira, mas eu diria até internacional, junto com a guerra na Ucrânia, junto com os conflitos por identidades, territórios e riquezas naturais, um verdadeiro apocalipse digital está acontecendo, muita gente prevê e a gente até já viu uma série na Netflix, um black mirror, um espelho negro, Alice através de um espelho, que é uma tragédia.” Assim o professor Gilson Schwartz dá início à sua coluna de hoje (8), na qual prossegue da seguinte forma: “Essa é uma questão que não é apenas retórica, mas ela é substantivamente filosófica, embora muito subjetiva, mas que diz respeito claro à economia e à vida digital, até onde vai o digital e, depois que ele ultrapassa esse limite, existe algum limite ou será que esse limite é a destruição do próprio planeta?”, indaga o colunista, que passa a seguir a discutir o pensamento e as projeções do filósofo Günther Anders, primo de outro grande pensador contemporâneo, Walter Benjamin, ambos, segundo Schwartz, muito preocupados com as questões do limite do ser humano e do planeta Terra.
“Anders viveu para testemunhar essa onda gigantesca, transformadora, chamada a revolução digital e colocou claramente o seu prognóstico: do jeito que as coisas vão, isso tem um único limite, e ele será alcançado, irreversivelmente, que é a destruição do planeta Terra. Claro que no caminho muita coisa vai ser destruída, a começar dos direitos que eram definidos para um contexto analógico e que agora alcançam toda uma verdadeira fauna de identidades.” Schwartz diz que a obra de Anders vem recebendo muita atenção e encerra sua coluna com uma questão: é um apocalipse ou é a exaustão de um modelo muito peculiar de dominação que está em crise, tanto no analógico quanto no digital?